SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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JJ - Edição 161 - 19/11/2003 - Página 8

OPINIÃO


Todos precisam saber

Aloê Fernandes Felippe

No dia 1º de novembro de 2003, realizamos uma assembléia na sede do nosso sindicato, onde os assuntos abordados, entre eles “a desfiliação à CUT” ficou prejudicada motivo pelo qual apenas compareceram 27 companheiros de luta; tendo sido o problema encaminhado para a próxima reunião do Conselho de Base a ser realizada em 22 de novembro de 2003.
Em dado momento rotativo das conversas o Sr. Démerson, Diretor da Executiva, saiu-se com essa: “que os presentes nas assembléias deveriam ter uma visão menos cartorial, que precisavam ser menos cartorários; que ele era do tempo em que dormia sobre colchonetes e que ainda pagava para fazer sindicalismo, e que graças a isso é que temos o nosso sindicato hoje”.
Ora, isso é uma piada, pois dá a impressão que ele construiu o sindicato sozinho. Quero registrar meu protesto que na verdade não me foi permitido responder até o final. Retruquei ao Sr. Démerson dizendo:
– Que compreendia perfeitamente o seu tempo mas que o meu foi o tempo em que apanhou-se em plena rua Maria Antonia na tão falada batalha campal Maria Antonia; sou do tempo que apanhava-se na Praça da República; do tempo que fazíamos resistência contra a ditadura militar; sou do tempo que pulava-se de dentro do caminhão do Exército para fugir antes de chegar aos porões do DOI-CODI e operação Bandeirantes, sou do tempo da JOC - Juventude Operária católica; sou do tempo que juntávamos jornais e revistas e dormíamos no chão gelado, inclusive dois colegas amigos contraíram tuberculose por esse motivo; hoje já recuperados, sabe por que? Não tínhamos dinheiro para comprarmos colchonetes e a comida. Ah! a comida era um pão com manteiga e café com leite quando tínhamos (1968/1969 - Embu); enfim fui do tempo em que militei contra a ditadura militar. Estou na terceira idade, mas jovem de espírito, Sr. Démerson, Senhor Diretor da Executiva. Para minha pessoa o mais importante não é o cargo que a pessoa ocupa, mas sim os atributos tais como: valores morais, o caráter, a dignidade, e a honradez, para representar a nossa categoria; e afirmo categoricamente tê-las todas.
Tenho muito orgulho de ser um dos 55 diretores de base que efetivamente luta, uma luta muito desigual, inclusive dentro do próprio sindicato. Não nasci para ser artista da Rede Globo, e muito menos para conspirar na calada da noite. Sei muito bem separar o joio do trigo, tanto que na última eleição presidencial, quando Lula foi eleito, foi cometido um “estelionato eleitoral”, exaustivamente veiculada na mídia; ou não? Foi para abrandar o comportamento do povo brasileiro que, na verdade, clamava por mudanças entretanto; mais de 40 milhões passam fome; ou não? Foi para jogar panos quentes na corrupção, que junto com o narcotráfico está acabando com o nosso país, ou não?
Por tudo isso não me venha falar que precisamos de pensar em construir uma nova central sindical. “Central sindical” como a CUT?, Central sindical como a Força Sindical? O que a nossa categoria precisa saber é que nesses últimos 8 anos desembolsamos o valor de R$ 971.735,58 somente para a CUT, isso sem falar nos R$ 400.000,00 que foram pagos à imprensa rotativa que imprime os jornais. Isso é um absurdo!!!! Há sindicatos bem menores, bem mais simples que já têm as suas colônias de férias, pois isso é patrimônio que fica e não conversa mole jogada fora, isso é dinheiro líquido de todos os filiados. Não me venha dizer que a parte política é a parte mais importante, e que por isso vamos nos afastar da CUT, pois ela não nos representa mais, não!!!
Tudo é importante: a parte política e a financeira também. Como Diretor de Base que sempre lutei e luto pela categoria e honrei sempre o nome de minha família, meu único patrimônio, e em nome do respeito que tenho por sua pessoa, solicito a publicação desta surrada redação para que nossos colegas de trabalho tomem conhecimento de todas as manobras, que tentam nos impingir goela abaixo, e que seja publicado antes de 22 de novembro de 2003, data do próximo Conselho de Base a ser realizado nesta capital.
É por tudo que insurgi-me desde a fusão do sindicato, pois já sabia perfeitamente que iríamos ser as “tetas monetárias da CUT”, e é contra isso que manifesto meu protesto e indignação honrando assim os votos que obtive dos meus colegas de trabalho da Justiça Federal no Fórum Pedro Lessa.
São Paulo, 03 de novembro de 2003.

Aloê Fernandes Felippe (Felippão) Diretor de Base - Fórum Pedro Lessa


RESPOSTA DA DIRETORIA


O que poucos ainda não sabem

Diretoria Executiva do Sintrajud

O Sintrajud descende da unificação entre o Sintrajus, o Sinjusfem e o Sindjuse. Esses sindicatos surgem nos marcos do que se usou chamar de “Novo Sindicalismo”, inaugurado pelo surgimento da CUT e das lutas contra a ditadura. Foi a partir da Constituição que a nova mentalidade política alcançou os trabalhadores do setor público.
Novo Sindicalismo porque se contrapõe ao sindicalismo pautado pelo corporativismo e a colaboração de classe impostos pela era Vargas.
O rompimento com o corporativismo se dá a partir de organizações de caráter sindical que passam a ocupar o espaço de antigas associações, ou mesmo surgem da conscientização dos trabalhadores do setor público quanto à necessidade de construção de instrumentos políticos que os representem para além do mero associativismo e benefícios sociais.
O Sintrajud, nesse sentido e por seus antecessores, surge do rompimento com o corporativismo e as práticas e mentalidades cartoriais e pseudo-sindicais que até então orientavam amplamente esse setor.
A opção pela CUT, amplamente debatida e vencedora, decorreu justamente da conscientização da categoria em relação à necessidade de fortalecer os espaços políticos e de articulação da classe trabalhadora. Não é por acaso que o único setor efetivamente combativo do serviço público está, ainda hoje, na CUT. Alternativas existem, nenhuma delas séria o suficiente. E ainda que possamos num futuro próximo construir uma alternativa necessariamente classista e de luta, tendo em vista que a atual direção está transformando a Central em uma entidade “chapa branca”, isso não apaga nossa trajetória política até aqui, nem sua importância histórica para a classe trabalhadora.
A direção Executiva do Sintrajud entende e reitera que a vocação política do sindicato é o que nos define como uma organização de caráter classista - que entende ser necessário a união de todos os trabalhadores(as) para superar os desafios e derrotar o atual modelo excludente e desumano.
O diretor de base Aloê Felippe apresenta quase como denúncia a informação que a própria Executiva disponibilizou à categoria, e na pretensão de aprofundar o debate não consegue ultrapassar a superfície de um tema que já preocupa a Executiva há algum tempo. Ocorre que pela argumentação proposta o debate é reduzido a um problema de caixa, seguindo uma linha de raciocínio semelhante à que move a elisão fiscal no país.
Não podemos priorizar o enfoque financeiro em relação à CUT justamente porque percebemos que essa estreiteza política é cometida por alguns que entendem o sindicato como prestador de serviços.
Como experiência nem sempre é sinônimo de conhecimento, é preciso lembrar que a maioria dos trabalhadores no campo cutista entendem que cabe a eles sustentar seus instrumentos de luta. A contribuição espontânea à CUT é o preço que pagamos pela independência dos sindicatos em relação ao Estado. Nesse sentido trata-se, não de obrigação, mas de conquista.
Essa concepção tem sido confirmada a cada eleição do nosso sindicato pela vontade da categoria, assim como tem garantido o fortalecimento de nossa federação e a conquista de diversos direitos, inclusive dois Planos de Cargos e Salários (PCS) que se destacam como conquistas políticas entre os federais, nos tornando referência para o setor.
Dentre outras razões porque a direção política da categoria tem sabido manter-se fiel à finalidade última do sindicato.
Naturalmente essa mesma convicção garante que o Sintrajud possua instâncias soberanas de deliberação em que todas as correntes de pensamento e opinião possam expressar-se e mesmo convencer democraticamente a categoria quanto aos rumos a serem tomados.
Dentre aqueles que contestam a atual direção, nem sempre se percebe igual zelo pela democracia ou pela categoria. Aliás, não admitir ou acatar decisões soberanas da categoria é um claro atentado à democracia.

Diretoria Executiva do Sintrajud