Ao longo de três dias, 280 servidores púbicos federais, representando 102 entidades sindicais de 23 estados do país e do Distrito Federal, se debruçaram sobre um desafio: como deter as reformas e projetos do governo de Michel Temer que podem levar ao maior retrocesso em direitos previdenciários, trabalhistas e sociais da história do país, ao desmonte dos serviços públicos e colocar em risco a própria existência do servidor público.
Na segunda reunião ampliada do ano do Fonasefe (Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais), não se chegou, naturalmente, a uma resposta que aponte saída mágica ou fácil para isso. Teceu-se, no entanto, as bases para o que se espera que venha a ser o início de uma forte reação. A rearticulação da unidade e da mobilização do funcionalismo público federal tem no horizonte próximo a constituição de um polo de resistência, que, além de movimentar as respectivas categorias, busque envolver amplos setores numa mobilização unificada em defesa dos direitos ameaçados. Reagir e ocupar as ruas foram mencionados, por muitos servidores, como aspectos hoje da luta pela sobrevivência.
Os servidores do Judiciário Federal e do Ministério Público da União participaram com uma expressiva delegação – estavam presentes pelo menos 13 sindicatos e a Fenajufe (Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e do MPU).
Propostas
O debate desenvolvido em Brasília, de 4 a 6 de agosto, em um salão do Hotel San Marco, partiu da exposição de ideias, incluídas aí as diferenças de opinião, e da identificação mais detalhada dos ataques que a classe trabalhadora em geral, e especificamente os servidores, vêm sofrendo, para a costura de uma proposta de atuação e uma pauta consensual.
Definiu-se uma relação de reivindicações, tarefas e objetivos que possa ser incorporada por todas as entidades sindicais nacionais presentes ao encontro e estendida a dezenas ou mesmo centenas de sindicatos estaduais dos variados segmentos do funcionalismo.
O ponto de partida para a mobilização é a convocação de assembleias por categorias e de reuniões ampliadas que aproximem servidores das três esferas de governo. O centro desse polo de resistência é a reorganização, criação ou fortalecimento, neste caso onde já funcionarem, das coordenações estaduais das entidades sindicais do funcionalismo público federal. Busca-se, assim, reproduzir na esfera estadual a aliança e a rearticulação costurada em escala nacional.
Mobilização nos estados
A partir destes iniciais e urgentes passos nos estados, os servidores esperam já impulsionar e dar caráter mais amplo a datas de manifestações preparadas por segmentos do funcionalismo para agosto. O calendário específico de alguns setores foi, dessa forma, incorporado pelo movimento unificado. A primeira mobilização acontece já em 11 de agosto: dia nacional em defesa da educação pública. A segunda, no dia 16, quando estão previstas duas iniciativas. Pelo Judiciário Federal, o dia nacional de luta contra a terceirização e extinção das zonas eleitorais, organizado a partir da Fenajufe e dos sindicatos do setor. Pelas entidades da seguridade social (Fenasps e sindicatos), o dia nacional de luta em defesa da saúde e da previdência pública e contra o desmonte do serviço público.
Concomitante ao reforço de tais iniciativas já anteriormente traçadas, a ideia é constituir um movimento que una servidores municipais, estaduais e federais em cada estado, buscando construir ações, mobilizações e dias de luta conjuntos. Outro objetivo é procurar categorias da iniciativa privada cujas campanhas salariais ocorrem em setembro – como bancários, petroleiros e metalúrgicos – para articular mobilizações gerais contra a reforma da Previdência e pela não implantação da reforma trabalhista e da lei que generaliza as terceirizações.
Greve geral
Integram ainda o cronograma traçado em Brasília, por acordo entre as entidades nacionais do funcionalismo, a realização de novos protestos no Congresso Nacional, caso a PEC da Previdência vá à votação no Plenário da Câmara, e um novo chamado às centrais sindicais para que organizem a convocação de uma nova greve geral que pare o país contra as reformas do governo federal. Também se aprovou a construção de paralisação ou greve do funcionalismo federal em setembro.
Todas as propostas foram definidas por consenso entre as entidades sindicais nacionais. Como não houve unanimidade quanto à defesa da campanha pelo fim do impopular governo de Michel Temer, essa bandeira não foi incorporada à pauta unificada, ficando restrita às categorias que já a aprovaram. Isso não impediu, porém, que ao final o relatório com o conjunto das resoluções fosse aprovado por aclamação sob os gritos de “Fora Temer”.