TRE “lava as mãos” em webinário sobre volta ao trabalho presencial

Planejado para orientar e tranquilizar os servidores quanto ao retorno para o trabalho presencial, um webinário transmitido pelo TRE na última sexta-feira, 17 de julho, acabou deixando muitos deles ainda mais assustados e até indignados.

Três médicos da Coordenadoria de Atenção à Saúde (CAS) do Tribunal, mais o diretor-geral Claucio Corrêa, limitaram-se a detalhar as medidas estabelecidas pelo TRE para a reabertura dos cartórios eleitorais e demais locais de trabalho, além de apresentar um vídeo com minuciosas instruções sobre como lavar as mãos.

Nos comentários do vídeo, a reação foi de ceticismo e revolta. “Estamos há quatro meses recebendo orientações de especialistas sobre como lavar as mãos; essa explicação é desnecessária”, comentou um servidor que assistiu à transmissão. “Central é saber quem será o responsável se um servidor se contaminar e morrer”, reclamou.

“Minha dúvida é em relação ao usuário do transporte coletivo: sempre pedem para tomar banho e trocar as roupas. Onde vamos nos desinfectar na sede?”, indagou outra servidora.

Um dos médicos chegou a sugerir que as pessoas não usem as mãos no transporte público. Ele afirmou também que, com o uso de máscaras, o distanciamento e a lavagem das mãos, a segurança para a volta ao trabalho presencial “é muito grande”.

Há mais de um mês a diretoria do Sintrajud vem apontando à administração do TRE a insuficiência dessas medidas e a necessidade de o Tribunal se contrapor ao Plano São Paulo de flexibilização da quarentena, lançado pelo governo João Doria (PSDB).

Nas assembleias setoriais que os servidores têm realizado durante esse período, eles alertam para o risco de as eleições municipais provocarem uma explosão no número de casos e de óbitos pela covid-19. Denunciam ainda o perigo a que estão expostos os colegas que já trabalham na preparação do pleito, além de trabalhadores terceirizados, requisitados e estagiários.

Cartórios sem ventilação

Questionado sobre a aquisição de termômetros, Claucio declarou que por enquanto esses equipamentos serão adquiridos apenas para a sede, onde há maior fluxo de pessoas.

“Estamos muito preocupados com a saúde de todos, mas também estamos conscientes do nosso papel para a realização das eleições”, afirmou o diretor-geral. “Cartório fechado não faz eleição.”

Um servidor lembrou que existem cartórios sem ventilação adequada, mas o mesmo médico que sugeriu não usar as mãos no transporte público minimizou o problema. Disse que cada caso teria de ser estudado, mas que “uma porta ampla já faz a ventilação”.

A diretora de base e servidora do TRE Raquel Morel quis saber quantos colegas do Tribunal foram infectados pelo novo coronavírus. George Meireles, médico da CAS, informou que um servidor requisitado no interior faleceu no início da pandemia e que outros três chegaram a ir para a UTI, mas se recuperaram. “Tenho acompanhado todos os casos”, garantiu.

Também na última sexta-feira o Sintrajud protocolou no Tribunal o parecer solicitado ao Grupo Covid-19 (núcleo de pesquisadores e profissionais da área médica de diversas universidades que discute ações e políticas para o enfrentamento à pandemia no Brasil) e o manifesto dos servidores do TRE contra a retomada das atividades presenciais.

Assembleia geral e Encontro Nacional discutem greve

O retorno ao trabalho presencial está programado para a próxima segunda-feira, 27, quando começa a primeira etapa da retomada, que se estende até 31 de agosto, conforme Resolução do Tribunal.

Antes disso, porém, os servidores participam da assembleia geral da categoria nesta quarta, 22, às 14 horas, e do Encontro Nacional de Servidores da Justiça Eleitoral (Eneje) no sábado, 25.

Em ambos os eventos, realizados em ambiente virtual, será discutida a possibilidade de greve da categoria contra o retorno ao trabalho presencial, inclusive com a adesão de outros ramos do Judiciário (a Justiça Federal também planeja iniciar o retorno na segunda-feira). Os servidores do TRE já se declararam em estado de greve sanitária.

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