SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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JJ - Edição 194 - 19/10/2004 - Página 2

FRASES


DE HOJE


“Aqui jaz Fernando Sabino. Nasceu homem, morreu menino”
Epitáfio concebido pelo escritor Fernando Sabino, que será colocado na lápide da sua sepultura.

“A gente acha que a esquerda é de um jeito, a direita de outro e o centro de outro. No governo aprende-se que a natureza humana é uma só. É fogo”
Ricardo Kotscho, assessor de imprensa de Lula.

“Candidato que não tem rejeição é puro H2O”
José Genoíno, presidente nacional do PT, ao avaliar o alto índice de rejeição da candidata petista Marta Suplicy.

“Os consumidores devem ter ceticismo como se estivessem diante de campanhas publicitárias de remédios, cigarros ou bebidas alcoólicas”
Marion Nestlé, nutricionista norte-americana, que não tem parentesco com os donos da Nestlé, sobre a propaganda de alimentos.


DE ONTEM


“Quem tem que se preocupar com imagem boa é aparelho de TV”
Romário, jogador de futebol.


IMAGEM



TELEGUIADO - As marcas nas costas do presidente norte-americano, George W. Bush, candidato à reeleição, alimentaram suspeitas de que teria usado um radiotransmissor para receber instruções do comando da campanha, no primeiro debate com o candidato do Partido Democrata, John Kerry. A Casa Branca primeiro alegou que a foto era forjada. Depois, culpou famoso alfaiate que há 40 anos faz os ternos presidenciais: disse que eram dobras no tecido. Bush passou boa parte do debate encurvado e por vezes interrompeu frases pelo meio, o que chamou a atenção.


Idéias

Uma página para a livre expressão de opinião


“Kit-juiz” é contraproducente

Marlene

Meu nome é Marlene, como poderia ser José, Lúcia, Dalva, Jorge ou Manoel. Optei por usar um codinome para não sofrer represálias, mantendo-me incógnita(o). As represálias assustam!!! Mas ao usar um nome fictício percebo o quanto sou qualquer coisa, absolutamente sem cara, sem história, sem voz, sem vez e obrigado a viver qual camaleão.
Explico-me: há anos trabalho na Justiça do Trabalho. Durante grande parte desses anos trabalho com pessoas que, com o passar do tempo, se tornaram amigas, numa formação coesa de equipe onde todos se conheciam, conviviam, ajudavam, aceitavam e respeitavam. Muitas vezes, um ou outro ajuste entre diferentes personalidades era natural, mas, mais natural ainda e, certamente melhor, era o resultado do entendimento que somente pela permanência, o tempo decorrido entre pessoas que convivem diariamente era possível.
Assim era, então, o ambiente que tínhamos nas varas do trabalho, onde havia a segurança de que veríamos nossos colegas, diretores, enfim, nossa equipe no dia seguinte. Poderiam os juízes virem e irem, mas a força motriz das varas, as engrenagens que compõem a máquina laboral continuava ali, pronta, funcionando redondamente, pois essas engrenagens (nós, servidores) não era, até então, descartável.
Hoje em dia vive-se a angústia do hoje aqui, amanhã acolá, depois de amanhã quem saberá? Chega-se a um local de trabalho, conhece-se a equipe e, como no namoro, de início a conversa é acerca da preferência das cores, credos, músicas, etc. Segue-se o romance até a iminência do noivado. Maiores entendimentos mútuos, confiança, adaptações e, como numa mágica feita por um Feiticeiro Mau, a diáspora. Lê-se num pergaminho vindo do alto escalão que foi decidido que nosso superior não será mais nosso, que cada colega irá para uma parte distinta e que aquela equipe tão boa e que funcionava tão bem não existirá mais. Novo juiz, novo diretor indicado por este (cargo de confiança), novo “kit” funcionário, igualmente indicado e que invade um ambiente antes já formado, com uma postura de “fantoche de rabo preso”. E assim, vamos lá todos nós, os “ficantes”, a verdadeira “mão na massa”, de novo recomeçar, recomeçar...
Daí posso ser Marlene, José, Lúcia, Dalva, Jorge ou Manoel, tanto faz. Que importância tem a individualidade? Todas as conquistas de um período de convivência não valem nada. A produção deve continuar ou, como se faz, aumentar.
E nós, desconsiderada toda parte humana, temos que entrar na linha de produção e não nos acostumarmos à ninguém, não conhecer muito bem pessoa alguma, não criar vínculos, não criar um ambiente bom de trabalho. Nada. Somente produzir, como se não sentíssemos saudades de nossos colegas-amigos ausentes.
Nosso local de trabalho é para a produção. O resto é decoração, bico de crochê em toalha de banheiro público. E assim vamos, numa eterna readaptação, segurando a dor, escondendo a angústia, tendo que rir, ser gentil e eficiente e, sempre, produzir. E a máquina que se monte novamente, rápido e perfeitamente, pois o “kit” está feito, serve a quem de direito e o resto.....Bem, o resto é o resto.

Marlene é o pseudônimo de uma servidora do Judiciário Federal.


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OBSERVATÓRIO


Quem teme o Brasil dos manos?

Eduardo de Oliveira

O presidente Fernando Henrique Cardoso lamentou, em um dos seus programas da propaganda eleitoral gratuita na campanha de 1998, que seu maior oponente, Lula, aparecesse ao lado de jovens com ares de marginais na TV. O episódio passou sem chamar muita atenção da mídia ou mesmo do messianismo atento do(s) movimento(s) negro(s). Isso, porque os jovens em questão eram todos negros da periferia de São Paulo, vestidos num estilo que já está se transformando em uniforme da juventude em qualquer canto do planeta, a chamada street wear – ou moda de rua.
Entretanto, um detalhe diferenciava os tais marginais vistos por FHC de muitos outros jovens da periferia: eles eram integrantes do grupo de rap de maior sucesso da história da indústria fonográfica do Brasil, que conseguiram, sem nenhum esquema de divulgação ou inserção paga na mídia, assustar o mercado com a venda de mais de um milhão de exemplares de seu disco independente. Os marginais de Fernando Henrique eram os membros dos Racionais MC’s.
A história do grupo poderia ser recontada como a história de muitos jovens que vivem nas áreas mais pobres das grandes cidades. Como eles próprios afirmam em uma de suas letras, periferia é periferia em todo lugar. As histórias de abuso policial, violência, miséria, descaso do poder público e falta de perspectivas são as mesmas para os moradores de Vigário Geral ou do Capão Redondo, bairro da Zona Sul de São Paulo que registra uma média de 13 homicídios por mês.
A realidade vivida pela enorme população que habita os bolsões de pobreza nas periferias das grandes cidades, somada ao enorme preconceito a que essas comunidades estão expostas, explicam um pouco do fenômeno Racionais MC’s e da surpresa que tomou conta da mídia brasileira com relação ao seu sucesso.
Nem mesmo os intelectuais e cientistas sociais conseguiram compreender ainda como é viver em lugares como Capão Redondo. O título do penúltimo CD dos Racionais, Sobrevivendo no Inferno, parece um grande exagero para quem não conhece o lugar. Talvez por isso, tanto a vida de quem mora na periferia como as letras dos rappers soem como ficção, ou até mesmo um enredo de um filme violento como os de Quentin Tarantino. Mas as letras desses grupos são inspiradas no sofrimento diário onde seus autores são meras testemunhas.
O trabalho do grupo se apresenta como uma reação à realidade que o “sistema” apresenta aos manos. Aqui, surge um aspecto fundamental à compreensão de seu sucesso e que talvez seja o que mais tem surpreendido a mídia. A idéia de mano está fortemente ligada à noção de negritude e orgulho e identidade racial. A primeira frase de seu último CD é Ogun Yê! - saudação ao Orixá Ogun, em yorubá. As camisas da grife do grupo trazem a inscrição “Preto tipo A” , mostrando um tipo de orgulho racial que é sempre visto como racista no Brasil. E esta é a surpresa. A música dos Racionais está trazendo algo que o movimento negro nunca conseguiu, comunicação de massa com a massa. Suas músicas e suas roupas são cantadas e usadas por jovens negros pobres da periferia, jovens negros de classe média, jovens mestiços de todas as classes e jovens brancos dos Jardins.

* Eduardo H.P. de Oliveira, sociólogo e coordenador executivo de Afirma Comunicação e Pesquisa
(www.afirma.org.br), é um dos colaboradores desta coluna.