Cenário de recessão baixou IPCA 2017, mas perspectivas são negativas


25/01/2018 - Luciana Araujo

Nesta segunda-feira (22 de janeiro) o Banco Central anunciou no Boletim Focus que a projeção da inflação oficial para este ano – o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – é de 3,95%. O Focus é a publicação semanal da autoridade monetária nacional, e reflete as análises e orientações da política econômica governamental. A divulgação dos dados reacendeu na mídia a discussão sobre os efeitos da inflação na vida concreta dos brasileiros e brasileiras.

Ao mesmo tempo que noticiavam a meta inflacionária dentro das expectativas da política de austeridade imposta pelo governo federal, veículos de mídia apontavam que a cesta básica, tarifas de energia elétrica e o preço dos combustíveis devem pesar no orçamento do brasileiro ao longo deste ano, com tendências de altas superiores a até 10%. Por outro lado, o país fechou 2017 com um saldo de 328 mil empregos formais a menos, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho reportados pelo jornal ‘Folha de S.Paulo’. “O número de empregos formais caiu pelo terceiro ano seguido em 2017. Nesses três anos de destruição de postos de trabalho, o Brasil perdeu 2,89 milhões de empregos com carteira assinada”, analisou o ‘Estadão/Broadcast’.

Os dados voltam a suscitar a discussão sobre a inflação mais baixa desde o ano de 1998. Em 2017, o IPCA fechou em 2,95% e muitas pessoas questionam como num período de alta do custo de vida a inflação ficou tão baixa. Ouvido pela reportagem do Sintrajud sobre os dados da inflação do ano passado, o assessor econômico do Sindicato, Washington Moura Lima, explica que “de fato, os diversos índices inflacionários existentes mediram um resultado baixo, inclusive o ICV-Dieese. Mas é importante compreender que o impacto do processo inflacionário varia de pessoa para pessoa de acordo com o seu padrão de consumo”.

Entre os elementos causadores do resultado inflacionário do ano passado o economista destaca a longa recessão vivida no país, a alta do desemprego, as altas taxas de juros e a concentração da renda. “Os preços não subiram tanto, ou em alguns casos baixaram, porque as pessoas perderam poder de compra com a alta do desemprego, aí a inflação, digamos, na média, ficou baixa. Mas como não há grandes perspectivas de melhora na situação de recessão no curto prazo, não é possível afirmar que essa situação vai se consolidar e avançar. As perspectivas com a reforma trabalhista, o emprego intermitente, a precarização das condições de trabalho é que a recessão seja alongada. A perspectiva é de que se mantenha uma contração econômica forte por mais um tempo”.

Especificamente para os servidores do Judiciário Federal, Washington ressalta que a alta dos valores cobrados por exemplo em relação ao custeio dos planos de saúde fez com que a categoria sentisse uma pressão maior sobre seu padrão de vida.

E o fato dos tribunais não terem efetivado a atualização demandada pelo Sintrajud nos limites autorizados na Lei de Diretrizes Orçamentárias do ano passado (6,29%) impediu a recomposição ao menos parcial do poder de compra. Por isso, neste ano o Sindicato protocolou requerimento administrativo em todos os tribunais demandando um reajuste de 9,43% nos valores do auxílio-alimentação e da assistência pré-escolar (auxílio-creche) – a soma do percentual autorizado pela LDO 2017 e a deste ano, ancorada no resultado da inflação oficial.

Austeridade e perda de direitos

A política econômica ancorada no tripé metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário tem sido o pilar dos governos nacionais desde a Era FHC. Nesse modelo, a prioridade governamental é assegurar o pagamento dos juros e serviços da dívida pública, que de acordo com análise realizada pela Auditoria Cidadã da Dívida em 2015 consumiu 42,43% do Orçamento Geral da União, enquanto a Previdência Social por exemplo consumiu apenas 22,69% do orçamento federal para aquele mesmo ano.

É este modelo que “exige” a aprovação de medidas draconianas como o congelamento por 20 anos do orçamento social implementado a partir deste ano com a Emenda Constitucional 95, e a reforma da Previdência.

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