Atendendo à convocação nacional, dezenas de entidades e sindicatos participaram de atos por todo o país em defesa da competência da Justiça do Trabalho. Os manifestantes apresentaram à população os riscos de decisões que diminuem a atribuição do órgão e pediram, uma vez mais, que a Justiça considere as especificidades das relações de trabalho, inclusive para reconhecer a presença de vínculo de emprego e de direitos trabalhistas.
O Sintrajud, que esteve presente na mobilização, salientou que o papel do sindicato é defender o trabalhador, razão de ser da Justiça do Trabalho. Na oportunidade, destacou o direito de greve como uma das conquistas que precisa ser resguardada pela JT; além do direito à saúde, pauta de luta da categoria no TRT-2 que segue forte também em defesa da isonomia com os magistrados nos critérios de custeio à assistência médica.
Para as entidades, o esvaziamento da autoridade da JT propicia quadro de insegurança jurídica e profundas consequências na estabilidade do mundo do trabalho, na arrecadação previdenciária e fiscal e principalmente forte impacto nos direitos sociais estabelecidos pela Constituição de 1988.
Os manifestantes queixam-se que, embora o artigo 114 da Constituição tenha atribuído à Justiça do Trabalho a competência para julgar os conflitos decorrentes das relações de trabalho, a Corte vem impondo progressiva limitação à referida competência desse ramo do Judiciário.
A dirigente do Sintrajud, Camila Oliveira, salientou que o papel do sindicato é defender o trabalhador. “A nossa luta é para que todo trabalhador tenha resguardados direitos fundamentais, conquistados com muita lutas, inclusive de greve”. Lembrou das ações paredistas em defesa da saúde do servidor em curso na Trabalhista, e da carreira dos servidores — trabalhadores que fazem a justiça funcionar.
Os servidores, defende o Sindicato, também são trabalhadores, fazem com que tudo funcione, dos atendimentos à parte administrativa; o que abrange os serviços prestados ao trabalhador e ao empregador. “Portanto, defender a classe trabalhadora é defender a razão de existência da Justiça do Trabalho”, disse a também diretora, Lynira Sardinha, que participou da atividade em Santos. Salientou ainda a importância da revogação da “reforma” trabalhista.
“Reforma” trabalhista e os ataques aos trabalhadores e à JT
No carro de som, em frente ao Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, representantes de diversas entidades fizeram falas que reforçam os conflitos entre decisões da Corte e da Justiça do Trabalho, que aumentaram depois da “reforma” trabalhista de 2017, aprovada no governo do então presidente Temer; que com o discurso de gerar mais empregos contribuiu para o aumento da precarização das contratações e condições de trabalho.
Como parte da desestruturação do mundo do trabalho, no mesmo período, foi aprovada lei que ampliava as modalidades de terceirização, derrubando precedente do STF que limitava a medida a atividades-meio das empresas. Outra crítica é que o órgão costuma apresentar visões diferentes em relação ao trabalho por meio de aplicativos, sem reconhecer vínculo empregatício. Assunto que foi pautado pelos trabalhadores em ato, ocasião em que pediram o reconhecimento de vínculo e a garantia de direitos.
A presidente da OAB-São Paulo, Patrícia Vanzolini, evidenciou que “não há como sujeitar o Direito do Trabalho a abstrações e generalidades como estão tentando fazer com o órgão especializado; isso seria caminhar na contramão do que se decide há décadas acerca da competência da JT”.
Avaliação do ato
Com a chuva, os manifestantes se deslocaram para o átrio do Fórum Trabalhista, de onde a mobilização seguiu com as manifestações dos dirigentes, que fizeram falas ao microfone. O Sintrajud, que esteve na organização, parabenizou a participação dos trabalhadores dos distintos ramos e organizações. “Só com a luta é que obteremos conquistas”, disse a diretora do Sindicato, Rosana Nanartonis.
Os manifestantes afirmaram não recuar da luta e ir às ruas nos próximos meses, se necessário for, em defesa da competência da JT.
A Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo, à frente da movimentação, avaliou de forma positiva o ato. “Conseguimos hoje dialogar com a população sobre os riscos da perda da competência da Justiça do Trabalho e queremos que nas próximas ações o número de participantes aumente”, ponderou Afonso Paciléo Neto, defendendo a importância inquestionável do papel da JT, reafirmando que “não podemos aceitar que ações trabalhistas sejam encaminhadas à justiça comum”.
Ao final, balões brancos foram soltos com a frase “em defesa da competência da Justiça do Trabalho”, marcando a data de luta.
Em São Paulo, a mobilização ocorreu com a participação dos servidores no Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, na Barra Funda (zona oeste) e na Baixada Santista, em Santos, nessa quarta, 28 de fevereiro. O ato ocorreu em 34 cidades do país, incluindo 24 capitais.
Entidades que participaram do ato desta quarta em São Paulo
Estiveram presentes na mobilização em defesa da JT representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), Associação Nacional dos Procuradores e Procuradoras do Trabalho (ANPT-SP), Ministério Público do Trabalho (MPT-SP), Academia Paulista de Direito do Trabalho (APDT), Associação dos Advogados Trabalhistas (AATSP), Associação dos Advogados (AASP), Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 2ª e da 15º Região (AMATRA), Sociedade Assistencial dos Servidores Públicos do Estados de SP (SASP), Núcleo de Pesquisa e Extensão “O trabalho além do direito do trabalho” (NTADT-USP), Grupo de Pesquisa Trabalho e Capital, ligado ao Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (GPTC), Movimento em Defesa da Justiça do Trabalho (MDJT), Sindicatos dos Metroviários, Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Moto-Taxistas (Sindimoto-SP) e o Sindicato dos Trabalhadores com Aplicativos de Transporte Terrestre de SP.
Em Santos, além do Sintrajud, algumas das entidades que participaram do dia de luta foram: Ordem dos Advogados do Brasil e Subseções Regionais (OABs), Associação dos Advogados Trabalhistas (AATSP) e a Frente Sindical Classista.