A derrota do governo Bolsonaro e de seu projeto de destruição dos serviços públicos passa pela unificação das lutas dos trabalhadores e dos movimentos populares, em sintonia com o que já acontece em outros países da América Latina.
Essa foi uma das conclusões da historiadora Virgínia Fontes, professora e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF), e do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), que participaram na última quinta-feira, 18 de março, de uma live promovida pelo Fórum dos Trabalhadores do Setor Público no Estado de São Paulo.
A próxima quarta-feira, 24 de março, é dia de greve do funcionalismo público, com manifestações de protesto em defesa da vacinação imediata de toda a população e contra a “reforma” administrativa (PEC 32).
Transmitido pelas páginas do Fórum e do Sintrajud no Facebook e no YouTube, a live “Pandemia de crises e a situação dos trabalhadores” teve como mediadores Tarcísio Ferreira, diretor do Sindicato, e Vânia Gaebler, servidora da Fundacentro e diretora do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal do Estado de São Paulo (Sindsef).
“Defesa da cidadania”
Tanto a professora como o deputado enfatizaram que a mobilização dos trabalhadores e dos movimentos populares deve ter como plataforma a vacinação em massa, o pagamento de um auxílio emergencial no valor de R$ 600 e a luta contra o desmonte do Estado, promovido pela “reforma” administrativa e outros projetos do governo Bolsonaro.
“A questão não é corporativa; a defesa do serviço público é a defesa da cidadania”, disse Ivan Valente. “É preciso paralisar a agenda neoliberal do Congresso”, acrescentou.
“A América Latina e o conjunto dos países que nos cercam vêm mostrando um crescimento importante dos movimentos populares, com vitórias políticas expressivas”, destacou a professora da UFF.
Ela citou mobilizações que vêm ocorrendo em países como Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai, Equador, Colômbia e México). “Isso significa que mais uma vez o desgoverno Bolsonaro se isola na tendência contrária ao que está acontecendo na América Latina”, afirmou Virgínia. “Precisamos estar de mãos dadas com essas lutas.”
Atuação no Congresso
A historiadora também criticou a tendência de alguns sindicatos a se concentrar em suas próprias reivindicações e deixar de lado a luta unificada com trabalhadores de outras categorias, inclusive de setores precarizados. “Achar que cada categoria vai conseguir garantir seus direitos frente às demais categorias de servidores públicos é um suicídio para essa categoria e um assassinato para o trabalho público que precisamos fazer”, apontou Virgínia.
“Esse processo de encolhimento que veio acontecendo, em que cada setor se vê isolado contra os demais e que acha que vai conseguir alguma influência com um deputado ou com um gestor e assim salvar seu lado, está mostrando agora o resultado: o conjunto dos servidores atarantado diante de uma avalanche de ataques que não vai perdoar nenhum setor”, acrescentou.
Nesse sentido, o deputado Ivan Valente relativizou o papel da atuação parlamentar, tendo em vista a correlação de forças políticas no Congresso e a representação minoritária dos trabalhadores. “Aquilo ali é um gancho para a mobilização”, declarou, referindo-se ao trabalho dos deputados e senadores de esquerda. “O papel dos parlamentares de esquerda, programáticos, socialistas, é fazer o bom combate ligado com o movimento social na base, com programa político de combate anticapitalista, com uma tática correta de ação”, defendeu.