SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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JJ - Edição 153 - 03/09/2003 - Página 2

FRASES


DE HOJE


“O silêncio de alguns que se calaram doeu mais do que o barulho das bombas que atiraram sobre nós”
Heloísa Helena, senadora, sobre a agressão da tropa de elite da Polícia Federal contra ela e servidores da seguridade social no prédio do INSS, em Brasília, durante a última greve.

“Se eu calar a minha voz hoje, eu posso amanhã vir chorar a morte de meu filho”
Iracilda Toledo, viúva do ferroviário Adalberto de Souza, uma das 21 vítimas da Chacina de Vigário Geral, praticada por policiais militares no Rio e que fez dez anos no dia 29 de agosto, explicando porque luta por justiça.

“Não quero ninguém choramingando na rua”
Lula, presidente da República, aos seus ministros, quando explicava que o orçamento para 2004 é o “possível”.


DE ONTEM


“Duro não é enfrentar o Collor; duro é enfrentar a Globo”
Lula, no início da campanha eleitoral de 1989.


IMAGEM



PROTESTO XIITA - Com palavras de ordem contra Saddam e os EUA, milhares de xiitas iraquianos foram às ruas de Najaf e Bagdá, no último sábado, contra o atentado que causou a morte de um dos principais líderes xiitas, o aiatolá Mohammed Baqr al-Haquim, quando um carro-bomba explodiu diante da mesquita do imã Ali matando mais de cem pessoas e ferindo 200.


Idéias

Uma página para a livre expressão de opinião


Cara a cara com um radical

Sérgio Taboada

Descendo as escadas do prédio onde trabalho, perguntei a um colega se ele não ia à palestra do deputado Babá (PT-PA), sobre a Reforma da Previdência, num auditório no Ministério Público do Trabalho. Ele disse não, pois “não ia muito com a cara” do parlamentar. No caminho, fui pensando se não encontraria um esquerdista de frases radicalóides e vazias. Esta imagem, às vezes, parece querer assumir o rosto do deputado, com aquele cabelo tipo Dartagnan e nome parecido com baba.
Chegando ao auditório com alguns minutos de atraso, percebi que Babá já transcorria sobre o tema com bastante naturalidade, sem qualquer postura “formal-parlamentar”. Em linguagem simples, clara e direta fomos esclarecidos da verdadeira situação da matéria no Congresso Nacional e da realidade da Previdência Pública no Brasil. Babá não parecia um “radical”, mas um cidadão humilde, um militante honesto e um deputado que enfrenta com convicção ideológica o governo que passou anos lutando para que chegasse ao poder, mas que, em quase tudo, faz diferente do que foi pregado com fervor quase religioso a vida inteira.
O governo Lula mantém com grande firmeza a política econômica “neoliberal” do FMI, distribui cargos para compor politicamente com setores conservadores da política nacional, tenta abafar CPIs, elege o funcionalismo público tão massacrado por FHC como o bode expiatório da crise da Previdência e mostra sinais de intolerância, ameaçando servidores em greve e até reprimindo com força policial atos na Câmara Federal. Tudo que era inaceitável para os adversários até alguns meses atrás começa a ser plenamente explicável.
Isto assusta, pois parece que não aprendemos com a história. Durante anos justificamos assassinatos em massa, perseguições e censura em outros países como atitudes revolucionárias. Depois que a verdade se impôs, absolutamente irrefutável, começamos uma “autocrítica” envergonhada que reconhecia como “erros” crimes abomináveis contra a humanidade. Naquela época também, os que divergiam eram “traidores do socialismo, agentes do imperialismo”.
Guardadas as proporções é o que se ouve atualmente. Os discursos se ampliam contra os privilegiados, mas os verdadeiros comensais seculares dos privilégios do estado brasileiro estão de braços dados com Lula. São os mesmos banqueiros e agiotas do sistema financeiro que eu, Berzoini e vários dirigentes bancários combatemos.
Descobri, cara a cara com o radical Babá, que este tipo de gente é mesmo especial. Independente do mérito de suas posições, tem as virtudes mais importantes e raras entre políticos de todas as tendências: sinceridade, coragem e desapego absoluto ao poder e suas facilidades. Por isto consegue ser fiel ao que pensa, mesmo numa eventual solidão política. Saí do debate pensando que Babá, Luciana Genro, João Fontes e Heloísa Helena provavelmente serão queimados na fogueira, mas irão caminhando e cantando, como muitos cristãos que em nome de sua fé morreram sorrindo.

Sérgio Taboada foi presidente do Sindicato dos Bancários do Acre,
membro da Executiva Nacional do Banco do Brasil e ex-deputado estadual
pelo PCdoB-AC por dois mandatos; é músico, compositor e funcionário do Ministério Público Federal.


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OBSERVATÓRIO


As encruzilhadas da História

Valério Arcary

Em um mês, um tribunal será instalado em São Paulo e um punhado de militantes, dirigentes e deputados vão ser expulsos do PT. O vaticínio foi decidido muito antes de serem ouvidas as testemunhas de acusação e defesa. Estamos observando, essencialmente, uma fraude política que o aparelho do PT está montando para justificar uma purga ordenada pelo Palácio do Planalto por exigência dos novos aliados.
O futuro do PT agora é decidido nos palácios de Brasília, em negociações que envolvem acordos não só com os partidos da burguesia brasileira no Congresso Nacional, mas diretamente com os representantes do mercado mundial. A que ponto chegamos!
Dias atrás, Lula se dirigiu à nação na televisão e anunciou que o país vai muito bem. ‘Há uma reforma agrária pacífica e tranqüila, pois o governo já convenceu os latifundiários que dentro da lei e da ordem não vai haver conflito algum. Há uma transição que tem custo, não é indolor, mas o Brasil está mudando para melhor, da maneira possível, em paz’.
É verdade que há um desemprego espantoso. Mas o verdadeiro problema são ‘alguns radicais que os dirigentes do MST não conseguem controlar, pessoas meio intratáveis que têm obsessão de saquear caminhões de bananas no interior, e uma casta de funcionários públicos egoístas sempre insatisfeita, que quer mais e mais’.
Até aqui, toda esquerda - moderada, semi-moderada, pré-moderada, para não falar dos radicais - tinha acordo de que no Brasil existia um problema chamado desigualdade social. Um gigantesco processo de concentração de renda que herdamos do Brasil colonial. Portanto, todo mundo pensava que o problema do Brasil eram os banqueiros, o latifúndio, os industriais. Estávamos totalmente errados?!!!
Diante disso, era de se esperar uma comoção dentro do PT, mas a imprensa só fala dos “três deputados radicais mais a Heloísa Helena”. Entretanto, nos locais de trabalho, nas fábricas, universidades, já são dezenas de milhares que estão observando o que acontece no Brasil e tirando conclusões. Isto é algo extraordinário. Numa vida, podemos assistir uma ou duas vezes. Aconteceu no Brasil, em 77-81, e está acontecendo de novo.
A primeira responsabilidade que temos é dar uma saída positiva para isso. Construir um novo movimento unitário a partir desta crise dramática que vive a esquerda brasileira, o que exige seriedade e maturidade. Um movimento que incorpore todas as forças da esquerda, na direção da construção de uma alternativa política, sob bases sólidas, que seja o ponto de apoio que vai acompanhar a luta da classe trabalhadora nos momentos de avanço e de recuo. Este é o desafio.

Valério Arcary, prof. de História no Cefet-SP, é um dos colaboradores desta coluna.