SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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3/10/2016

Tabu contribui para manter mitos sobre o suicídio

Sociedade não sabe lidar com luto de quem perdeu ente querido nem com trauma dos sobreviventes

O tabu existente em torno da discussão sobre o suicídio ajuda a perpetuar mitos sobre o tema e torna mais difícil lidar com as pessoas com tendências suicidas. É o que diz o psicólogo Daniel Luca, assessor do Sintrajud na área de saúde do trabalhador, no terceiro e último artigo da série “Setembro Amarelo”. O mês de setembro foi dedicado à prevenção do suicídio.

No artigo, o psicólogo lista algumas afirmações que fazem parte do senso comum em relação ao suicídio e esclarece o que é mito e o que é fato comprovado.

Enlutados e sobreviventes

“A humanidade não está preparada para lidar com o luto do suicídio”, afirma Ivo Oliveira Farias, oficial de justiça aposentado da JT em Ribeirão Pires e diretor de base do Sintrajud. Ele ainda tenta compreender por que sua filha Ariele suicidou-se em março de 2014, aos 18 anos. “O sentimento de culpa, por mais que seja racionalizado, volta o tempo todo, até mesmo no sono, e por isso é insuperável”.

Ivo faz parte do contingente cada vez maior de “enlutados” – os que tentam seguir com suas próprias vidas após o suicídio de um ente querido. “O enlutado sofre uma espécie de discriminação depois de um ano, pois as pessoas não entendem por que continuamos de luto após esse período”, conta.

Para enfrentar o trauma, Ivo buscou a ajuda do CVV Abolição, um núcleo do Centro de Valorização da Vida localizado no centro de São Paulo e especializado em ajudar quem passou por essa experiência. Outro apoio importante ao oficial de justiça tem sido prestado pelo Instituto Vita Alere, coordenado pela psicóloga Karen Scavacini.

Além dos enlutados, os grupos trabalham também com os “sobreviventes” – pessoas que tentaram o suicídio. O Vita Alere se propõe a “oferecer um lugar de pertencimento e acolhimento e a construir uma rede de conectividade entre pessoas sobreviventes e enlutados”, explica o site do Instituto.

“O encontro entre enlutados e sobreviventes é muito marcante, porque os sobreviventes veem o estado em que ficamos após perdermos nossos entes queridos”, relata o servidor da JT.

Ele chama a atenção para o fato de que o suicídio é a terceira maior causa de mortes no mundo. “Seria a primeira se não fosse a subnotificação”, aponta. Dentro desse quadro geral, vem aumentando o número de casos de suicídio de jovens mulheres, como a filha de Ivo. Na capital paulista, os suicídios de mulheres na faixa de 15 a 34 anos representavam 20% do total de casos em 2010 e 25% em 2014, quando Ariele morreu.

Fórum Ruy Barbosa

Além dos enlutados e sobreviventes, o suicídio tem impacto psicológico sobre pessoas que presenciam o ato. No prédio do Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, na Barra Funda, houve quatro suicídios nos últimos dois anos, uma média de um a cada seis meses. O último foi ainda mais traumático por ter sido praticado por um homem de apenas 41 anos, que pulou com o filho de quatro anos.

“Lamentavelmente, presenciei o ocorrido”, lembra o servidor Marcelo Penna. “Até hoje, estamos traumatizados. Sentimo-nos impotentes, pois havíamos feito protesto em março deste ano, quando ocorreu outro suicídio e pensávamos que, ao longo desse período, a Administração tomaria as devidas providências”, afirma.

Depois da ocorrência de março, o TRT começou a instalar tapumes de madeira em todos os andares, nas rampas e nos acessos aos parapeitos. “Não acreditamos que estejamos seguros”, diz Marcelo. “Até hoje, ouço marteladas para a colocação dos tapumes e, a cada estrondo, a terrível imagem me vem à mente.”

O servidor aponta que o Tribunal não só deixou de oferecer apoio psicológico aos trabalhadores, como parece querer abafar o caso. “É a política da ignorância; não do esclarecimento. Com isso, somente podemos aguardar o pior.”, afirma.

Há um mês, em reunião com representantes do Sintrajud, do Ministério Público do Trabalho e de entidades de advogados e de juízes trabalhistas, a desembargadora presidente do TRT-2, Sílvia Devonald, afirmou que o emadeiramento do Fórum Ruy Barbosa é uma medida paliativa e provisória. Segundo a desembargadora, o projeto é de envidraçamento do prédio, mas não há prazo para a conclusão da obra.




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