Coletivo de Mulheres e Sindicato repudiam misoginia racista do deputado ‘Mamãe Falei’


09/03/2022 - Luciana Araujo
Deputado referiu-se a ucranianas como "fáceis, por serem pobres", com insinuações chulas e comparações racistas em relação às brasileiras.

Durante o seminário realizado pelo Coletivo de Mulheres do Sintrajud – Mara Helena dos Reis no último sábado, 5 de março, foi aprovada manifestação de repúdio do Sindicato à conduta do deputado estadual e então pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo, Arthur do Val. Conhecido como ‘Mamãe falei’ e integrante do Podemos e do Movimento Brasil Livre (MBL), Arthur deflagou um incidente diplomático entre o Brasil e a Ucrânia e despertou repúdio internacional ao afirmar num áudio enviado a amigos, que vazou, que as mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres”.

O parlamentar que foi à Ucrânia sem se licenciar da Alesp supostamente para auxiliar o povo sob ataque bélico da Rússia comparou ainda as filas de refugiadas à “fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano”. “Não chega aos pés”, disse do Val sobre as brasileiras.

A embaixada ucraniana no Brasil classificou as falas como “inaceitáveis” – termo contundente para relações diplomáticas. Ex-embaixatriz do país europeu em solo brasileiro, Fabiana Tronenko, somou-se aos inúmeros pedidos de cassação do mandato do deputado.

Quando este texto foi publicado já havia 21 pedidos de cassação do mandato de Arthur no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo, e movimentos de mulheres preparavam representação contra o parlamentar no Ministério Público.

A legenda à qual o deputado é filiado, e por onde era pré-candidato ao Governo do Estado de São Paulo, também abriu procedimento para expulsar o parlamentar, mas Arthur pediu desfiliação nesta terça, segundo nota divulgada no site do partido.

‘Mamãe falei’ é reincidente na violação de regras éticas parlamentares, já tendo sido advertido por duas vezes: por autorizar pagamento de salário a assessor em dia que o funcionário não trabalhou e por ameaçar agredir fisicamente outros parlamentares no plenário da Casa Legislativa.

Leia abaixo a moção de repúdio subscrita pelo Coletivo e a diretoria executiva do Sindicato:

NOTA DE REPÚDIO DO COLETIVO DE MULHERES MARA HELENA DOS REIS
A ARTHUR DO VAL 

1- Na última sexta-feira, 4 de março de 2022, os áudios repugnantes do parlamentar do estado de São Paulo, Arthur do Val (Podemos-SP), conhecido como Mamãe Falei, que esteve na Europa sob o pretexto de colaborar com a Ucrânia na resistência à invasão russa, junto com o líder do Movimento Brasil Livre (MBL) Renan Santos, vieram a público. Nos áudios ele trata as refugiadas ucranianas com total desprezo sobre sua realidade atual. Mulheres que estão sendo obrigadas a deixarem suas casas, famílias, suas vidas, numa situação humanitária gravíssima, vistas pelo deputado tão somente como pedaços de carne. Do Val referiu-se a elas como “só deusa” e que “a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila dos refugiados daqui”. Disse ainda que as ucranianas seriam “fáceis” de pegar, “porque são pobres”. Além de outras expressões chulas referentes aos corpos das mulheres, como “se ela cagar, você limpa o … dela com a língua”.

2- Diante de um cenário de tanta dor, tragédia e miséria, o deputado Arthur do Val, trata as mulheres ucranianas com total objetificação e perversidade, e enxerga o país como um local ideal para o turismo sexual.

3- Com a repercussão, o “ex-bolsonarista” pediu desculpas dizendo que: “não sou santo, sou homem, sou jovem”, e que tinha sido uma fala para um grupo privado do WhatsApp.

4- Respeito e solidariedade às mulheres, sobretudo nesse momento, às refugiadas ucranianas, devem estar em todos os espaços, sejam eles públicos ou privados. Principalmente por parte de pessoas que ocupam funções públicas. Ademais, os comportamentos mais deploráveis do ser humano são deturpadamente compreendidos como “liberados” em espaços privados, e é nesses espaços que ocorrem as maiores violências contra as mulheres.

5- Arthur do Val, que se tornou deputado pela projeção nos atos e movimentos verde-amarelos “contra a corrupção”, surfou na onda do bolsonarismo e sempre levou ao eleitorado paulista suas pautas anti-povo, machistas, racistas, sexistas, capacitistas e “empreendedoristas”. Em 2020, candidatou-se à prefeitura de São Paulo pelo Patriota e, somado às pautas de 2018, um dos seus “grandes” projetos foi o ‘Programa Jovem Capitalista’, apresentado como forma de “solucionar” as dificuldades enfrentadas pelos jovens da maior capital do país, que pouco tem de políticas públicas para a população mais carente. Atualmente era pré-candidato ao governo de São Paulo pelo Podemos, partido do ex-juiz lava-jatista Sérgio Moro, mas retirou a candidatura após a divulgação dos áudios.

6- A Assembleia Legislativa de São Paulo tem sido palco do machismo e da violência política de gênero. Em 2020, assistimos ao deplorável episódio do deputado Fernando Cury (atualmente sem partido), que assediou sexualmente a deputada Isa Penna (PSOL) durante uma sessão transmitida ao vivo e teve uma “punição” que mais pareceu férias: mandato suspenso por 180 dias.

7- O Coletivo de Mulheres Mara Helena dos Reis se levanta contra a impunidade para atos de machistas que se utilizam de cargos públicos para agredir, violentar e aviltar mulheres. Por isso, exigimos de forma imediata a cassação do parlamentar Arthur do Val. E inaceitável que este deputado se mantenha com mandato após episódio tão gravoso e ofensivo às mulheres, ainda mais no contexto em que se encontram as mulheres ucranianas.

São Paulo, 09 de março de 2022.

Coordenação do Coletivo Mara Helena dos Reis

Diretoria Executiva do Sintrajud

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