Na segunda-feira, 11 de março, em entrevista à rádio Metrópole da Bahia, o ministro da Casa Civil do governo Lula, Rui Costa, proferiu declarações absurdas sobre o funcionalismo público. Na entrevista, Rui Costa afirmou que “há uma tendência à inércia grande, em geral, no serviço público”. Fez ainda outras declarações como “se você deixar solto, pessoal deixa para semana que vem, não tem necessidade de fazer agora, ou deixe para amanhã”, “fungar no cangote para as coisas andarem”.
Declarações desse tipo não são novidade por parte de ministros e até mesmo presidentes. FHC chamou os servidores públicos de preguiçosos; Paulo Guedes, ministro da economia de Bolsonaro, chamou os servidores de parasitas e agora Rui Costa se junta à lista dizendo que os servidores precisam de “fungada no cangote”.
Essa também não é a primeira declaração absurda de Rui Costa. Em 2015, Costa era o governador da Bahia, quando ocorreu uma chacina no bairro do Cabula, promovida pela PM do estado, que matou 12 pessoas. Na ocasião, Rui Costa defendeu a ação policial e comparou a PM a “um artilheiro em frente ao gol”.
Durante sua gestão como governador da Bahia, inúmeras greves dos servidores estaduais foram realizadas contra seu governo, que ficou conhecido pela truculência e falta de diálogo, se recusando inclusive a receber os representantes das entidades sindicais.
A declaração de Rui Costa ocorre no mesmo dia em que começou a greve dos técnicos-administrativos das universidades federais, organizada pela FASUBRA, uma resposta à proposta política de Lula de não conceder nenhum reajuste salarial aos servidores federais em 2024, não dar encaminhamento à reestruturação do plano de carreira da categoria e da insatisfação com a postura do governo Lula de enrolar os servidores federais na mesa de negociação.
Rui Costa, com suas declarações, quer jogar a culpa da ineficiência e dos problemas nos serviços públicos aos servidores. Contudo, o grande problema para garantir um serviço público de qualidade é do governo Lula, Bolsonaro, Temer, Dilma e FHC e dos governos estaduais e prefeituras, que, sistematicamente, ao longo de três décadas, têm aplicado uma política neoliberal de cortes de verbas, precarização, privatização, terceirização, arrocho salarial e falta de concursos públicos. Neste momento, a política de ajuste fiscal de Lula, materializada pelo novo arcabouço fiscal, é o grande entrave para garantir serviços públicos de qualidade para a população.
A realidade dos servidores públicos é que muitas vezes eles tiram dinheiro do próprio bolso para comprar materiais e equipamentos para garantir o serviço público para a população, já que os órgãos públicos sofrem com a falta de itens básicos. Os servidores muitas vezes extrapolam sua jornada de trabalho, sem direito a hora-extra em muitos casos, para atender a população que precisa dos serviços públicos para garantir a sua sobrevivência, como ocorre de forma frequente nos hospitais e serviços de saúde. Na verdade, os serviços públicos no Brasil funcionam apesar dos governos, em função do compromisso e da resiliência dos servidores públicos.
Outro elemento grave na declaração de Rui Costa é a forma como ele banaliza e naturaliza o assédio moral aos servidores públicos. Ao usar expressões como “pisar no calcanhar” e “fungar no cangote” para se referir à postura que os governadores e o presidente devem assumir com os servidores, Rui Costa naturaliza e incentiva o assédio moral das chefias no serviço público, que hoje é um dos principais responsáveis pelo adoecimento psíquico que acomete muitos trabalhadores e trabalhadoras na categoria.
Diante disso, a CSP-Conlutas manifesta publicamente seu repúdio às declarações deploráveis de Rui Costa e exigimos retratação. Repudiamos também a postura do governo Lula de enrolar os servidores públicos na Mesa Nacional de Negociação Permanente e de seguir com a política de reajuste salarial zero em 2024.
Ante esse cenário, é preciso uma resposta categórica dos servidores públicos de todo país contra a política do novo arcabouço fiscal e da reforma administrativa, que está sendo costurada pelo governo Lula e Arthur Lira. É preciso seguir o exemplo da FASUBRA, jogar todas as forças para construir uma paralisação nacional no dia 3/4 e abrir o caminho para a realização de uma greve nacional dos servidores públicos federais.
Nenhuma confiança no governo Lula que prefere garantir o pagamento do sistema da Dívida Pública, beneficiando o grande Capital, ao invés de garantir os investimentos necessários para valorizar os servidores públicos e garantir serviços públicos de qualidade para a população.
Secretaria Executiva Nacional
13 de março de 2024