SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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JJ - Edição 72 - 19/10/2001 - Página 2

Idéias

Uma página para a livre expressão de opinião

Assédio moral

Rahme Barros Ladário

Depois que o assédio sexual virou crime, o tema começa a ser amplamente discutido.
O nosso jornal coloca também o tema em evidência, bem como o assédio moral. Sinceramente, não sei qual dos dois é o mais prejudicial à saúde do trabalhador.
Trabalho há dez anos no Judiciário e posso dizer que já presenciei muita coisa, e acredito que existe outro grande mal rondando os locais de trabalho: é o DESCASO. Somos material descartável.
Quando entramos no Judiciário, não nos oferecem nenhum tipo de curso preparatório para que possamos desempenhar nossas funções corretamente. Você tem que aprender na prática.
Com o passar do tempo, você percebe que se não for o melhor, derrubam você. E então você se dedica, trabalha muito além do seu horário, aos sábados, domingos, feriados e até nas férias. Tudo para mostrar que você tem capacidade de produzir o melhor. Aí vem o golpe. Você tem três opções: ou recebe uma função comissionada, onde você mata e morre para não perdê-la; ou não a ganha e fica profundamente decepcionado(a), por não ter toda sua dedicação reconhecida, começando, às vezes, a colocar defeitos naqueles que ganham; ou você ganha inúmeras doenças decorrentes do trabalho excessivo, como LER, estresse, depressão, entre outras.
Sendo assim, você começa a se perguntar: o que somos? Objetos? Máquinas? Ou até mesmo brinquedos?
Depois de tudo isso, ainda vem a tal de "qualidade total". Essa é conhecida de todos, pois foram fazer curso... é, porque para isso tem curso.
Você analisa e percebe que faz esse tipo de qualidade total há dez anos e já aperfeiçoou métodos de trabalho excelentes, para dar conta da imensa quantidade de tarefas que deve desempenhar. Mas assim mesmo ELES querem mudar, burocratizar, complicar tudo. O que funciona deve ser mudado para não funcionar. Será que ninguém percebeu que o interesse não é o jurisdicionado, e sim os patrões?
É claro que sabemos que existem funcionários que não trabalham, que enrolam o dia todo, enchem a mesa fingindo que têm muito a fazer. Mas também sabemos que a grande maioria trabalha por eles.
Por essas razões chego à conclusão de que um dos grandes males do Judiciário é o descaso. Não se importam com você, não te pagam o justo, não te dão condições de trabalho, material para desenvolver suas funções. Mas mesmo assim você improvisa e realiza tudo com sucesso. Se você é produtivo(a), te elogiam. Dizem que você é ótimo (a), que sabem que podem contar com você para tudo, te usam até que adoeças, para então te descartarem como uma máquina velha.
Depois de ler algumas partes do relatório médico do Judiciário, pude perceber que estamos gravemente doentes. Eu diria até que estamos em coma profundo.
A persistir essa situação, a falência desse sistema será inevitável. Precisamos combatê-lo a todo custo. Afinal, não somos máquinas, somos seres HUMANOS. Devemos e exigimos ser tratados como tal.

Rahme Barros Ladário (Teka)
> é servidora da Justiça Federal em Guaratinguetá e diretora do Sintrajud.


OPINIÃO DO SINTRAJUD


FHC e a Guerra

O presidente Fernando Henrique Cardoso usou rede nacional de TV e rádio para defender o apoio do governo brasileiro ao bombardeio dos Estados Unidos ao já destruído Afeganistão, que carrega 23 anos de guerras ininterruptas.
Poderia ter aproveitado o precioso tempo para anunciar o início do "plano B" do racionamento de energia no Nordeste, que fará com que aquela região do país tenha decretado três novos feriados este ano. E com que a meta de economia de energia suba para 30%, isto sobre a média de maio, junho e julho, época em que o consumo é naturalmente menor. Ou para abordar as 1.800 recentes demissões só na Embraer, empresa que fabrica aviões e recebe subsídio estatal para concorrer no mercado exterior.
Mas não. Preferiu ater-se à guerra no Oriente Médio, com uma retórica marcada pelo tom de que a guerra é aqui e a ameaça do terrorismo iminente.
Esse discurso bélico, entretanto, destoa da opinião dos brasileiros. Pesquisa divulgada pouco antes, mostrou que quase 70% da população reprova os ataques ao Afeganistão. Percentual superior descarta o apoio do país à guerra de Bush.
Atos terroristas são sempre repudiáveis porque, mesmo que possam ter na origem objetivos ideológicos e políticos legítimos, atingem alvos civis e indiscriminados. O bombardeio norte-americano e inglês sobre ao Afeganistão, sob a desculpa de combate ao terrorismo, na prática converte-se num massacre de civis e, consequentemente, também numa agressão que pode ser classificada como terrorista. Inaceitável, igualmente, é a verdadeira partilha que os EUA querem fazer do país, outorgando-se no direito de definir quem vai compor o governo afegão.
O futuro de cada país tem que estar nas mãos de seu povo. O que ocorre agora no Oriente Médio é uma intervenção bélica e política escancarada contra um Estado soberano. Abre caminho para atos similares em outras regiões nessa nova realidade mundial, inclusive na América do Sul.
A posição do presidente Fernando Henrique é compreensível, mas nem por isso menos repugnante. Prefere mirar suas baterias para a guerra na outra parte do mundo e esquecer a crise econômica, social, política, moral e energética que atinge as terras sob sua jurisdição. Na passeata do funcionalismo na quarta-feira passada no Rio, servidores das universidades em greve levavam cartaz com a foto de um suposto terrorista e as seguintes frases: "Osama Bin Laden> Não. Paulo Renato de Souza, terrorista da Educação. Seqüestrou nossos salários.". Como se vê, nós também temos os nossos "terroristas". Só que aqui, eles têm status de ministro e autorização oficial para destruir setores como a educação e a saúde.


AGENDA SINDICAL


VAI ACONTECER

25 de outubro - Dia Nacional de Luta em defesa dos serviços públicos. Em SP haverá ato unificado no TRE, às 14h. - Reunião do Núcleo dos Oficiais de Justiça, 17h, no sindicato.
26 de outubro - Abertura da 2ª Mostra de Artes do Sintrajud, no Centro Cultural da Marinha.
30 outubro - Assembléia setorial do TRT, no sagão da Alfredo Issa, às 16h


ACONTECEU

20/21 de outubro - 6ª reunião do Conselho de Base, em SP.
20 de outubro - Assembléia geral extraordinária, no Hotel San Raphael, em São Paulo.
18 de outubro - Assembléia setorial do TRF/JF.
12 e 13 de outubro - 1º Encontro da 15ª, em Campinas.
11 a 14 de outubro - XXIII Congresso Nacional dos Advogados Trabalhistas, na Bahia.