Sob intensa chuva há uma semana, a população do Rio Grande do Sul passa por situação de desespero. Já são 90 mortes confirmadas, ao menos 132 desaparecidos e milhares de desabrigados em pelo menos 388 dos 497 municípios gaúchos, conforme dados da Defesa Civil nesta segunda, 6 de maio. A previsão de fortes chuvas e ventos intensos segue nos próximos dias.
Desde o último dia 29, um verdadeiro caos revela a negligência e responsabilidade de governos com a crise climática, resultado da ação humana e do desmatamento intensivo, assoreamento de rios, impermeabilização das cidades e falhas no saneamento básico geradas pela privatização. A Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento), leiloada em dezembro de 2022, anunciou neste domingo que ao menos 845 mil móveis em 53 cidades do Rio Grande estão sem fornecimento de água. São bairros inundados, casas e pontes destruídas, estradas interditadas, corte no abastecimento de água e luz, risco de desabastecimento de combustível. Milhares com fome.
Entendendo que o momento é de solidariedade de classe, a CSP-Conlutas, Central à qual o Sintrajud é filiado, se soma à campanha de coleta de doações os atingidos e lança uma arrecadação financeira para ajudar as famílias afetadas (confira aqui a nota da Central). Os donativos serão encaminhadas para a direção estadual da Central para financiar a assistência às pessoas em vulnerabilidade social. O Sintrajud reforça a importância da ação e pede aos colegas que contribuam com o movimento de solidariedade.
As contribuições devem ser feitas via PIX, através da chave financeiro@cspconlutas.org.br, ou via depósito/transferência para Banco do Brasil, agência 3520-3, conta corrente 26261-7, CNPJ 07.887.926/0013-23 – CSP-Conlutas Central Sindical e Popular.
A Fenajufe e os sindicatos da categoria na região Sul do país também estão realizando campanhas em parceria com outros sindicatos e movimentos sociais (leia aqui).
Quando da conclusão deste texto havia, ao menos 149,3 mil pessoas fora de casa, sendo 20 mil em abrigos e 129,2 mil desalojadas (nas casas de familiares ou amigos).
Tragédia anunciada
Em menos de um ano, o estado registrou ao menos quatro temporais, sendo o último agora em abril de 2024. Em cada um desses episódios ficou nítida a negligência do governo Eduardo Leite (PSDB) que, mesmo diante de tantas evidências climáticas, não instituiu políticas preventivas e medidas para ação eficaz em situações de emergência. No ano passado, as enchentes deixaram 81 mortes, recorde ultrapassado na semana de 29 de abril a 5 de maio.
As fortes chuvas que caem sobre o Rio Grande do Sul são resultado de uma conjunção de fatores meteorológicos. Pesquisadores da área, como ambientalistas e climatologistas, afirmam que o pano de fundo para essa situação é a crise climática em curso no planeta, responsável por eventos cada vez mais extremos, de temporais a secas. Todo esse cenário é de responsabilidade direta ou indiretamente da ação humana e do sistema capitalista.
O Código Ambiental do Rio Grande do Sul, que levou nove anos para ser construído — entre debates, audiências e aperfeiçoamentos — foi atropelado no primeiro ano do governo Leite (PSDB), em 2019. Foram alterados 480 pontos da lei ambiental do estado, e o resultado é considerado por ambientalistas um retrocesso de 40 anos. Grandes catástrofes já vinham sendo previstas, mas o governo estadual retirou apoio financeiro a estudos e centros de pesquisas, manutenção de ecossistemas, racionalização do aproveitamento da água e energia, entre outras áreas.
A CSP-Conlutas e entidades filiadas, exigem dos governos municipais, estadual e federal a imediata assistência aos atingidos, o restabelecimento de serviços essenciais, a reconstrução das moradias e locais destruídos, entre outras medidas de curto, médio e longo. Para a Central, os governos precisam enfrentar a crise climática, o que implica combater de imediato os interesses do agronegócio, da especulação imobiliária e as privatizações.
* Texto atualizado em 7/05/2024 às 15h25