Luta por direitos e contra privatizações mostrou força da unidade no país


04/10/2023 - Luciana Araujo
Ato do Sintrajud em frente à JF/Pedro Lessa cobrou antecipação da última parcela do reajuste, arquivamento da 'reforma' administrativa (PEC 32), derrubada dos vetos ao PL 2342 e reajuste do auxílio-saúde, além de denunciar a ameaça das privatizações.

A diretora Ana Luiza fala no ato enquanto um cidadão vota no plebiscito contra as privatizações (Arquivo Sintrajud).

Mesmo atacada pelo Poder Judiciário Federal e parte da grande mídia, a greve dos trabalhadores do Metrô, CPTM e Sabesp se manteve em nove linhas metroviárias e ferroviárias com forte apoio popular. Pesquisa divulgada pelo UOL apontou que 84% dos paulistanos se manifestaram favoravelmente à paralisação.

Confira imagens da mobilização

Ao longo do dia, em entrevistas a veículos de mídia, a população usuária responsabilizou diretamente o governador do Estado pelas dificuldades no transporte, ao vivo, em todas as emissoras de TV.

Quando a linha privatizada de trens (9 – Esmeralda) entrou em pane mais uma vez, por volta da hora do almoço, a ameaça representada pelo projeto do governador de vender as três empresas essenciais do estado ficou mais evidente. As linhas 8 e 9, operadas há um ano pela Via Mobilidade, têm média de uma falha grave – paralisação de funcionamento ou acidente – a cada três dias. O Ministério Público do Estado ajuizou ação civil pública contra a empresa na qual discutia-se inclusive a reestatização das linhas. No último dia 15 de agosto a empresa aceitou pagar uma indenização de R$ 150 milhões ao estado, em termo de ajustamento de conduta que ainda está em análise pelo Conselho Superior do Ministério Público.

O diretor Maurício Rezzani (de azul) panfleta durante o ato.

Categoria judiciária no apoio à greve

O Sintrajud demonstrou o apoio à greve, aprovado pela categoria judiciária em assembleias, com um ato em frente ao Fórum Pedro Lessa da Justiça Federal. O protesto também cobrou as demandas dos servidores e servidoras do Poder Judiciário da União à cúpula do Poder e ao Congresso Nacional. A antecipação da última parcela do reajuste conquistado com a Lei 14.523/2023, o arquivamento da ‘reforma’ administrativa (PEC 32), a derrubada dos vetos do governo Lula/Alckmin ao PL 2342 e o reajuste do auxílio-saúde estiveram na pauta do ato.

Dirigentes do Sintrajud e do sindicato dos previdenciários (Sinsprev) também denunciaram a ameaça das privatizações para o conjunto da classe trabalhadora. “O transporte vai ficar mais caro e, especialmente nos lugares mais longe, o abastecimento de água vai ficar mais caro”, frisou Camila Oliveira, da diretoria do Sindicato e servidora do TRT-2.

Ana Luiza Figueiredo, dirigente e aposentada do TRF-3, reforçou que “mesmo com a suspensão do expediente presencial nos tribunais, pela força da greve, a nossa luta é importante para cobrar nossos direitos e defender o transporte e o saneamento públicos”.

Cléber Borges Aguiar.

Também servidor do TRF-3, Cléber Borges Aguiar lembrou que “o Estado investiu por anos na estruturação dos sistemas públicos de transporte e saneamento e agora o capital quer só lucrar”, disse.

Também falaram durante o protesto os dirigentes da Fenajufe Luciana Martins Carneiro (também servidora do TRF-3) e Fabiano dos Santos, que integra ainda a direção da CSP-Conlutas e é servidor do TRT-2.

Durante o ato foram coletados votos ao plebiscito popular contra as privatizações.

Camila Oliveira.

Após o ato na Paulista, o Sintrajud também se fez presente na manifestação da greve unificada que aconteceu no fim da tarde em frente à unidade de logística e gestão de materiais da Sabesp. O protesto na Avenida Santos Dumont (região central da capital) reuniu diversas categorias.

TRT-2: postura antissindical e subserviência a Tarcísio de Freitas

O Poder Judiciário Federal mais uma vez mostrou subserviência ao governo de plantão, mas não teve sucesso na tentativa de minar a greve. Na manhã desta terça-feira (3 de outubro) a juíza do trabalho Raquel Gabbai de Oliveira voltou à carga contra os trabalhadores e majorou a multa que tinha determinado caso as categorias exercessem o direito de greve. A punição que seria de R$ 500 mil para os três sindicatos convocantes da luta contra a privatização passou a ser de R$ 500 mil para cada entidade.

A Seção de Dissídios Coletivos do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região havia ainda determinado, no último dia 29, funcionamento de 100% das atividades das composições do Metrô e da CPTM neste dia de luta contra as privatizações.

A diretora Rosana Nanartonis coleta votos ao plebiscito.

A falta de parâmetros e perspectiva antissindical das medidas se evidencia nas diferenças de decisões do TRT-2 sobre a mesma greve. O vice-presidente judicial do Regional, Marcelo Freire Gonçalves, que julgou a ação da Sabesp contra os trabalhadores havia determinado funcionamento de 85% das atividades na empresa e multa de R$ 100 mil para o sindicato caso a paralisação atingisse percentual superior aos 15% permitidos. A direção do Sintrajud criticou veementemente as decisões durante o ato desta terça.

O dia pelo Brasil

Em vários estados houve mobilizações no Dia Nacional de Luta desta terça. Em Brasília, categorias do Poder Executivo organizadas no Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Federais (Fonasefe) realizaram ato em frente ao Ministério da Gestão e Inovação (MGI) contra a ‘reforma’ administrativa (PEC 32) e cobrando diálogo efetivo do governo com as categorias (foto).

Ato no MGI (Arquivo Fenasps).

Em Alagoas, servidores do Instituto Federal no estado (Ifal) realizaram ato na instituição de ensino superior no início da manhã e um protesto unificado no centro de Maceió.

No Amapá aconteceu ato unificado cobrou ao governador Clécio Luís (Solidariedade) piso salarial de categorias estaduais e rejeitou a ‘reforma’ administrativa.

Na Bahia, estudantes, servidores e professores da Universidade Federal (UFBA) ocuparam a reitoria da instituição.

No Ceará houve um ato unificado na Praça da Bandeira, ao lado da Faculdade de DIreito da Universidade Federal.

No Maranhão, docentes das universidades estaduais do Maranhão (Uema) e da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul), em greve desde agosto, participaram do dia unitário.

No Piauí, docentes e servidores da Universidade Federal realizaram ato.

No Rio de Janeiro, servidores e docentes do Instituito Federal também protestaram.

Em São Paulo, além da greve unificada, trabalhadores terceirizados do Aeroporto de Guarulhos e metalúrgicos da Embraer, em São José dos Campos, paralisaram as atividades. Em São José, os dirigentes sindicais José Dantas e Ederlando Carlos foram agredidos e detidos pela PM durante o piquete. A CSP-Conlutas e seus sindicatos repudiam a repressão e exigem a libertação dos trabalhadores.

Estudantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) paralisaram as atividades e o professor do IMECC (Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica) Rafael de Freitas Leão foi detido após ameaçar alunos com uma faca para romper um piquete. Episódio lamentável produto da cultura de ódio disseminada nos últimos anos no país, que a diretoria do Sintrajud repudia.

Na Universidade de São Paulo (USP), a greve iniciada por estudantes cobrando contratação de professores foi encampada também por docentes e servidores da Cidade Universitária, no Butantã, neste dia 3 e incorporou a luta contra as privatizações, a PEC 32 e o ‘novo’ arcabouço fiscal.

Movimentos populares e de luta por moradia — como o Luta Popular, Ocupação dos Queixadas (Perus), Assentamento Irmã Alberta do MST, Ocupação Esperança (de Osasco) também está em peso na campanha contra as privatizações do governo Tarcísio. Neste dia de luta, que parou a capital paulista, os trabalhadores realizaram panfletagens e coleta de votos do plebiscito popular contra a privatização do Metrô, CPTM e da Sabesp.

* Com informações da CSP-Conlutas, sindicatos, federações sindicais e agências de notícias. Colaborou no mapeamento nacional dos atos: Giselle Pereira.

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