Vinícius Poit reafirma que vai votar na PEC 32 com o governo e contra serviços públicos


12/11/2021 - Hélio Batista Barboza
Deputado do Novo reafirmou apoio à “reforma” administrativa do governo Bolsonaro, ouviu que “quem votar, não volta”, mas acusou incômodo ao postar nas próprias redes sociais "explicações" inverídicas sobre por que defende o projeto.

Fotos: Jesus Carlos

O escritório do deputado federal Vinicius Poit (Novo-SP) na capital paulista foi “visitado” nesta sexta-feira, 12 de novembro, por servidores mobilizados contra o projeto de ‘reforma’ administrativa do governo Bolsonaro (PEC 32/2020). O deputado é o mesmo que no mês passado reagiu com agressividade à manifestação que “recepcionava” os parlamentares no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília.

Antes, já tinha protagonizado enfrentamento com trabalhadores do setor público quando defendeu e ajudou a aprovar a ‘reforma’ previdenciária do governo Bolsonaro, em 2019.

Nesta sexta-feira, Poit não foi encontrado no escritório, mas os servidores conseguiram falar com ele pelo celular, colocado em viva voz e ligado ao amplificador para ser ouvido por todos os que se encontravam na manifestação.

O deputado reafirmou seu apoio à PEC 32 e repetiu o discurso de que a ‘reforma’ valorizaria “os bons servidores” — sem explicar o que considera bons servidores. O autor da PEC, o ministro da Economia, Paulo Guedes, já afirmou que estes seriam os que não são “vazadores” (aqueles que denunciam irregularidades promovidas por chefes ou governantes, como no caso do escândalo da vacina Covaxin) e os “de confiança”.

Poit disse ainda que lutará para que magistrados, promotores e políticos sejam abrangidos pelas mudanças propostas, embora o texto que passou nas comissões e aguarda votação pelo plenário da Câmara não tenha nenhuma previsão nesse sentido e os quatro deputados de sua legenda que foram decisivos para aprovar o texto no colegiado que analisou o mérito da PEC não tenham proposto nada parecido.

“Vocês estão perdendo tempo, vou votar a favor da PEC”, disse o deputado. Os servidores avisaram mais uma vez que quem votar pela aprovação da “reforma” administrativa será punido nas urnas e não voltará a Brasília para um novo mandato.

Apesar do aparente desdém que tentou transmitir na ligação, Vinícius Poit deixou transparecer o incômodo com a manifestação. Em suas redes, publicou fotos e explicações sobre os supostos motivos que o fazem apoiar a PEC. Propagando uma fake news, associou os servidores do Judiciário presentes ao ato — e que são alvo da ‘reforma’ desde o seu início — aos magistrados e promotores que não são alcançados pelo texto.

Apoio de empresários

Após o ato, um assessor do deputado apareceu de bermuda para conversar com os manifestantes, repetindo a argumentação em defesa da “reforma”. João Ferreira, secretário parlamentar no gabinete, afirmou que o texto original apresentado pelo governo “era muito ruim”, mas que teria sido “aperfeiçoado” na comissão especial.

“Conseguimos melhorar muita coisa, na linha do que propomos”, disse o assessor, acrescentando que, apesar desse “aperfeiçoamento”, a PEC não será votada pelo Congresso. Os outros dois deputados que já tiveram seus escritórios “visitados” pela campanha contra a PEC em São Paulo – Alex Manente (Cidadania) e Samuel Moreira (PSDB) – também avaliaram que a “reforma” não deve avançar.

No entanto, em conferência a empresários e investidores nesta quinta-feira, 11, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o governo trabalhará para conseguir a aprovação da ‘reforma’ até o fim do ano. Segundo o portal da revista Exame, Guedes pediu o apoio dos empresários à PEC 32 e à PEC dos Precatórios em troca da prorrogação da desoneração da folha salarial por mais dois anos.

À noite, em sua live semanal, o presidente Jair Bolsonaro disse que os empresários assumiram o compromisso de ajudar o governo em ambas as pautas.

Os servidores já têm uma extensa agenda de atividades para barrar o projeto. Além da continuação das visitas aos escritórios políticos dos parlamentares estão programadas novas vigílias no Congresso Nacional e rondas nos gabinetes dos deputados, que na próxima semana completam a décima rodada sequencial, manifestações nas ruas de Brasília e nos estados. Há ainda um indicativo de paralisação em 8 de dezembro, Dia da Justiça.

Neste sábado, 13 de novembro, as entidades que organizam a luta contra a PEC 32 realizam a partir das 8h30 a Plenária Nacional do Serviço Público. A reunião será virtual, pela plataforma Zoom, tendo como principal objetivo o fortalecimento da campanha.

“Não podemos vacilar”

“A PEC 32 significa tirar da população o direito à creche, ao posto de saúde e à vacinação que agora precisamos para enfrentar a pandemia”, discursou o diretor do Sintrajud Fabiano dos Santos, no ato desta sexta-feira. “Querem acabar com o servidor público concursado, colocando no lugar um trabalhador terceirizado que não ganhará mais do que o piso da categoria. E dizem que isso vai melhorar o serviço público… Não tem lógica!”, completou.

“Foi o serviço público, mesmo com o SUS precarizado, que garantiu uma proteção mínima contra a pandemia e impediu que tivéssemos um número ainda maior de mortos”, apontou Henrique Sales, também diretor do Sindicato.

“Esse é o momento de luta, não podemos vacilar”, disse Antonio Melquíades, o Melqui, dirigente que está participando das atividades em Brasília. “O trabalho está surtindo efeitos e a gente chama todo o funcionalismo, todas as categorias (municipais, estaduais, federais e de todos os poderes) a engrossar fileiras contra a destruição do serviço público”, acrescentou Tarcisio Ferreira, outro diretor que está em Brasília nesta 9ª semana de mobilização na capital federal.

 

Assista abaixo ao vídeo com a transmissão ao vivo do ato:


Colaborou: Luciana Araujo

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