Atos contra PEC 32 denunciam ‘toma lá, dá cá’ de Bolsonaro, Guedes e Lira


24/11/2021 - Helcio Duarte Filho
Sintrajud participou dos atos que distribuíram cédula do 'toma lá, dá cá' com face de Guedes um dia após ministro admitir offshore 'para fugir de impostos'.

Fotos: Valcir Araújo.

Um dia após o banqueiro e empresário que comanda o Ministério da Economia do Brasil, Paulo Guedes, admitir que remeteu a fortuna “da família” para um paraíso fiscal no exterior para fugir dos impostos, a campanha ‘Contra a PEC 32’ realizou, nesta quarta-feira (24), manifestação na qual ‘encenou’ a corrupção e o ‘toma-lá-dá-cá’ instalados em Brasília.

Servidoras e servidores denunciaram o que identificam como um esquema corrupto, mesmo que disfarçado com uma roupagem de legalidade, usado para compra de votos e apoio ao governo, que permeia as principais decisões políticas e econômicas que envolvem o governo Bolsonaro e o Congresso Nacional.

“Não podemos aceitar tamanha retirada de direitos. Esse Congresso tem sido comprado para atender interesses de grandes empresários e banqueiros, enquanto a população está cada vez mais endividada por conta dos baixos salários e da carestia”, disse a servidora Luciana Carneiro, da direção do Sintrajud, que participou do ato junto com o conjunto da delegação do Sintrajud. Ela mencionou o crescimento do desemprego, da pobreza e da fome, enquanto poucos enriquecem cada vez mais. Ressaltou, ainda, que essa política adotada pelo governo também mira o Judiciário, com o desmonte das estruturas que permitem o acesso gratuito da população à Justiça.

Com uma série de representações e performances, criticaram o esquema das emendas parlamentares do relator e do orçamento secreto – moeda de troca para compra de votos favoráveis aos projetos do governo, hoje paralisada por decisão do Supremo Tribunal Federal.

É também esse esquema de compra de apoio que, na visão dos manifestantes, faz com que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), mantenha engavetados mais de 130 pedidos de abertura de processos de impedimento contra o presidente da República, Jair Bolsonaro.

Ministro da ‘reforma’ investe em paraíso fiscal

Foi igualmente sob esse controle nada republicano do Congresso que o ministro da Economia, Paulo Guedes, esteve, na véspera, na Câmara para tentar explicar por que abriu uma empresa offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, paraíso fiscal segundo a própria Receita Federal. O ministro falou numa sessão conjunta das comissões do Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) e de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC).

Guedes disse que optou por enviar parte de sua fortuna para um paraíso fiscal para fugir do fisco dos Estados Unidos. “Por razões sucessórias, se comprar ações de empresas, se tiver uma conta em nome da pessoa física, se você falecer, 46%, 47% é expropriado pelo governo americano. Tendo uma conta em pessoa física, todo seu trabalho de vida, em vez de deixar para herdeiros, vira imposto sobre herança”, disse o ministro aos parlamentares.

Paulo Guedes também minimizou qualquer conflito de interesse, disse não saber quanto lucrou com a alta do dólar e que não tem responsabilidade sobre a crise cambial — chegou a alegar que a desvalorização do real não decorre de suas ações, como se nem ministro fosse.

O escândalo envolvendo a empresa aberta pelo ministro da Economia do Brasil num paraíso fiscal só se tornou público a partir de dados divulgados pelo projeto Pandora Papers, do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. Guedes jamais revelara antes publicamente que preferia manter seus investimentos fora do país e protegido de sua própria política econômica. O ministro é também quem assina a ‘reforma’ administrativa, apontada pelos críticos como uma tentativa de destruição dos serviços públicos.

Esse perfil do banqueiro Guedes foi exposto nas manifestações simbólicas que marcaram a campanha Contra a PEC 32 nos atos pela manhã e à tarde. Servidores e servidoras ”distribuíram cédulas’ que representavam o dinheiro usado para comprar apoio e votos. Estampavam uma das faces das cédulas os rostos de Bolsonaro, Lira e de Paulo Guedes.

O servidor David Landau, da direção do Sitraemg, disse que eles mentem e corrompem quando querem acabar com direitos da população. “É necessário que a gente esteja aqui todo dia incomodando os representantes do poder. Estamos mostrando que o movimento sindical tem força sim, porque se não tivesse eles já teriam aprovado a PEC 32. Muitos diziam que a reforma administrativa era favas contadas. Hoje vemos claramente a possibilidade de derrotar definitivamente esta PEC”, disse, para, em seguida, ressaltar que ainda é cedo para relaxar. “Não podemos esmorecer, os interesses deles de aprovar esta PEC ainda estão vivos, os interesses deles de acabar com os poucos direitos que a população tem ainda estão vivos”, afirmou.

Em vídeo, o servidor Fabiano dos Santos, da coordenação da federação nacional (Fenajufe) e do Sintrajud, falou sobre os atos e disse que a mobilização vai continuar até o final do ano. “Tivemos uma atividade simbólica, com várias cédulas de dólar manchados de sangue e com laranjitos, com os rostos de Bolsonaro, do Guedes e do Lira, denunciando o que está por trás da PEC 32, que quer acabar com os serviços públicos e instalar a rachadinha, ao acabar com o concurso público e com a estabilidade dos servidores”, disse. Nesta quinta-feira, o ato será no Senado Federal, quando os servidores vão defender a rejeição da PEC 23, denominada ‘PEC do Calote’.

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