SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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JJ - Edição 230 - 17/11/2005 - Página 8

4ª CÚPULA DAS AMÉRICAS


Protestos contra Bush e a Alca

No Brasil e na Argentina Bush é recebido com protestos
* Delegação do Sintrajud participa dos atos e das atividades da “Cúpula dos Povos” na Argentina

Ato de repúdio a Bush em São Paulo

Por Yara Fernandes

Neste início de novembro, a América Latina foi palco de diversos protestos, principalmente no Brasil e na Argentina. As manifestações foram uma resposta à visita do presidente norte-americano a esses países. Bush foi a Mar del Plata, na Argentina, para a 4ª Cúpula das Américas, na qual os governos do continente se reuniram para negociar aberturas comerciais e o projeto da Alca (Área de Livre de Comércio das Américas). Aproveitando a viagem, Bush passou no Brasil, que ele considera um governo “amigo”. Lula e Kirchner fizeram festa para receber Bush. Mas, a juventude, os trabalhadores e movimentos sociais desses países foram às ruas dizer “Fora Bush da América Latina”.
Durante a Cúpula, que ocorreu de 3 a 5 de novembro, os protestos foram generalizados na Argentina. Por todos os muros havia cartazes e pichações como “Fora Bush” e “Bush assassino”. Cacerolaços, atos, bloqueios de estradas e paralisações de várias categorias ocorreram no país.
Uma contra-cúpula, a 3ª Cúpula dos Povos, foi realizada pelas organizações sindicais e movimentos sociais. A principal atividade foi a marcha contra Bush em Mar Del Plata, no dia 4 de novembro. Essa marcha reuniu cerca de 40 mil pessoas e teve a participação do presidente venezuelano Hugo Chávez, do ex-jogador de futebol argentino Diego Maradona e personalidades políticas de todo o mundo. Pela tarde, outra marcha, com cerca de cinco mil pessoas, organizada pelo movimento piqueteiro, criticou também o governo Kirchner.

Sintrajud em Mar del Plata
Ativistas de outros países se somaram aos protestos argentinos e às atividades da Cúpula dos Povos, entre eles uma delegação do Sintrajud formada pelos diretores Eliseu Trindade (TRF-3), Démerson Dias (TRE), Antônio Melquíades, o Melqui (JF) e Maria Cecília Pereira (TRE).
Os servidores participaram da marcha, das atividades da cúpula paralela e da programação dos Trabalhadores no Judiciário Federal do Cone Sul, que reúne entidades do judiciário de vários países da América Latina. “Uma atividade importante foi a oficina da Conlutas [Coordenação Nacional de Lutas], que teve umas cem pessoas e mostrou aos ativistas de outros países esse processo que está acontecendo no Brasil”, diz Eliseu.
Em São Paulo, representantes do Sintrajud também participaram da passeata, que reuniu duas mil pessoas no dia 5, na avenida Paulista. Participaram do protesto a Campanha Contra a Alca, a Conlutas (Coordenação Nacional de Luta), sindicatos, os movimentos Sem-Terra e Sem-Teto, a juventude árabe, punks e partidos como PSTU, P-SOL, PCdoB, PT. Foram queimados dois bonecos de Bush, um no início e outro ao final da passeata.


CRÔNICA DO SERVIDOR


Diário da viagem a Mar Del Plata

Maria Cecília Pereira

Quando chegamos a Mar del Plata, a cidade estava sitiada. Seguranças, policiais, militares por todos os lados. Do lado não sitiado aconteceu a Cúpula dos Povos, que incluiu Cuba. Um dos presidentes convidado à outra Cúpula, Chaves, fez uma intervenção.
Os habitantes assistem perplexos e amedrontados a tudo, mas têm absoluta certeza de que não querem Bush aqui, chamam-no de assassino.
Os Trabalhadores do Judiciário Federal do Cone Sul, do qual fazem parte as federações de trabalhadores do Judiciário da Argentina, Uruguai e Brasil participaram dos fóruns “Justiça e Democracia”, “Igualdade, Distribuição e Integração” e “Soberania Jurídica, Política e Econômica”. Nós, do Sintrajud, participamos como ouvintes. Houve também um painel bancado pela FJA a respeito da “Dívida Externa e o Ciadi [Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos]”. Temas que denunciam a política de reformas dos judiciários, promovidas e financiadas pelo Banco Mundial, no intuito de tornar os judiciários dos países da América Latina meros apêndices do poder econômico mundial, e flexibilizar as leis trabalhistas e outras leis, tornando mais seguro o lucro das multinacionais.
Os acordos bilaterais que os países americanos estão assinando com a OMC (Organização Mundial do Comércio) afetam o Poder Judiciário. Neles se estabelecem cortes estrangeiras para arbitrar sobre questões que envolvam multinacionais.
Essas cortes arbitrais fizeram com que nos últimos tempos o governo Argentino tenha duplicado o valor de sua dívida externa, em razão dos conflitos perdidos como co-responsável.
O Brasil ainda não assinou esse acordo. Todavia, com certeza segue assinando outros que os trabalhadores não tiveram oportunidade de conhecer, discutir e decidir, provocando perdas irreparáveis.
Nos locais limítrofes com Brasil, já se experimentam novas formas de espoliação dos trabalhadores quando a multinacional arroga a sede onde os direitos trabalhistas são mais benéficos para ela em resolução de litígios.
E a Alca naufragou, no mínimo não avançou. As federações dos judiciários do Cone Sul assinaram um documento de repúdio à Alca, à Bush e exigindo a liberação de cinco presos cubanos nos Estados Unidos. Destacam o objetivo de uma justiça que garanta respeito aos direitos humanos e a autodeterminação dos povos.

Cecília, do TRE, é diretora do Sintrajud.
A íntegra do texto está disponível aqui.


OPINIÃO DOP SERVIDOR


‘Avanço na organização’
“Participamos de três atividades de grande importância, que foram a marcha do dia 4, as atividades da anti-cúpula e a atividade do Judiciário do Cone Sul. Esses protestos significaram um avanço importante na organização dos trabalhadores e na luta anti-imperialista”.
Démerson Dias, do TRE, diretor do Sintrajud e da Fenajufe.

‘Turbilhão de gente’
“No dia da marcha, seguimos cedinho para o ponto de encontro, onde nos aguardava um turbilhão de gente de todos os cantos do mundo. Creio que foram cerca de 50 mil pessoas, levando diversas bandeiras, mas sobretudo a bandeira da contraposição ao avanço das forças do capital associadas a seus Estados nacionais”.
Maria Cecília Pereira, servidora do TRE e diretora do Sintrajud.

‘Papel picado’
“Deu para perceber que o povo de conjunto está contra a política neoliberal encabeçada pelo Bush. Sentimos esse sentimento nas ruas, ao conversar com os taxistas, com os ambulantes, na passeata quando as pessoas dos prédios aplaudiam, jogavam papel das janelas. A impressão é de que pelo menos 80% da população estava contra a vinda de Bush”
Eliseu Trindade, do TRF e diretor do Sintrajud.