Decisão de ator de deixar programa de TV ao vivo em respeito a greve recebe apoio


24/11/2017 - Shuellen Peixoto

Aplausos e declarações indignadas com a situação política e social do país. Foi o que mais parece ter provocado nas redes sociais o vídeo com o momento em que o ator Pedro Cardoso, ao vivo na TV Brasil, se recusa a responder perguntas e se retira do programa em solidariedade aos trabalhadores em greve da EBC (Empresa Brasileira de Comunicações).

A atitude repercutiu com força nas redes sociais. Servidores públicos, que preparam manifestação em Brasília para a terça-feira que vem, 28 de novembro, parabenizaram o ator. Conhecido nacionalmente pelo personagem Agostinho Carrara, que interpretava na série “A Grande Família”, exibido na TV Globo, ele parece ter tentado não ser agressivo com quem estava ali, mas foi enérgico nas palavras. “Peço desculpa a vocês, mas não vou responder a essa pergunta nem a nenhuma outra, porque hoje quando eu cheguei aqui eu encontrei uma empresa que está em greve, e eu não participo de programas em empresa que está em greve”, disse, pouco antes de se retirar do programa.

O ato nacional na Esplanada dos Ministérios deverá ter a participação de trabalhadores da EBC em greve. A manifestação contestará os projetos e reformas que retiram direitos dos trabalhadores defendidos pelo governo de Michel Temer – como as reformas da Previdência, trabalhista e a que congela os orçamentos públicos. O ato deverá contar com a participação de servidores dos Três Poderes da União e de provavelmente todos os estados do país.

Racismo

O ator também fez referência ao caso envolvendo a atriz Tais Araújo, alvo de ataques na internet após denunciar o racismo existente no país. “Soube também que o presidente dessa empresa, que é uma empresa do povo brasileiro, fez comentários extremamente inapropriados a respeito do que teria dito uma colega minha, em que a presença do sangue africano está presente também na pele. Porque o sangue africano está presente em todos nós, em algumas pessoas está presente também na pele, mas está presente em todos nós”, disse. Sem citar nomes, se referia Laerte Rimoli, presidente da EBC, que fez piadas nas redes sociais em torno do racismo sofrido pela atriz negra Taís Araújo.

Trabalhadores da EBC haviam divulgado nota pedindo a exoneração de Rimoli da presidência da empresa estatal, que postou imagens (memes) que debocham das declarações da atriz, que, para traçar uma imagem do preconceito no país, disse que há pessoas que mudam de calçada quando veem seu filho passar. “O racismo, escancarado pelas piadas compartilhadas pelo atual diretor-presidente, hoje se reflete também dentro da EBC: são exceções e submetidas a trabalho extenuante ou dobrado funcionárias e funcionários negros que, atualmente, lideram equipes, têm funções de confiança ou estão em posição de destaque, como a reportagem em vídeo e a apresentação de programas”, diz trecho da nota, assinada por sete entidades sindicais estaduais e nacionais de jornalistas e radialistas e pela Comissão de Empregados da EBC.

Movimento grevista

Com relação à greve, Pedro Cardoso disse inicialmente que não lhe cabia julgar quem estava com razão, mas acabou na prática declarando verbalmente apoio aos grevistas. “Cabe a mim o maior respeito a todos vocês, mas eu, diante deste governo que está governando o Brasil, tenho muita convicção de que as pessoas que estão fazendo essa greve provavelmente estão cobertas de razão”, disse.

Ele participava do Sem Censura para falar de romance que está lançando – Livro dos Títulos – e, antes de se retirar, cumprimentou um a um os demais participantes do programa e a apresentadora, Katy Navarro, que disse antes dele sair: “Eu respeito bastante a sua opinião, respeito a sua saída, a gente vive em uma democracia e precisa respeitar a opinião de cada um. Pedro Cardoso, obrigada pela sua presença”.

Vídeos com esse trecho do programa viralizaram na internet e receberam muito apoio. “Todos os funcionários públicos deveriam parar. Greve geral. Em outro país esses políticos safados e sem vergonha seriam estraçalhados no meio das ruas”, disse Cássia Souza, ao comentar o caso nas redes sociais.

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