SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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JJ - Edição 222 - 06/09/2005 - Página 8

CRISE DO MENSALÃO


Ir às ruas contra a ‘pizza’

‘Acordão’ pode levar as CPIs a apenas punir algumas cabeças
e a poupar parlamentares e o presidente Lula
* Novo ato contra a corrupção, Lula e Serra é convocado para dia 15 em SP

Manifestantes durante a marcha a Brasília dia 17 de agosto,
contra a corrupção e as políticas do governo Lula

Por Hélcio Duarte Filho

Dentre as ‘alegorias’ levadas à marcha contra corrupção e o governo Lula que movimentou Brasília no dia 17 de agosto, referências a pizzas estiveram entre as mais freqüentes. Motivos não faltam para a desconfiança de que podem dar em nada as três comissões parlamentares de inquérito instaladas no Congresso Nacional, para apurar as denúncias de corrupção e irregularidades contra deputados e membros do governo federal. Ou, nos termos já consagrados em outras crises e CPIs, acabar em pizza.
As polêmicas declarações do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), na segunda-feira 29, corroboraram para tornar este ‘cheiro’ de mussarela e orégano mais forte. “Ninguém merece execração pública sem provas”, disse ao jornal “Folha de São Paulo”, ao defender penas mais brandas para os deputados que sacaram dinheiro das contas do empresário Marcos Valério, acusado de ser um dos operadores do “mensalão”, mas justificarem os saques com despesas eleitorais. Para Severino, o esquema de compra de deputados pelo PT em troca de apoio ao governo Lula não existiu. Às vezes visto como figura folclórica, Severino, eleito presidente com os votos de 300 deputados, é fiel representante de um segmento expressivo da Câmara, ao qual Lula, em outros tempos, chamou de “picaretas”.
Na mesma semana em que Severino preparava a massa da pizza, o presidente Lula, num discurso inflamado, também defendia a tese de que nada fora comprovado até agora, apesar das confissões de deputados e empresários de que havia o repasse de recursos para partidos e parlamentares aliados por intermédio de Marcos Valério. A servidora da Justiça do Trabalho na 2ª Região Marinilda Dias, diretora do Sintrajud, está entre os que considera esta tentativa de ‘acordão’ inadmissível. Ela critica as declarações de Severino. “Com mensalão ou sem mensalão não tem pena branda para ninguém, caixa dois é crime também. E teve mensalão sim”, afirma.

Na marcha a Brasília, denúncia do ‘acordão’
Na marcha que levou mais de 20 mil a Brasília, organizada pela Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas) e outras entidades, já estava expressa a desconfiança com relação ao Congresso, as CPIs e os partidos de direita que se dizem de oposição, comandados pelo PSDB e PFL. “Fora todos” e um plebiscito para decidir sobre “eleições gerais” foram duas propostas de segmentos políticos presentes na marcha.
Outra reivindicação foi a anulação das reformas aprovadas sob a suspeita de compra de deputados, o que põe em xeque a legitimidade da composição do próprio Congresso. A principal das reformas, a da Previdência, resultou na redução de aposentarias e pensões e coincidiu com saques de quantias vultuosas das contas bancárias de Marcos Valério.
Com o intuito de afastar a ameaça de pizza e construir uma “alternativa dos trabalhadores para a crise política”, a Conlutas apontou a organização de uma jornada de manifestações nos estados. A primeira ocorreu no dia 1º de setembro em Belo Horizonte (esta edição fechou antes dela terminar). Depois, será a vez de São Paulo no dia 15 de setembro.
Estas manifestações vão voltar a defender que sejam cassados e presos todos os corruptos. O presidente Lula será responsabilizado pelo escândalo. No protesto em Brasília, adesivos, camisetas e faixas diziam “Elle sabia”, assim, com dois “l” em verde e amarelo, referência ao ex-presidente Fernando Collor, derrubado em 1992 após intensos protestos de rua.
Outras reivindicações, como a defesa dos serviços públicos e da campanha salarial dos servidores, também foram agregadas. Para a Conlutas, movimento do qual o Sintrajud participa e que reúne entidades que rejeitam o governo Lula, são a pressão e a organização popular que podem de fato mudar alguma coisa nas corrompidas estruturas de poder e no secular quadro de injustiça social do país.


Ato no dia 15 será na av. Paulista

Ao lado de outras entidades populares e sindicais, a Conlutas está convocando para o dia 15 de setembro um protesto em São Paulo contra a corrupção, o governo Lula e pela cassação de todos os corruptos.
O PSDB, PFL e os governadores Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra, acusados de aplicar em São Paulo a mesma política neoliberal adotada por Lula no plano federal, também serão alvos do protesto.
“Chega! Nem Lula, nem o Congresso e menos ainda PFL/PSDB e cia. têm legitimidade para governar”, diz o texto que convoca a manifestação , cuja concentração está marcada para as 15 horas na avenida Paulista (no vão do Masp) e que terminará com um ato às 17 horas, na praça Ramos. O Sintrajud está na organização do ato, que terá a participação de servidores do Judiciário, em luta pela revisão, com isonomia e paridade, do PCS (Plano de Cargos e Salários) da categoria.