Fórum de trabalhadores do setor público prepara greve nacional e apoia petroleiros


11/02/2020 - helio batista

Fotos: Jesus Carlos

 

O Fórum dos Trabalhadores do Setor Público no Estado de São Paulo aprovou em plenária no último sábado, 8 de fevereiro, a participação na greve nacional de 18 de março e no ato unificado do funcionalismo, marcado para as 16 horas desse dia no vão livre do Masp, na Avenida Paulista.

A mobilização está sendo convocada pelas centrais sindicais para combater os ataques aos direitos dos trabalhadores e ao serviço público previstos no Plano ‘Mais Brasil’ e na reforma administrativa proposta pelo ministro da Economia, Paulo Guedes e o governo Bolsonaro. Na véspera da plenária, realizada no auditório do Sintrajud, o ministro havia chamado os servidores públicos de “parasitas”, numa declaração que causou forte reação e deu ainda mais combustível para a greve nacional.

Também foi aprovada uma moção de apoio às greves dos petroleiros, dos professores da rede pública de Belo Horizonte e dos trabalhadores da Dataprev, da Casa da Moeda e dos Correios.

Em relação aos petroleiros, os servidores deliberaram ainda pela participação no ato que os trabalhadores realizaram na manhã desta segunda-feira, 10 de fevereiro, em frente à Refinaria de Capuava, em Mauá, e na panfletagem marcada para as 17h30 desta terça-feira no metrô Anhangabaú.

Defesa da estabilidade

Servidores de diversas categorias (como metroviários, trabalhadores do INSS e do IBGE e professores da rede pública), ligados às 14 entidades que compõem o Fórum, concordaram que a greve dos petroleiros é decisiva para a mobilização dos demais trabalhadores, particularmente do setor público, em meio ao avanço do desmonte do Estado e da retirada de direitos promovidos pelo governo Bolsonaro.

José Dalmo Duarte

“A greve dos petroleiros nesse momento é a mãe de todas as batalhas, porque vai decidir o futuro das nossas lutas”, avaliou José Dalmo Duarte, servidor do TRF-3 e diretor do Sintrajud. Ele observou que a greve é a mais forte já realizada pelos petroleiros nos últimos anos, tendo começado por causa de demissões na fábrica de fertilizantes Fafen, mas motivada também pelo descumprimento do acordo coletivo por parte da Petrobras.

A plenária aprovou também uma moção de repúdio à decisão do ministro do TST Ives Gandra Martins Filho, que concedeu liminar favorável à Petrobras e determinou a manutenção de 90% dos efetivos operacionais durante a paralisação, sob pena de pesadas multas para entidades sindicais dos petroleiros.

Para a luta contra a ‘reforma’ administrativa e os demais ataques contidos nas propostas de Paulo Guedes, os servidores definiram que a defesa da estabilidade do funcionalismo público tenha por base a proteção dos direitos da população contra a interferência política.

“A estabilidade é um direito da classe trabalhadora, um instrumento para se ter serviços públicos prestados dentro da lei”, disse Marcos Pereira, servidor do TRE e diretor de base do Sintrajud. “Se a lista de espera pelos benefícios do INSS estivesse a cargo do apadrinhado de um prefeito ou de um empresário, a lista não seria obedecida.”

“Desmanche do Estado”

Plínio de Arruda Sampaio Jr.

O professor aposentado do Instituto de Economia da Unicamp Plínio de Arruda Sampaio Júnior falou aos servidores sobre os desafios colocados à classe trabalhadora e à esquerda no atual estágio da crise global do capitalismo.

Plínio observou que no contexto dessa crise o Brasil vive desde 2004 uma estagnação econômica, marcada pela desindustrialização. No plano político, o quadro é de “crise terminal da Nova República”.

Ele afirmou que a resposta da burguesia a tal cenário tem sido o “liberalismo autoritário”, uma combinação de violência política e soluções de mercado para a economia. “O projeto é negar qualquer cidadania aos trabalhadores”, disse o professor. “A política de Bolsonaro é de desmanche do Estado nacional, além de desarticular tudo o que existe de civilizado na política brasileira”, declarou.

“Povo na rua”

Plínio destacou que os trabalhadores resistem a esse projeto, mas que carecem de “uma direção, um norte”. Nesse ponto ele aproveitou para criticar o papel do PT e da CUT, causando intenso debate na plenária sobre a possibilidade e a conveniência de se contar com essas forças políticas no embate com o governo. Para o professor, o PT não quer derrubar o governo Bolsonaro porque pretende enfrentá-lo nas eleições de 2022.

“Se ficarmos abraçados com o PT, morreremos com o PT”, sentenciou Plínio, defendendo que a esquerda procure superar o partido, sem negá-lo. “O que resolve é o povo na rua”, concluiu.

Por fim, o professor apresentou quatro recomendações para a esquerda: 1) politizar o debate, 2) conquistar a confiança da base, 3) ter programa  e pensamento estratégico e 4) ter independência de classe.

Henrique Sales Costa

Inês Leal de Castro

“É preciso persistir, dialogar com o trabalhador mais precarizado e ter solidariedade de classe”, avaliou o diretor do Sintrajud Henrique Sales Costa, servidor do TRT. Para Inês Leal de Castro, também diretora do Sindicato e servidora do mesmo Tribunal, a classe trabalhadora vem mostrando que não aceita os sacrifícios impostos pela burguesia. “O Chile e a França são revoluções em curso”, afirmou, referindo-se aos protestos que ocorrem em ambos os países.

 

Reunião na CSP e ato no INSS

A fim de aprofundar esse debate sobre a mobilização dos trabalhadores, a CSP-Conlutas realiza sua primeira reunião da Coordenação Nacional neste ano a partir da próxima sexta-feira, 14 de fevereiro, às 9 horas. O encontro segue até domingo, 16, na quadra do Sindicato dos Metroviários.

No dia 14, também às 9 horas, trabalhadores do INSS fazem um ato em defesa do serviço público em frente à agência do órgão na rua Coronel Xavier de Toledo, no centro da cidade.

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