Ao receber manifesto, Arthur Lira nega estender debate sobre ‘reforma’ administrativa


05/08/2021 - Helcio Duarte Filho
Posição do presidente da Câmara, após receber das entidades sindicais manifesto contra a PEC 32, reforça avaliação de que é preciso ampliar mobilização em agosto.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), descartou o apelo de representantes das centrais sindicais, sindicatos e parlamentares para retirar de tramitação a proposta de ‘reforma’ administrativa ou, pelo menos, estender o calendário com que trabalha para apreciar a matéria em Plenário.

Aliado do presidente Jair Bolsonaro, Lira reafirmou a intenção de levar a PEC 32 ao Plenário até o final de agosto. Disse ainda que, a partir da próxima terça-feira, dia 10, a ‘reforma’ deve “tomar prumo” e ser o centro das atenções na Câmara.

Representantes de 11 centrais sindicais e demais entidades que integram o movimento “Contra a PEC 32” foram recebidos, ao final da tarde da quarta-feira, 4, pelo presidente da Câmara. Os dirigentes sindicais entregaram a Lira um manifesto que defende a suspensão da tramitação da PEC 32 e define a ‘reforma’ como um crime contra os serviços públicos e a população.

Ato na véspera

Na véspera, uma manifestação conjunta em Brasília já havia protocolado o documento na Câmara. O servidor Fabiano dos Santos, da direção do Sintrajud e da federação nacional (Fenajufe), participou da manifestação em Brasília e ressaltou que a PEC é integralmente ruim para os serviços públicos e a população. “É um reforma que precisamos derrotar por completo, que não admite emendas”, disse. O ato reuniu servidores municipais, estaduais e federais e foi a primeira atividade de rua após o Encontro Nacional do Setor Público, organizado pelas centrais, entidades do funcionalismo, representadas pelo Fonasefe (Fórum Nacional das Entidades dos Servidores Públicos Federais), e pela Frente Parlamentar Mista do Serviço Público.

O encontro aprovou, além do manifesto, um plano de mobilização cujo objetivo é barrar a ‘reforma’. É parte desse calendário o dia de mobilizações e greve geral do funcionalismo que está sendo construído para 18 de agosto. A PEC 32 está na Comissão Especial da Câmara, de onde deverá ir ao Plenário e, caso aprovada, ao Senado Federal.

Reunião com Arthur Lira

A reunião durou quase uma hora e foi transmitida pelas redes sociais das entidades – incluindo a página do Sintrajud no Facebook. O presidente da Câmara ouviu os representantes das centrais e parlamentares, que criticaram o conteúdo da ‘reforma’ e defenderam o seu arquivamento. Foi lembrado que há uma agenda positiva em relação aos serviços públicos que poderia ser colocada em pauta no lugar de uma proposta de emenda constitucional que aponta um futuro trágico de privatizações e terceirizações generalizadas.

O presidente da Câmara iniciou a reunião dizendo ser a pessoa “mais pragmática” que conhece e que, por isso, não entraria em detalhes da proposta porque o seu conteúdo ainda estaria sendo elaborado na comissão especial.

Insistiu na ideia de que a PEC pode ser até totalmente modificada e que não haverá ataque aos atuais servidores. “Nós não vamos permitir que nenhum direito adquirido dos funcionários públicos atuais seja atingindo”, disse. “Direito adquirido é imexível”, afirmou. Porém, ao não debater os detalhes, ficou em aberto o que entende como “direitos adquiridos”.

Disse ainda que é contra a terceirização e as privatizações – sem explicar porque apoia uma proposta que abre caminho para as duas coisas e porque vem colocando os projetos de privatização das estatais como prioridades na Câmara. “Que o serviço público seja público, que se tenha concurso. Agora, a gente não poder redesenhar o sistema público brasileiro para um sistema mais moderno? O nascimento e o surgimento de novas profissões e o encerramento de outras tantas? Não se pode dizer que não é o momento, gente. Porque houve não sei quantas audiências públicas na CCJ, já se tem aqui 33 audiências na Comissão Especial…”, disse, sendo imediatamente contestado pelos presentes – já que não ocorreram e tampouco estão previstas nem um terço deste número de audiências.

Por mais de uma vez Lira afirmou que o texto pode e deve ser modificado. “Nós estamos falando de texto original, eu não estou nem aí para texto original. Qual a PEC que foi aprovada como veio? Pelo contrário, ela pode ser 100% modificada. O debate sobre o projeto original é perda de tempo”, disse, referindo-se ao texto enviado pelo presidente Jair Bolsonaro e elaborado na pasta do ministro Paulo Guedes (Economia).

Neste momento, a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) solicitou a ajuda do presidente da Câmara para que se possa de fato incidir sobre o conteúdo do texto que tramita na comissão especial. “Mas a minha ajuda não vai ser para retirar a PEC de pauta, Alice, não conte com isso”, respondeu Lira.

Logo em seguida, falou sobre o ritmo da tramitação. “A possibilidade que está no calendário, eu não vou mentir para os senhores, é que no final de agosto este texto esteja para vir ao Plenário da Câmara. Então nós temos todo o mês de agosto para discutir na comissão, com os deputados, com os partidos, com as centrais, com os sindicatos, com todo mundo interessado no tema”, disse.

Expressou ainda a avaliação deque nos próximos dias a proposta passe a ser o centro das discussões na Câmara. “Depois que nós votarmos a reforma tributária – a primeira etapa, a segunda vai levar mais tempo que a administrativa – a reforma administrativa passará a ser o foco das discussões e a partir daí eu acho que se acelerarão as conversas. Aqui, em geral, as coisas só pegam o prumo quando o cara sabe que vai ser votado”, disse. “Eu acredito que a partir da próxima terça-feira [10 de agosto] esse assunto da reforma administrativa engata e engata definitivamente para que a gente possa ter um final que pelo menos atenda a todos”, disse.

A retórica do presidente da Câmara de que está aberto ao diálogo e que o texto poderá ser integralmente modificado foi questionada na reunião. Mencionou-se a ‘reforma’ trabalhista como um exemplo de proposta que teve audiências públicas, apresentação de muitas emendas e que, ao final, resultou num projeto ainda pior para os trabalhadores – ficando a impressão de que o espaço de participação se constituiu numa mera formalidade.

Pouco antes do término da reunião, os representantes da campanha contra a ‘reforma’ fizeram um apelo ao presidente da Casa, para que o calendário fosse estendido. “Se você vai reconstruir ou pode reconstruir [o texto], precisa de tempo para discutir”, disse a deputada federal Érika Kokay (PT-DF). O deputado Arthur Lira se levantou, chegou a posar para fotos, e saiu sem responder à solicitação.

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