No último sábado, 26 de setembro, o Coletivo de Mulheres do Sintrajud – Mara Helena dos Reis realizou o seminário ‘O que é machismo: origens e consequências’. A atividade abriu o ciclo de formação voltado para os trabalhadores e trabalhadoras do Judiciário Federal de São Paulo e teve a participação das especialistas Jane Barros, professora licenciada da Unifesp e assessora da deputada Talíria Petrone; de Marcela Azevedo, da executiva nacional do Movimento Mulheres em Luta e da CSP Conlutas; e de Tainã Góis, advogada integrante da Rede Feminista de Juristas.
A realização de um ciclo de debates sobre a opressão vivenciada pelas mulheres é parte do combate ao machismo na categoria e na sociedade. Desde a sua fundação, em 2017, o Coletivo de Mulheres do Sindicato já realizou outros quatro seminários: sobre a origem das opressões, sobre o assédio sexual, sobre violências contra mulheres negras e sobre o racismo interseccionado com o machismo.
O seminário do último fim de semana foi aberto com a apresentação da servidora Cláudia Sperb, aposentada do TRE e diretora do Sindicato. A servidora interpretou no piano a música “Triste, Louca ou Má”. Além da apresentação musical, a poetisa Lalinha Damasceno recitou a poesia “Mulheres Muralhas”.
As palestrantes explicaram que as opressões e o machismo existem mesmo antes do capitalismo, no entanto, tornaram-se parte estrutural da sociedade capitalista na medida em que são utilizados para aumentar a exploração e favorecer a própria reprodução do capital. “O machismo não é natural, as pessoas não nascem assim, mas existe mesmo antes da sociedade de classes. A questão é que o capitalismo se utilizou disso e não há sequer um exemplo na história de um país que não tenha submetido a classe trabalhadora à opressão e exploração de forma combinada para garantir a reprodução e manutenção deste sistema”, afirmou Jane Barros.
Ao utilizar-se do machismo, foi possível reduzir salários das mulheres e garantir que atividades fundamentais para a sociedade, como os trabalhos domésticos e cuidados com crianças e idosos, não sejam remunerados ou tenham remuneração muito baixas. “O capitalismo se beneficiou muito das opressões para sua reprodução e, mesmo rompendo com a estrutura básica do patriarcado e tendo no Brasil, por exemplo, mais de 40% das mulheres sendo chefes de família, ainda é ideologicamente imposta a centralidade do homem na sociedade, a apropriação dos corpos femininos e todos os aspectos que garantem a super exploração, e que mulheres ainda tenham salários menores que os homens”, disse Marcela Azevedo.
Para as palestrantes, o debate sobre o machismo como um pilar fundamental do capitalismo não pode ser confundido com a naturalização desta prática e com a ideia de que não é possível mudar as estruturas da sociedade. “A opressão é cruel porque divide a classe trabalhadora, segmenta lutas e a gente sabe que as grandes vitórias que conquistamos até hoje, como a redemocratização, foram conquistadas com muita unidade. Debater o machismo é entender o seu funcionamento e buscar formas de mudar padrões e comportamento”, ressaltou Tainã Góis.
A servidora Fausta Fernandes, integrante do Coletivo de Mulheres, lembrou que o debate foi um encaminhamento do Coletivo após uma denúncia de machismo durante as eleições para a nova direção do Sindicato. Para Fausta, debater o tema, buscando suas origens, é uma forma de fortalecer as mulheres da categoria e de conscientizar os servidores. “Debates e momentos de formação como estes, abertos aos colegas, nos ajudam a entender o que é o machismo, sem naturalizar e para combater”, destacou a servidora. “O homem que comete um ato machista não é necessariamente um canalha, o problema está no momento em que uma companheira aponta o machismo e ele nega, diz que estamos com ‘mimimi’”, finalizou Fausta.
A próxima atividade deste ciclo acontece no dia 17 de outubro, também das 14h às 17h, via plataforma Zoom. O tema do segundo encontro será ‘Feminismos’. A proposta é discutir as diversas vertentes e visões sobre a luta contra as desigualdades sociais motivadas pela condição de gênero. Esta será uma atividade voltada somente para a parcela feminina da categoria (servidoras do Judiciário, estagiárias e trabalhadoras terceirizadas que atuam nas unidades do Poder no estado) e funcionárias do Sindicato.
O Seminário ‘Feminismos’ terá como palestrantes Amelinha Teles (advogada, fundadora da União de Mulheres de São Paulo e coordenadora do Curso de Promotoras Legais Populares daquela entidade, desde 1994), a servidora do TRT Helena Pontes (especialista em Direito do Trabalho pela Faculdade de Direito da USP e militante feminista amefricana) e Érika Andreassy (enfermeira e pesquisadora em saúde do trabalhador e na temática de gênero do ILAESE: Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos).
Veja a íntegra do Seminário realizado no dia 26: