SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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JJ - Edição 225 - 05/10/2005 - Página 2

FRASES


DE HOJE


“Os cargos de livre nomeação têm um efeito secundário de destruir a estruturação das carreiras públicas”
Cláudio Weber Abramo, da ONG Transparência Brasil.

“Foi feito superávit exatamente para que não saísse do lugar”
Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, tentando explicar a não redução da dívida pública apesar do ajuste fiscal recorde de janeiro a agosto de 2005, que gerou um superávit primário (receitas menos despesas, exceto juros) de 6,26% do PIB (Produto Interno Bruto).

“Terei coragem para condenar quem tiver culpa, mas também terei coragem e isenção para defender quem não tiver culpa”
Aldo Rabelo (PCdoB-AL), em discurso pouco antes de ser eleito presidente da Câmara dos Deputados com apoio do “rolo compressor” do governo, acusado de negociar até não cassar os deputados da lista do ‘mensalão’.


DE ONTEM


“A mais potente arma nas mãos do opressor é a mente do oprimido”
Steve Biko, ativista negro sul-africano



GUERRA DESIGUAL - Alunos da escola palestina de Dar al-Arkam protestam contra ataque aéreo israelense na cidade de Gaza, no último dia 24, que deixou 8 mulheres, 3 crianças e idosos feridos - desmascarando a “retirada pacífica” comandada por Ariel Sharon.


Idéias

Uma página para a livre expressão de opinião


Mataram a esperança

Pedro Cardoso da Costa

Nos anos 80, as derrotas do Partido dos Trabalhadores eram confortadas com a certeza de que decorriam da ignorância e conservadorismo político dos brasileiros. A assunção do partido ao poder trouxe a certeza aos brasileiros de que a forma corruptiva de administrar ultrapassa os partidos e está arraigada na cultura nacional. Infelizmente. A questão é como e o quê fazer para mudar. Choca mesmo, porque a esperança de diferencial era o PT.
As denúncias do estilo PT têm demonstrado que o partido apregoava um modelo que deveria ser cumprido apenas pelos outros.
Apenas para relembrar, algumas críticas aos presidentes anteriores tornaram-se clichês. As excessivas viagens e medidas provisórias foram suplantadas. As mordomias anteriores são insignificantes perto das atuais despesas com cartão de crédito e do aerolula.
Em artigo na revista Veja de 1º de junho, Diogo Mainardi menciona despesa de R$ 4.681.763,90 que seria para restaurar o centro de Ribeirão Preto quando o prefeito era o atual ministro da Fazenda Antonio Palocci, mas a obra não foi realizada. Outra citação no mesmo artigo, teria sido a compra de unidades do dicionário Aurélio por 643 reais pelo BNDES, quando no mercado custaria 154,80.
Outro escândalo foi a edição de medida provisórias para salvar as contas da prefeita de São Paulo e livrá-la da inelegibilidade e a que tornou Henrique Meireles ministro. Como o Banco Central continuava subordinado ao Ministério da Fazenda, Jânio de Freitas mencionou que o Supremo Tribunal Federal, ao votar pela constitucionalidade da medida, teria criado a hierarquia dos iguais.
Casos de corrupção em governos anteriores não são apurados pelo modelo petista de administrar. Waldomiro Diniz pode ser elevado à condição de ministro num próximo governo do PT. Nestes casos, o presidente recomenda o silêncio aos seus subordinados.
Para coroar o modelo PT de administrar surgiu o caso filmado de corrupção de um diretor dos Correios. Até aí é apenas a regra. A corrupção é mesmo generalizada no Brasil, de forma descaradamente dissimulada, principalmente sob o manto da “legalidade” de licitações direcionadas. Todo mundo sabe e convive pacificamente com isso. Mas a desilusão veio com a tentativa de barrar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) pelos inventores da ética na política. De tão geniais, não foram capazes de mudar os argumentos, antes tão combatidos.
Vez ou outra, algumas pessoas são presas por falar em droga, sob alegação de apologia ao crime. Quem lê a Veja desta semana, constata a apologia concretizada ao roubo, com nomenclaturas como desvio de verba, obras não realizadas, indicações, contratações e licitações. Roubo de bilhões, respaldado pela impunidade! Algum jornalista já deveria ter perguntado: o que é desvio de verba? Deve ou não ser punido? Por quem? Quem é favorecido com a morosidade da Justiça? Por que ela se perpetua?
O presidente do partido sempre dizia que CPI era necessária devido ao tratamento político que deveria ser dado aos fatos, independentemente da atuação dos outros órgãos oficiais. Como dizia a faixa no Congresso: “PT, quem te viu, quem te vê”; vê que conseguiu matar a última que morre: a esperança.

Pedro Cardoso da Costa, da Justiça Eleitoral de SP


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OBSERVATÓRIO


O “PED” e o futuro do PT

Waldemar Rossi

As eleições internas ao PT revelaram o que muitos dos seus militantes - atuais e antigos - vinham dizendo: o PT já foi um partido democrático, das mudanças, não é mais. Qualquer cidadão bem informado sabia que tais eleições seriam marcadas por vícios que vêm inviabilizando o exercício da verdadeira democracia partidária e a sua fidelidade aos princípios da solidariedade de classe. A imprensa publicou fatos e fotos incontestáveis sobre os desvios políticos e ideológicos vividos em mais uma infeliz experiência eleitoral a que chamam de “Processo de Eleições Diretas”.
Ouvi testemunhos de companheiros que ainda estão filiados ao PT revelarem os desvios éticos que marcaram o PED. Formaram-se milhares de pequenos “currais eleitorais” dentro da estrutura do único partido que, neste país, nasceu de fato das lutas dos trabalhadores e das lutas do movimento social. O PT, aos poucos, devido às matrizes ideológicas autoritárias e sectárias, foi se transformando num instrumento de manipulação política das suas bases e de controle de setores do movimento social: sindicatos, outrora “combativos”, foram sendo progressivamente aparelhados pela corrente majoritária petista e colocados como “correias de transmissão” partidária, o mesmo acontecendo com a CUT; muitos dos movimentos populares passaram a receber orientações políticas dos assessores parlamentares e tiveram suas ações controladas e canalizadas para os interesses exclusivamente eleitorais; os núcleos partidários desapareceram e os diretórios tornaram-se aparelhos de grupos ou mesmo de eternos candidatos. O que se vê então, é o uso da máquina partidária em favor do grupo “a” ou “b”, do vereador “c” ou do deputado “d”, em detrimento da democracia e das lutas sociais pela justiça.
Em cada um dos milhares de diretórios petistas espalhados pelo país se pôs em prática os mesmos desvios e vícios que o conjunto dos partidos da direita vêm aplicando no Brasil: o voto comprado, o pagamento da anuidade, o eleitor transportado pelo carro do vereador ou do deputado, e do ônibus ou da perua alugada, do conchavo, do voto despolitizado com a cédula já preenchida, enfim o voto de cabresto.Um triste espetáculo para quem via no PT o partido das transformações sociais.
Se para muitos dos seus militantes autênticos o PED/2005 seria a oportunidade para o saneamento partidário, ficou evidente que ele foi a pá de terra que faltava para o sepultamento definitivo do partido da prática democrática e das transformações políticas e sociais. O PT continuará existindo, agora como um partido da ordem, como sempre quis a direita, ou como o excelente filósofo Paulo Arantes afirmou em sua entrevista ao Correio (edição nº 464): “Sem projeto próprio, salvo o de ingressar no condomínio patrimonialista brasileiro, o governo não será expulso, apesar de todo o foguetório, apenas reciclado como sócio menor”. Frase que muito bem se aplica ao PT, que com Berzoini ou Pont será lambe-botas do governo Lula e este um simples serviçal do capital internacional - em troca de sobrevivência no clube dos partidos consentidos, aquilo a que a direita se propôs a fazer desde o início da vida do Partido dos Trabalhadores. O capital percebeu que, domesticado, esse partido funcionaria como instrumento legitimador da estrutura de exploração capitalista, aquilo mesmo que os sindicatos pelegos têm sido ao longo da História do movimento sindical.

Waldemar Rossi, dirigente da Pastoral Operária, é um dos colaboradores desta coluna.