SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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22/06/2010

Para servidor, Grécia é ?laboratório? e redução de salários e direitos pode ser ?exportada?

Membro da delegação internacional que acompanhou o Congresso da Classe Trabalhadora, ocorrido nos dias 5 e 6 de junho, em Santos, o grego Sotires Martalis concedeu entrevista coletiva aos jornalistas que cobriam o evento, oportunidade em que descreveu um pouco da situação crítica pela qual passa a Grécia.

Cortes nos salários e aposentadorias, aumentos de impostos para os trabalhadores e isenção para os empresários compõem o atual cenário do berço da civilização ocidental. ?Se passam essas medidas de austeridade, a situação pode se estender para outros países. Esta crise não é um problema grego, mas do sistema. A luta é de todos os trabalhadores do mundo?, afirmou.

Sortires é professor secundarista e membro da Federação de Servidores Públicos, também faz parte de uma organização que reúne partidos de esquerda na Grécia, ?bastante protagonista nos últimos eventos?.

Explicando os ataques que os trabalhadores estão sofrendo, o sindicalista disse que a mídia comercial tem feito uma propaganda muito grande, ?aterrorizando os trabalhadores?, alegando que se os direitos e salários não forem reduzidos haverá o caos no país.

Um grande movimento de trabalhadores, entretanto, tem realizado grandes ações e manifestações contra essas medidas, organizando greves gerais e manifestações, cujo ponto alto foi o dia 5 de maio, quando mais de 500 mil trabalhadores tomaram as ruas do país contra as medidas impostas pelo FMI e pela União Européia.

O visitante explicou que na Grécia existem duas grandes centrais sindicais, a Adedi, que organiza os servidores públicos, agrupando cerca de 500 mil servidores, e a GSEE, responsável por organizar os trabalhadores do setor privado, reunindo 1,5 milhão de trabalhadores. Segundo disse, diferentes partidos atuam nessas centrais, inclusive o Pasok, partido que governa o país desde outubro de 2009, e que tem realizado os ataques aos trabalhadores.

Segundo explicou, a pressão da base dos sindicatos é tão grande que o partido governista não tem condições de impedir as manifestações e a realização de greves gerais. Um exemplo citado ocorreu em 17 de dezembro de 2009, quando os sindicatos construíram uma greve geral, mesmo com as centrais sindicais sendo contra a sua realização. ?A greve foi muito grande e a direção sentiu a pressão por baixo, vinda da base?, disse.

Relação da Grécia com a União Européia
Respondendo à questão de Alejandro Iturbe, da Revista Correio Internacional, Sotires Martalis falou um pouco sobre a participação da Grécia na União Européia. Segundo disse, em 1997 havia um discurso de que a vida dos trabalhadores gregos iria melhorar, ?com aumentos salariais anuais?. Atualmente, porém, ?um professor na Grécia recebe menos da metade do que recebe um professor na França?.
Esta realidade fez com que os gregos começassem a questionar qual é o centro de decisão no país: o governo grego ou a União Européia. ?Queremos estar com a Europa, mas com os trabalhadores europeus. Queremos uma União Européia de bem estar social, com saúde e educação para todos, não uma União Européia excludente e militarizada?, concluiu.

?Ondas de medidas? cortam direitos
Martalis relatou um cenário no qual os serviços públicos e as aposentadorias despontam como principais alvos das medidas do governo grego para ?enfrentar? a crise. Nas ?três ondas de medidas?, duas já adotadas e uma terceira em curso, o ataque aos salários dos servidores e às aposentadorias é uma constante.
Na primeira ?onda?, como definiu Martalis, os salários regulares foram reduzidos em 8%, além de cortes bem mais profundos nos 13º e 14º salários, que são benefícios históricos conquistados pelos trabalhadores gregos.

Na segunda ?onda?, prosseguiu o sindicalista e professor, novo corte nesses dois salários extras e o congelamento das contratações de servidores em uma série de setores, como a saúde e a educação. ?Agora começa a 3ª onda, no final do mês vão votar no parlamento uma nova lei para aposentadoria?, disse Martalis. Dessa vez, o objetivo é adiar o sonho de aposentadoria do trabalhador grego. Os atuais 35 anos de trabalho ou 60 de idade para se aposentar passam para 40 e 67 anos, respectivamente. E não pára por aí. As aposentadorias, que hoje equivalem a 70% do salário da ativa, caem para 50% desse valor. ?Estão fazendo experiências, se aceitamos a medida, logo depois vem outra onda [de medidas]?, constatou.

Também na Grécia, prioridade são banqueiros
E como fica o Judiciário diante de tantas quebras de direitos consolidados dos trabalhadores, indaga outro repórter. ?A Justiça tem uma relação distanciada de tudo isso, olhando de fora, a única coisa que interessa à Justiça é se a greve é legal ou ilegal?, respondeu.

O sindicalista não titubeia em apontar os objetivos do primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, com esses cortes. ?O governo, para manter os juros das dívidas públicas, está agora atacando os trabalhadores e aposentados?, afirmou.

E cita exemplos para provar que a austeridade não existe quando os personagens mudam. ?O estado deu aos bancos 30 bilhões [de euros] de uma só vez?, disse. ?Há alguns anos o governo destinou 50 bilhões para as festas da Olimpíada?, prosseguiu.

E entrou num ponto delicado para o estado grego: as desproporcionais despesas com armamentos de um país cuja população é de pouco mais de 10 milhões de pessoas.

?É um estado com uma população muito pequena para ser o quinto maior consumidor de armamentos do mundo?, questionou.
Por trás disso, concluiu, estão os interesses da indústria armamentista da França,

Alemanha e, claro, dos Estados Unidos, os três maiores fornecedores do produto ao país.

No cenário traçado por Martalis ao longo de quase uma hora de entrevista, no país em que aposentadorias e salários são retaliados sem cerimônia não falta dinheiro para festas olímpicas, para salvar banqueiros e para comprar armas. ?Se essas medidas de austeridade passam na Grécia, podem ir avançando para outros países da periferia da Europa?, analisa o servidor. E mesmo para outros continentes.

Guardando-se as devidas proporções, qualquer semelhança entre tais medidas e projetos como o PL 549/2009 no Brasil, que praticamente congela os salários e as contratações de servidores por dez anos, não parecem coincidência. Para Martalis, o ?laboratório? grego pode ser espelho para as políticas de governos e setores que dominam a economia mundial. ?Com isso, a luta dos trabalhadores da Grécia passa a ser a luta dos trabalhadores de todo mundo?, concluiu.

Por Carlos Eduardo Batista e Hélcio Duarte Filho
Luta Fenajufe Notícias
Domingo, 6 de junho de 2010




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