Colegas lamentam morte de servidor do TRF: Edson Roberto Santana, presente!


17/11/2021 - Shuellen Peixoto e Luciana Araujo
Edson, que também era ator e diretor de teatro, esteve sindicalizado desde 1998, e construiu mobilizações e greves da categoria ao longo destes anos; a diretoria do Sintrajud manifesta condolências à família e amigos.

Arquivo pessoal.

No último domingo, 14 de novembro, faleceu o servidor do TRF-3 Edson Roberto Santana (foto), em decorrência de um infarto. Aos 73 anos, Edson era sindicalizado desde 1998 e construiu ativamente as lutas e greves da categoria ao longo destes anos. Servidor do Tribunal desde 1995, ele estava lotado mais recentemente na Divisão de Agravo em Recursos Excepcionais (UVIP).

Natural de Fernandópolis, no interior do estado, além de servidor, Edson era apaixonado pelo teatro, onde atuou ao lado de outros grandes nomes. Ator e diretor, fez parte do Núcleo Teatral A Resistência, que surgiu entre artistas que integraram antes uma das turmas dos cursos então ministrados no Teatro de Arena e desenvolveu atividades em regiões periféricas de São Paulo nos anos 1970, junto com Celso Frateschi, Dulce Muniz e outros artistas engajados.

Diretora do Teatro Estúdio Heleny Guariba, Dulce Muniz, que construiu o A Resistência junto com Edson, chorou ao falar da morte do amigo à reportagem. “Uma tristeza profunda, um sentimento que nem sei muito definir. Fizemos tantas coisas juntos e sempre que podíamos estávamos juntos. Edson, querido, você estará, enquanto eu viver, para sempre no meu coração”, disse.

Dulce lembrou também que o colega ilustra a capa do livro sobre o projeto Teatro-Jornal, de Eduardo Campos Lima — pela editora Outras Expressões (foto) —, que, há exatos 50 anos, foi o embrião do Teatro do Oprimido.

“Conheço o Edson desde 1968, na Vila Maria, quando ele fazia parte de um grupo de jovens que faziam teatro lá, e do movimento Catequese Poética, liderado pelo Lindolf Bell. Nos encontrávamos em manifestações e encontros de teatro e poesia, depois ele veio fazer conosco o curso de interpretação do Teatro de Arena, que era ministrado pela Cecília Boal, Heleny Guariba, o professor Jan Baldour, Mercedes Batista, a doutora Rosemary [Lobert], Rodrigo Santiago. Edson era então um poeta muito bom, um menino ator muito bonito. De lá para cá, ficamos muito próximos, embora a vida leve a gente para lados muito diferentes. Mas todos que fizemos o curso do Arena ficamos na área do teatro”, lembra.

Em suas redes sociais, muitos amigos o homenagearam destacando sua trajetória no teatro.

Edson durante uma assembleia de greve da categoria, em 2012 (Arquivo Sintrajud).

Entre os colegas ouvidos pelo Sindicato, foi unânime o destaque à inteligência e gentileza de Santana. “Edson era um colega de trabalho nota dez, companheiro, dedicado aos colegas, uma pessoa super prestativa, alto astral e sempre pronto pra ajudar. Foi uma perda muito significativa”, destacou Elenai Pereira, servidora que trabalhou com Edson na Subsecretaria dos Feitos da Vice-Presidência no TRF-3.

Paulo Rogério Barbosa, contou à reportagem que já conhecia Edson há muitos anos, mas teve mais proximidade quando foi transferido para o mesmo setor, no ano passado. “Era uma pessoa super gentil, doce e que por onde passou deixou amigos, não tem quem não gostasse dele. Era uma alma iluminada que fará falta, onde ele estiver deve estar olhando por nós”, afirmou Paulo Rogério Barbosa . “Na última reunião que tive com ele ficamos alguns minutos falando sobre trabalho e horas sobre a vida e outras coisas, ele era muito culto e tinha muita bagagem para nos passar”, ressaltou Paulo.

O amor pela arte também foi destacado pelos colegas. “Edson foi um grande homem, profissional, artista, nos ensinou muito sobre timidez, autenticidade e autonomia, um amigo que fará falta demais”, lembrou Ronaldo Rocha, outro servidor do TRF-3.

‘Sabia se localizar na luta de classes’

Edson era conhecido ainda pela participação nas lutas por direitos e greves da categoria. “Participou de todas as nossas greves e era também diretor e ator teatral. Muito lúcido. Lamento muito”, disse ex-diretor do Sintrajud e da Fenajufe Cláudio Antônio Klein, também servidor do TRF-3. Klein enviou um texto de homenagem póstuma a Edson, que reproduzimos abaixo.

“Conheci o Edson nas greves, na luta, e ele era um homem muito inteligente, apaixonado pelo teatro, lia muito, questionava muito. Era uma companhia muito agradável”, relembrou Luciana Carneiro, diretoria do Sindicato.

Também ex-diretor do Sindicato, Eliseu Trindade reitera os depoimentos. “Trabalhei com ele na Vice-Presidência, no setor de passagem de autos. O Edson era daqueles trabalhadores que falava pouco. No entanto, quando opinava sobre algo todos o ouviam com atenção. Companheiro sempre conectado com a luta diária dos servidores, atendendo e participando dos chamados do Sindicato. Perdemos um desses companheiros forjado na luta do dia a dia, que sabia se localizar na luta de classes”, afirmou à reportagem.

A diretoria e os funcionários do Sintrajud manifestam pesar e solidariedade à família e amigos do servidor. Edson, presente!

Depoimento – Cláudio Klein: Quem era Edson na fila do pão???

Talvez muitos não saibam. Ele sabia. Edson era daqueles colegas que na minha época se dizia: ‘sabia se localizar na luta de classe!!!’ E por isso devemos muito a ele. Mesmo os que não o conhecem. Ele esteve presente em todas as lutas salariais desde 98. Todas . Ele ajudou muito a termos nosso salários com os valores atuais. Ele lutou nossas vitórias.

Edson não falava em microfones nem militava no [dentro do] Sindicato. Mas em todas as vezes de tomadas de decisões difíceis nas mobilizações do TRF eu sempre consultava sua opinião e do setor em que trabalhava. Por que ele era dessas pessoas de certezas e tinha palavra. Passava muita segurança.

E se foi na luta que nasceu respeito mútuo muito sincero, foi nas folgas para fumar na entrada do prédio que falávamos da vida , dos gostos e onde descobri seu amor e vocação pelo teatro. Era um bom ator e diretor.

Edson vai deixar saudades e um buraco daqueles que as grandes pessoas deixam.

Reportagem do ‘Correio da Manhã’, de 25 de março de 1971, quando o Teatro de Arena e o coletivo de jovens artistas do Teatro-Jornal, entre eles Edson, fizeram uma ‘vaquinha’ para participar do Festival de Nancy, na França.

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