Movimentos sociais convocam ato por justiça para Genivaldo e a Vila Cruzeiro nesta 4ª


30/05/2022 - Luciana Araujo
Assassinato com métodos nazistas provocado por agentes da Polícia Rodoviária Federal em Sergipe e chacina no Rio de Janeiro geram repúdio e indignação; diretoria do Sintrajud convida categoria a fortalecer a manifestação contra a barbárie.

A brutalidade e a letalidade policial no Brasil tornam-se cada dia mais criminosas. Nos dois anos do assassinato do afro-americano George Floyd, que ficou 9 minutos com um policial estadunidense sobre seu pescoço até parar de respirar, o sergipano Genivaldo de Jesus Santos foi morto também por asfixia em uma “câmara de gás” improvisada numa viatura da Polícia Rodoviária Federal, na cidade de Umbaúba (Sergipe). Era manhã de 25 de maio e um dia antes agentes PRF e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) tinham protagonizado a segunda maior chacina da história do estado do Rio de Janeiro.

A violência desabrida causou repúdio e indignação e gerou mais um escândalo internacional para o governo de Jair Bolsonaro envolvendo violações de direitos humanos. O Escritório de Direitos Humanos da ONU para a América do Sul fez cobrança formal às autoridades brasileiras de apuração célere do crime. Movimentos sociais preparam ações judiciais e já ocorreram atos em São Paulo, em frente à sede da PRF, e em Brasília, na sexta, 27. A diretoria do Sintrajud manifesta também seu repúdio às ações criminosas de agentes do Estado e convida a categoria a participar da manifestação marcada para a próxima quarta-feira, no vão livre do Masp (Avenida Paulista), às 18 horas.

Justiça para Genivaldo

As imagens do assassinato com métodos nazistas de um homem neurodivergente de 38 anos revoltaram o país e repercutiram nos principais veículos noticiosos internacionais. Ao menos The Guardian, Washington Post, Le Parisien, La Nación, Al Jazeera e El País noticiaram o fato.

Nesta quarta-feira, quando se completam sete dias do assassinato, organizações do movimento negro, movimentos sociais e partidos convocam o ato que vai exigir justiça para Genivaldo, responsabilização dos executores — os policiais rodoviários federais Kleber Nascimento Freitas, Paulo Rodolpho Lima Nascimento e William de Barros Noia —, que foram apenas afastados das atividades, e denunciar a responsabilidade do Estado brasileiro.

Genivaldo teria, na versão dos policiais que o mataram da forma mais abjeta, sido abordado por dirigir moto sem capacete. Um sobrinho que presenciou o crime afirmou que avisou aos policiais, no início da abordagem, que o homem sofria de esquizofrenia. Antes de ser asfixiado e ter as pernas prensadas com a porta traseira da viatura que foi usada como câmara de gás pimenta e lacrimogêneo, a vítima tinha sido algemada e tido as pernas amarradas pelos policiais. Mesmo sendo gravados por populares, os PRF em nenhum momento se constrangeram.

O presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) — que advoga a tortura,  mantém referência entre policiais e já foi flagrado por diversas vezes pilotando sem capacete — não havia se pronunciado sobre o assassinato até a publicação deste texto.

Foi dando aula numa escola onde é ensinado o método que assassinou Genivaldo que o deputado filho 02 do presidente, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), afirmou que bastariam um cabo e um soldado para fechar o Supremo Tribunal Federal. No mesmo ano, quando ainda era candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro gravou propaganda do curso preparatório para concursos.

Justiça para a Vila Cruzeiro

O ato desta quarta-feira também vai cobrar justiça para as pelo menos 23 vítimas da chacina policial cometida numa comunidade suburbana da capital fluminense. A ação na Vila Cruzeiro tornou-se a segunda maior chacina da história Rio de Janeiro, perdendo apenas para a do Jacarezinho, outra favela carioca, ocorrida em 6 de maio de 2021.

Um ano depois, as investigações sobre 24 das 28 execuções realizadas por agentes do Estado no Jacarezinho foram arquivadas sem solução. Houve apenas quatro denúncias formalizadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. E, no dia 11 deste mês, policiais destruíram um memorial erguido em homenagem às vidas ceifadas na chacina.

Além de criminosas pelas práticas de execução sumária e violações contra populações que vivem em áreas pobres das grandes cidades, operações como a da Vila Cruzeiro e do Jacarezinho ocorrem em afronta à decisão do STF que proibiu ações do tipo durante a pandemia. No último dia 27 de maio, o Supremo também determinou que o estado do Rio de Janeiro deve ouvir o Ministério Público e a Defensoria, a Ordem dos Advogados do Brasil e realizar audiência pública para debater o plano estadual de redução de letalidade decorrente de intervenção policial (leia aqui).

Após o massacre na Vila Cruzeiro, o governador Cláudio Castro (PL-RJ) anunciou que as forças policiais fluminenses deverão usar câmeras nos uniformes. O artefato foi importante para a condenação do assassino de George Floyd, o ex-policial Derek Chauvin.

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