SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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JJ - Edição 230 - 17/11/2005 - Página 2

FRASES


DE HOJE


“Nós peso-pesados somos idiotas. Acabamos falidos, esquecidos, sem respeito de ninguém, sem amor”
Mike Tyson, campeão mundial de box aposentado, ao jornalista Eduardo Ohata, da “Folha de São Paulo”.

“Após tanto chopp, sendo que eu havia começado a beber à tarde aquela cachacinha, minha capacidade de discernimento estava comprometida”
Vladimir Poleto, ex-assessor do ministro Antonio Palocci (Fazenda), ao negar na CPI dos Bingos a veracidade de suas próprias declarações à revista “Veja”, sobre o transporte de dinheiro ilegal para o PT na campanha eleitoral de 2002.


DE ONTEM


“Aqui é natural os negros serem tratados de forma subalterna (...). A grande aspiraçao do negro brasileiro é ser tratado como um homem comum”
Milton Santos, em 1995.



REVOLTA POPULAR Policial observa carro incendiado em Toulouse, no sul da França, no início da noite de quinta-feira 13. A rebelião desencadeada há duas semanas nos subúrbios pobres de Paris, onde vivem a maioria dos imigrantes e seus descendentes, já incendiou cerca de 8.500 carros. O governo Francês reprimiu o movimento com uso de tropas de choque, estado de emergência, toque de recolher e ameaça de deportação de imigrantes.


Idéias

Uma página para a livre expressão de opinião


Futebol e política

Filemon F. Martins

Há quem afirme que o futebol brasileiro não tem organização exemplar, por causa dos cartolas que mandam e desmandam no futebol, como se fossem velhos caudilhos defendendo interesses próprios. De fato, o que se observa no cotidiano nos autoriza a concluir que a tese procede.
Nestes dias de farta denúncia de corrupção entre partidos políticos, parlamentares e empresários, tomamos conhecimento de mais um caso de corrupção, agora envolvendo árbitros de futebol com manipulação de resultados, conforme confissão dos acusados na Justiça Federal.
Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva decidiu, acertadamente no nosso entender, anular as 11 partidas do Campeonato Brasileiro em que houve a atuação dos árbitros denunciados, e determinou que outras sejam disputadas sem que haja a influência maléfica da arbitragem. Pondere-se que os clubes beneficiados ou não, até agora, não têm culpa no cartório, mas essa parece ter sido a melhor solução.
Assim também, o Congresso Nacional deveria agir no caso do já provado e comprovado pagamento do “mensalão” a partidos políticos e parlamentares de fachada, para aprovação de projetos escusos. Não há porque se aceitar que reformas e projetos prejudiciais aos trabalhadores e ao povo, aprovados graças ao pagamento de propina, prevaleçam como normais. É inadmissível que correntistas paguem (prorrogação de CPMF) e inativos e pensionistas do serviço público continuem pagando (11% dos seus salários) por atos aprovados à custa de muito dinheiro para beneficiar parlamentares e empresários desonestos, através de duvidosos fundos de pensão.
Se não houver anulação desses atos, teremos, então, a triste certeza de que o crime compensa e aí será um caos, porque, por enquanto, ainda contamos com um povo bom e honesto, não obstante o exemplo que vem dos governantes brasileiros.
Pode ser cedo ainda, mas a sociedade brasileira espera que todas as CPIs tenham a dignidade de apontar, sem acordos ou conchavos, sem medo e sem piedade, todos os envolvidos de quaisquer partidos políticos para que sejam punidos e banidos de uma vez por todas, da administração pública e fiquem longe, bem longe da gestão do dinheiro público.
Se tudo terminar em pizza, como foi discretamente noticiado pela imprensa, não poderemos dizer aos nossos filhos e netos que um dia o Congresso Nacional foi digno e capaz de expurgar estes parasitas que, cobertos pelo mandato outorgado pelo povo nas urnas, são capazes de meter a mão no dinheiro público, traindo o povo que ingenuamente os elegeu e desmoralizando, ainda mais, o Congresso Nacional.

Filemon é aposentado.


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OBSERVATÓRIO


A questão regional e as economias subdesenvolvidas

Plinio de Arruda Sampaio Jr.

As transformações no padrão de desenvolvimento capitalista, impulsionadas pelo processo de liberalização comandado pelos Estados Unidos, tiveram grande impacto sobre a matriz espacial do sistema econômico mundial. Neste contexto histórico devemos apreciar a importância e oportunidade do esforço de Anderson Pellegrino [no livro “Sombras do Subdesenvolvimento”] de resgatar a rica reflexão de Celso Furtado sobre a questão regional nas economias subdesenvolvidas.
As novas exigências técnicas e econômicas da acumulação capitalista provocaram descontinuidades nas escalas de produção e nas suas formas de organização, com sérias implicações sobre as dimensões mínimas do espaço econômico nacional e sobre a divisão internacional do trabalho. O salto de qualidade no grau de concentração e centralização do capital veio acompanhado de um brutal enfraquecimento do poder de barganha do pólo trabalho e de processos de desnacionalização econômica que enfraqueceram ainda mais as burguesias dependentes. Ao ampliar de maneira radical a capacidade de comandar trabalho em escala mundial, a ilimitada liberdade de atuação dos conglomerados multinacionais debilitou dramaticamente os Estados nacionais. Por fim, a lógica de império que preside a ordem global deixou a economia mundial à mercê dos caprichos dos EUA. Tais processos puseram em movimento dinâmicas econômicas, sociais, políticas e culturais que estão provocando uma profunda redefinição nas bases que condicionam as fronteiras externas e internas do Estado nacional burguês.
A tendência à fragmentação de países que até há pouco pareciam inabaláveis, como a União Soviética, a Iugoslávia e a Checoslováquia, a crescente militarização das relações internacionais, com a ostensiva intervenção dos EUA em todos os cantos do mundo, como é o casos dos Planos Colômbia e Plueba-Panamá na América Latina, os inclementes ataques “preventivos” contra qualquer nação suspeita de fazer parte do chamado “eixo do mal”, como as covardes invasões do Afeganistão e do Iraque, e a exacerbação de rivalidades regionais em todas as partes do globo são fenômenos que evidenciam a profundidade das mudanças em curso, colocam em questão a própria noção de soberania nacional, e vieram acompanhadas de importantes inovações no plano ideológico.
Ao lado da generalização da idéia, de inspiração neoliberal, de crise do Estado nacional, ganham força teorias que, por diferentes caminhos, utilizam elementos do arsenal teórico do neo-institucionalismo e do neoschumperianismo, para advogar que as esferas locais e regionais devem ser vistas como instâncias privilegiadas das políticas de desenvolvimento. Na contramão do que se verifica na realidade. Quimeras da nova teoria do desenvolvimento difundidas pelas universidades européias e norte-americanas, pelo Banco Mundial e outros que tais.
“Nas Sombras do Subdesenvolvimento: Celso Furtado e a Problemática Regional” critica a absoluta inadequação dessas formulações para dar conta da complexa realidade de economias marcadas pela heterogeneidade estrutural e pela cristalização de uma periferia interna.

Plínio, economista e advogado,
é um dos colaboradores desta coluna.