SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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JJ - Edição 70 - 25/09/2001 - Página 4

OPINIÃO NA BASE DA CATEGORIA

A GREVE EM DEBATE

Há polêmica entre os servidores ouvidos pelo Jornal do Judiciário quanto à análise da greve, mas existe consenso sobre a necessidade de manter a mobilização para lutar pelo PCS e demais reivindicações
O início e o término de uma greve é, com freqüência, um momento delicado e sujeito a polêmicas. Observa-se isso num balanço inicial, feito por servidores de base entrevistados por este jornal, do recente movimento que paralisou boa parte do Judiciário de São Paulo.
Na assembléia que suspendeu a greve, as intervenções se dividiram entre os que eram favoráveis à continuidade da paralisação e os que consideravam necessário suspendê-la e manter o estado de mobilização.
A maioria decidiu pela suspensão, mas boa parcela dos servidores, principalmente do interior, votou pela continuidade. "Acho que a greve teria que ter prosseguido até pelo menos 25 de setembro para garantir que o 'arrastão' fosse incluído na pauta do encontro do Conselho da Justiça Federal", diz Jairo Peres, de Marília.
O servidor João Fernandes, de Guaratinguetá, também considerou precipitada a decisão. "A greve não deveria ter acabado. Saímos dela sem nada. O funcionalismo está sendo injustiçado há 7 anos. Se queremos conquistar as nossas reivindicações, teremos que seguir o exemplo de resistência dos servidores do Incra, do INSS e da Polícia Militar baiana", diz. "O PCS está no Congresso, mas que garantias temos?", conclui Fernandes.
A análise de que a suspensão da greve foi equivocada não é unânime entre os servidores do interior. "A greve se esgotou. Aqui não tinha mais chances de sucesso porque faltaram forças para garantir os resultados", avalia Antenor Carrijo, da JF de Ribeirão Preto.
Para Antonio Melquíades, do foro da Justiça Federal, na Paulista, o retorno ao trabalho foi um recuo estratégico. "Vamos voltar melhor estruturados, nos somando à força do interior para na próxima etapa começarmos todos juntos", diz.
"Tivemos vitória. A mais expressiva foi o andamento do PCS", avalia Larissa Antunes, das Execuções Fiscais. "Isso é o resultado da nossa luta, que mostrou que temos capacidade de mobilização", complementa a servidora, que defende a continuidade da mobilização para que se conquiste a "totalidade das reivindicações".
Embora tenha se sentido frustrado com o fim da greve - "Não se deve abandonar uma luta sem atingir seus objetivos" -, o servidor Altair Tecioti, da JF de Piracicaba, destaca como ponto positivo o que aconteceu com o interior. "O interior se uniu, adquirindo mais consciência", diz.
Se com relação ao balanço da greve existe polêmica nas opiniões, num aspecto elas parecem convergir: a necessidade de manter a mobilização e a participação em torno da luta pela revisão do Plano de Cargos e Salários e demais reivindicações. "Devemos continuar lutando para alcançarmos os nossos objetivos", defende Altair Tecioti.
"Aqui decidimos retornar ao trabalho e manter o 'estado de greve' para adiante tomarmos as medidas necessárias, inclusive parando de novo para garantir a votação do PCS e o conjunto das nossas reivindicações", afirma Danilo Tarpani, do TRT de Santos.


Servidores da Justiça Federal de Marília: forte participação do interior


NOSSA OPINIÃO


Pluralidade e democracia

Na assembléia que decidiu pela suspensão da greve, servidores que integram a direção do Sintrajud expressaram propostas distintas. Houve quem defendesse a continuidade da paralisação. Houve quem defendesse a sua suspensão, com manutenção do estado de greve e mobilização. Alguns colegas revelaram surpresa e até críticas à falta de posição única. Entendemos, entretanto, que isso é democrático e natural . Proposta única é saudável quando ela de fato existe. Quando não, apresentá-la seria uma farsa. Não compartilhamos da tese de que pensamentos únicos devam ser costurados a todo custo ou mesmo impostos. Se não há consenso, que as posições sejam expressadas com transparência e sinceridade. Vencida uma delas, aí sim, toda direção deve se unir em torno das propostas aprovadas e da luta da categoria.


OUTRAS OPINIÕES

"Houve precipitação na deflagração do movimento e a forma como foi conduzido: greve pipoca, depois por tempo indeterminado. Faltou coesão entre os diretores da Executiva e os delegados de base. Agora, o sindicato precisa abrir um canal de comunicação entre a categoria e os parlamentares em Brasília".

José Silva Pessoa, da Criminal

"A greve foi muito positiva. Foi o começo de uma luta que vai demorar muito tempo, pelo PCS, que ainda está no Congresso e por um reajuste salarial digno. A suspensão da greve foi estratégica. Numa guerra, não adianta usar todas as armas de uma vez. É preciso usar as armas na hora certa, o PCS vai ser uma batalha longa".

Cléber Borges, TRF de SP

"A greve foi válida enquanto movimento dos trabalhadores, à vista da mobilização e dos atos realizados. No geral, os servidores da Justiça do Trabalho, à exceção dos tribunais da Baixada Santista, decepcionaram, não demonstrando poder de luta. A luta deve continuar".

Edir Cardoso, TRT de Santos

"Ficamos muito decepcionados com a diretoria. Acho que ela precisa adotar uma postura de neutralidade em algumas ocasiões. Nessa greve nós entramos com nada e saímos sem nada. Sem pressão não vamos conseguir coisa alguma. Estamos tentando sensibilizar os deputados para o PCS"

Marcos Gonçalves, da JF em Franca

"Acho que foi falta de estratégia ter feito greve por tempo indeterminado. O TRT não tem uma história de movimentos grevistas fortes, estamos aprendendo a fazer greve. No dia 29 o número de varas paradas foi bem maior que no dia 15. Mas os que estavam engajados, se desdobraram para conscientizar os colegas de que greve se faz um a um, sem esperar apoio de chefias e ver de pronto um grande número de pessoas paradas."

Sheila do Valle, 69ª Vara da JT