Sociólogo debate impactos da crise do coronavírus no mundo do trabalho em live


04/05/2020 - Shuellen Peixoto
Transmissão que aconteceu na última quinta-feira, 30 de abril, teve a presença do professor Ruy Braga, da USP.

Os impactos da crise do coronavírus na economia e no mundo do trabalho foram o debate da décima sexta transmissão online realizada pelo Sintrajud, que aconteceu na última quinta-feira, 30 de abril. A live teve a presença do professor Ruy Braga, titular do departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, e dos diretores do Sindicato Luciana Carneiro e Tarcisio Ferreira.

Para o professor, que é especialista em Sociologia do Trabalho, a pandemia impõe uma situação de muita incerteza com relação a prognósticos para um futuro próximo, no entanto, é possível afirmar que as desigualdades, o desemprego e o subemprego vão aumentar.

Apesar do crescimento do home office, o sociólogo destaca que muitas atividades não irão se adaptar ao trabalho remoto e poderão desaparecer, aumentando o desemprego.“Nos últimos 45 dias, foram cerca de 1 milhão de trabalhadores que recorreram aos Seguro Desemprego, ou seja, 1 milhão de demitidos e, segundo relatório do FMI, espera-se um aumento de mais de 5 milhões de trabalhadores desempregados nos próximos meses”, afirmou Ruy.

Diante da situação, muitos trabalhadores recorrem ao trabalho informal ou acabam no subemprego em plataformas como Uber e iFood. Somente no mês de março, segundo a sessão Igualdades da Revista Piauí, foram 212 mil novos entregadores cadastrados no iFood. Ainda segundo o levantamento da revista, desde a sanção da MP 936 centenas de empresas firmaram acordos coletivos com sindicatos para reduzir a jornada e o salário de funcionários. Até o meio de abril, para cada acordo que reduziu salários em 25%, outros dois acordos reduziram salários em 50% ou mais.

“A questão é que a informalidade vai ter de absorver essa massa [de pessoas]. O problema é que a economia informal se dá basicamente nas ruas, onde está o perigo de contágio”, destacou o pesquisador. “Ou seja, quando se fala do aumento do desemprego, do subemprego e formalidade, se fala também do aumento do risco do contágio e, consequentemente, de um aprofundamento da crise de saúde pública”, alertou.

Ainda na opinião de Ruy Braga, o auxílio emergencial, aprovado pelo governo, é uma politica de distribuição de renda importante no momento, apesar do baixo valor, que deveria se mantida por mais tempo. O auxílio emergencial foi aprovado no Congresso Nacional no final de março. O valor inicialmente proposto pelo governo Bolsonaro era de R$ 200, mas após debate na Câmara dos Deputados, passou a R$ 600,00 ou R$ 1.200,00 – no caso de mães solteiras. “O auxílio, como diz o nome é emergencial, com duração de três meses. No entanto, a crise não irá acabar nestes três meses”, destacou o sociólogo.

Para servidora Luciana Carneiro, diretora do Sintrajud, apesar da importância da política de auxílio emergencial, o governo federal está aprofundando a agenda de precarização e retirada de direitos, enquanto garante o lucro dos banqueiros e grandes empresários. “O projeto deles é se apropriar desse momento para aprovar medidas que atacam de forma profunda o direito dos trabalhadores, com redução salarial e suspensão de contratos. O auxílio não é um valou desprezível, mas só no início da pandemia o governo destinou dez vezes mais para os bancos, ou seja, os lucros continuam em primeiro lugar”, destacou.

Na opinião de Ruy Braga, há uma nova agenda política e econômica sendo constituída de forma autoritária e reacionária, mas ainda não seria possível apontar quais serão os efeitos desta. O sociólogo acredita que a distribuição do auxílio pode até fortalecer o apoio ao governo, mas com o aprofundamento da crise sanitária e econômica, o mais provável é que haja também um impacto na crise política. “O presidente não foi capaz administrar a crise, não tem resposta para a crise econômica, e minimizou a pandemia. A tendência é que se aprofunde a crise brasileira, num patamar que nunca se viu”, disse Ruy Braga.

Ainda na opinião de Ruy Braga, é necessário que os setores mais avançados e de defesa dos direitos dos trabalhadores estejam atentos para enfrentar o momento. “A crise será aguda e deverá atingir as empresas, a arrecadação e o Estado de forma devastadora. O problema é que quem está faturando e efetivamente se localizando politicamente perante o Bolsonaro são os setores conservadores e da direita, como João Dória e Rodrigo Maia”, afirmou.

Ainda durante a live, o diretor do Sindicato Tarcisio Ferreira homenageou o servidor Roberto José Alberto, conhecido como Roberto Balalaika, vitimado pela Covid-19 (veja matéria aqui). No Judiciário Federal, ao menos seis colegas no país já foram a óbito pela doença. Em São Paulo, além de Roberto, os oficiais de justiça do TRT-2 José Palitot Dias Jr. e Clarice Fuchita Kestring.

Acompanhe as lives do Sintrajud

As lives do Sindicato acontecem sempre às segundas-feiras, 17h30, e quintas-feiras, 11h, com transmissão pelas páginas no Facebook, no YouTube e também pelo site. Os vídeos ficam disponíveis em todos os canais.

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