SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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JJ - Edição 193 - 06/10/2004 - Página 6

OPINIÃO DO SINTRAJUD


Apoiar os bancários contra os banqueiros

O direito de greve existe, é legítimo e é legal. Mas alguns juízes e comandantes das forças de segurança do Estado parecem não pensar assim.
Decisões judiciais, de primeira instância, restritivas ao direito de greve foram deferidas contra as paralisações da Justiça Estadual, já encerrada, e dos bancários, ainda em curso até o fechamento desta edição.
Petroleiros de Sergipe que participaram da luta contra o leilão de reservas de petróleo nacionais também estão sendo retaliados.
Um sindicalista já disse que não há greve legal ou ilegal, o que existe é greve forte ou fraca. No ponto de vista político da coisa, é isso aí. Mas no aspecto legal, a Justiça não pode interferir desta forma, assumindo nitidamente a defesa de um dos lados da disputa.
É um erro. É parcial. E, mais do que tudo isso, é imoral. Não há defesa para a intransigência de banqueiros que lucraram como nunca nos últimos dez anos e que tentam massacrar os trabalhadores bancários, que nunca foram tão poucos e, provavelmente, jamais foram tão mal remunerados.


Extermínio, de novo

Seqüência de fotos feitas por um repórter-fotográfico do jornal “O Dia” no Morro da Providência, na região central do Rio, mostra os jovens Charles Machado da Silva, de 16 anos, e Luciano Custódio, de 24 anos, rendidos por policiais militares e, logo depois, mortos e sendo carregados pelos mesmos policiais.
O fato ocorreu no dia 26 de setembro e é reflexo de uma política de extermínio praticada pela polícia, tanto no Rio quanto em São Paulo, que atinge comunidades pobres, sob o suposto argumento de combate ao crime. Cinco policiais e o titular da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil), setor de elite da polícia carioca, foram afastados.
Depoimento de uma testemunha, cujo nome é mantido em sigilo, revela diálogo que dois policiais teriam travado pouco antes de executar o menor de idade:
– E esse outro aí? Ainda está vivo por quê?
– Acho que devemos levá-lo para o hospital.
– Não, tem que matar logo.
Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio, o Ministério Público e a corregedoria da polícia investigam o caso. Até o fechamento desta edição, nenhum policial havia sido preso.


Pra frente Brasil...

Na década de 70, em pleno regime militar, o Brasil era um país que ia “pra frente” e empolgava milhões de brasileiros “em ação”. No embalo do “milagre econômico”, o país crescia e o ministro da Fazenda, Delfin Neto, prometia para breve a divisão do bolo. Aos que diziam não, criou-se até o bordão “Ame-o ou deixe-o” (que depois viraria a famosa anedota “o último a sair apague a luz do aeroporto...”).
Nos porões da ditadura, entretanto, não havia graça: dominava a tortura e o assassinato de militantes de esquerda ou defensores da democracia, esta surrupiada do cenário nacional pelos generais apoiados por Washington.
Não vivemos mais os tempos sombrios da ditadura militar. O espetáculo do crescimento do atual governo também está léguas distante do “milagre econômico” de 70. Mas é impossível não fazer um paralelo entre a campanha ufanista dos militares, sob o embalo do Tricampeonato Mundial de Futebol no México, e a campanha nacionalista promovida pelo governo Lula. Há semelhanças na música, no uso político de esportistas vencedores e na concentração da solução de todos os males do país no possível crescimento econômico.
O fato é que a campanha não muda a realidade social de ninguém – como de forma brilhante registrou o cartunista Angeli em recente charge, bandeirinhas de 7 de Setembro não pagam a conta no supermercado – e muito menos do país. Mas pode criar um cenário imaginário positivo, bem ao gosto dos governantes, e animosidades para quem insiste em dizer não – assim como tentaram fazer com o “ame-o ou deixe-o”.




SÓ RINDO


A nacionalidade de Adão e Eva

Um alemão, um francês, um inglês e um brasileiro apreciam um quadro de Adão e Eva no Paraíso. O alemão comenta:
– Olhem que perfeição de corpos: ela, esbelta e espigada; ele, com este corpo atlético, os músculos perfilados... Devem ser alemães!
Imediatamente, o francês contesta:
– Não acredito. É evidente o erotismo que se desprende de ambas as figuras. Ela, tão feminina... ele, tão masculino... Sabem que em breve chegará a tentação... Devem ser franceses!
Movendo negativamente a cabeça, o inglês comenta:
– Que nada! Notem a serenidade dos seus rostos, a delicadeza da pose, a sobriedade do gesto. Só podem ser ingleses!
Depois de alguns segundos mais de contemplação silenciosa, o brasileiro declara:
– Não concordo. Olhem bem: não têm roupa, não têm sapatos, não têm casa e só têm uma única maçã para comer. Mas não protestam, estão pensando em sacanagem e ainda acreditam que estão no Paraíso. Só podem ser brasileiros!


CARTAS E E-MAILS


Sobre o artigo de Welington

O artigo do companheiro Wellington [publicado em Idéias, do Jornal do Judiciário nº 192] é equivocado pelas seguintes razões.
Os governos Marta e Lula: 1) mantiveram intocada a dívida aos banqueiros e nem sequer fizeram auditoria, aumentaram ainda mais a drenagem de recursos, comprometendo a nossa e futuras gerações; 2) mantiveram os esquemas corruptos de licitações públicas (lixo, obras, etc); 3)seguiram sucateando a educação e a saúde (com a farsa dos CEUs, pobre reedição dos Brisolões); 4) seguiram massacrando os servidores públicos; 5) a tal parceria com a ONU inclui o vergonhoso envio de tropas ao Haiti para apoiar um governo títere deposto pelos americanos; 6) nenhuma medida para tocar os ricos da cidade (via IPTU, ISS e outras medidas no âmbito municipal); 7) uso da GM, PM e PF contra os trabalhadores (vide greve bancária, Judiciário Estadual, ocupações de terras, espancamento de camelôs); 8) pior de tudo: Lula-Marta traíram a confiança, os sonhos e os projetos de 25 anos de luta. Por isso, votar contra Lula-Marta pela esquerda é votar pela construção de um novo instrumento de luta à esquerda do PT para enfrentar os capitalistas e não render-se à chantagem eleitoral de última hora nem fazer a escolha do supostamente menos pior. Por isso, sem dúvida: no dia 3 votei no 16 e no segundo turno anularei meu voto! Indico o mesmo a todos os servidores do Judiciário Federal.

Waldo Mermelstein, servidor do TRF-3.


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