Sintrajud manifesta repúdio ao assassinato de João Alberto no Carrefour


24/11/2020 - Shuellen Peixoto
Homem foi espancado e morto em supermercado em Porto Alegre na noite anterior ao Dia da Consciência Negra; ao longo do fim de semana aconteceram protestos em todo o país.

Marcha da Consciência Negra em São Paulo – Foto: Joca Duarte

A diretoria do Sintrajud manifestou repúdio ao assassinato de João Alberto Silveira Freitas, homem negro espancado até a morte no Carrefour em Porto Alegre. Beto Freitas, como era conhecido, foi morto na quinta-feira, 19 de novembro, por seguranças contratados pela rede de supermercado. O assassinato foi filmado e causou indignação: foram cerca de dois minutos de espancamento e mais 4 minutos de asfixia, que levou mais um homem negro à morte.

Na opinião da diretoria do Sindicato, o assassinato de Beto evidencia o racismo estrutural no Brasil. Além de ainda manter os menores salários no mercado de trabalho, o povo negro é o que mais morre.

Foto: Joca Duarte

De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a quantidade de mortes causadas pela violência cresceu 33% entre pessoas negras no período de 2007 a 2017. Entre brancos, o aumento foi de 3,3%. Em 2019, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 75 foram negras. A taxa de homicídios entre as pessoas pretas e pardas é de 43,1 por 100 mil habitantes, contra 16 entre os brancos. Além disso, 75,4% das pessoas mortas em intervenções policiais entre 2017 e 2018 eram negras.

Racismo institucional

“Infelizmente, o racismo ainda é presente, só quem nunca sentiu na pele ou não percebeu que alguém atravessou a rua com medo de você, tem coragem de falar que ‘não existe racismo no Brasil’, como fez o senhor Hamilton Mourão”, afirmou a diretora Luciana Carneiro, diretora do Sintrajud e servidora do TRF, referindo-se à declaração dada pelo vice-presidente da República na semana passada, logo após o crime ganhar o noticiário. “A mesma polícia que significa segurança em Alphaville, significa medo nas periferias”, destacou Luciana.

A servidora também repudiou as falas do presidente Jair Bolsonaro, que não prestou solidariedade aos familiares de Beto. Bolsonaro também criticou as manifestações, afirmando que seriam uma tentativa de repetir os atos que aconteceram em maio e junho deste ano nos Estados Unidos em protesto contra a morte de George Floyd, homem negro que morreu asfixiado por policiais em Minneapolis. “As declarações do presidente são mais uma tentativa de fingir que neste país há democracia racial e se omitir diante dos altos índices de violência contra a população negra”, concluiu Luciana.

Em julho, o Sintrajud realizou uma live sobre racismo institucional, com a participação do jornalista Dennis de Oliveira, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP e membro do conselho consultivo do Instituto Luiz Gama, além dos servidores do TRT-2 Fernanda de Oliveira e Filipe Gioielli Mafalda e da diretora Luciana Carneiro.

“Uma das armas mais poderosas do racismo é o olhar, que diz que você não deve estar lá”, disse Fernanda, durante a live. “O olhar que muitos de nós já vivenciamos e é só um olhar, que não temos como provar, mas te paralisa, como as vezes que o segurança te pergunta aonde você vai, mesmo você estando com o crachá”, afirmou.

“Já me falaram que tenho que cortar o cabelo ou que deveria existir uma norma para impedir um cabelo como o meu. São alguns dos comentários racistas que já ouvi”, declarou Filipe.

Atos em todo o país

O laudo preliminar do Instituto-Geral de Perícias de Porto Alegre aponta asfixia como a causa mais provável da morte e os seguranças foram presos em flagrante por homicídio qualificado. Beto não foi o primeiro homem negro a ser assassinado em público e dentro de um supermercado: no ano passado, Pedro Henrique Gonzaga, um jovem negro de 19 anos, foi morto asfixiado por um segurança do supermercado Extra na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. O agressor foi indiciado por homicídio doloso.

Após o assassinato de Beto, aconteceram atos em todo o país. Manifestantes gritaram “vidas negras importam” para lembrar da luta para que esse homicídio não vire apenas uma estatística de impunidade.  Os manifestantes pedem também o boicote à rede de supermercados Carrefour.

Ainda na noite de sexta-feira, 20 de novembro, o Carrefour publicou uma nota em que apenas lamenta o assassinato e declara o rompimento de contrato com a empresa de segurança, isentando-se do ato de violência e sem anunciar medidas para impedir novos casos de violência racista em suas dependências.

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