SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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30/03/2014

Análise de conjuntura no 7º Congresso combina reflexão e um chamado para a luta

Em meio a análises sobre a aceitação popular do atual modelo econômico, palestrantes debatem uma alternativa política de esquerda

Uma reflexão sobre a atuação da esquerda em geral e do sindicalismo em particular marcou o painel “Cenários, perspectivas e desafios para a luta dos trabalhadores no próximo período”, realizado nesta sexta-feira, 28, no 7º Congresso do Sintrajud.
 
A apresentação reuniu o sociólogo e professor emérito da USP Chico de Oliveira e dois integrantes da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas: Atnágoras Lopes, que também é diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de Belém, e Miguel Leme, um dos coordenadores da Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
 
“A atual conjuntura do Brasil não é de derrota, e sim de vitória. Se a esquerda tentar transmitir a ideia de que a sociedade está sendo derrotada, ela [a esquerda] é que será derrotada”, disse Chico de Oliveira, numa das frases que deram o tom provocador de sua apresentação. “Na política, nem sempre vale a razão e sim o sentimento. Este sentimento hoje é de vitória”, acrescentou. “É preciso entender os mecanismos pelos quais o capitalismo opera.”
 
Trabalho escravo
 
Os outros dois palestrantes, porém, procuraram mostrar as incoerências do atual momento econômico. “A deterioração das condições de trabalho está em contradição com um governo que comemora o fato de sermos a 6ª maior economia do mundo”, afirmou Atnágoras Lopes.
 
No início do painel foi apresentado o vídeo de uma reportagem sobre o resgate de sete trabalhadores em condição análoga à de escravidão, realizado neste mês em São Paulo. Os operários trabalhavam na construção de uma escola municipal em Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, e foram resgatados pela CSP-Conlutas dois meses depois de terem chegado do município de Barras (PI). Na capital paulista, haviam recebido apenas R$ 1 mil e habitavam um cubículo em péssimas condições de higiene.
 
Para Miguel Leme, mesmo os trabalhadores que tiveram aumento de renda com a atual política econômica estão insatisfeitos com suas condições de vida. “Essa política assegurou um ganho para o trabalhador da porta para dentro, mas da porta para a rua a educação, a saúde e o transporte estão um lixo”, declarou o dirigente da Apeoesp.
 
Ele mostrou também que recentes dados econômicos apontam o fracasso do modelo: queda dos investimentos e da produção industrial, baixo crescimento do PIB e fuga de capitais. “A tarefa que está posta para nós é a construção de uma alternativa política de esquerda”, afirmou.
 
Jornadas de junho
 
Os palestrantes divergiram quanto às manifestações no país em junho passado e sobre seu significado para a atuação política daqui por diante. Na visão de Atnágoras Lopes, os protestos questionaram as instituições, incluindo os sindicatos e partidos políticos, e mostraram a insatisfação de uma juventude trabalhadora, “cuja única experiência de governo a ter presenciado foi a do PT”. Apesar de reconhecer que as “jornadas de junho” ainda requerem um “balanço científico”, o sindicalista destacou “a nova relação de forças no país”.
 
No dia 22, diversas entidades, movimentos sociais e grupos de esquerda reuniram mais de 2,5 mil ativistas no Espaço Unidade de Ação, na quadra do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, em protesto contra os gastos do governo com a Copa, a falta de investimentos em serviços públicos e a criminalização dos movimentos sociais. “Temos orgulho dos protestos de junho e queremos fazer nova mobilização na abertura da Copa”, disse.
 
Na avaliação de Miguel Leme, a pauta dos protestos de 2013 mostrou a necessidade de reformas que não podem ser feitas dentro do sistema capitalista. “[O ex-presidente] João Goulart, que não foi nenhum revolucionário, tentou fazer reformas e foi derrubado pelo golpe”, lembrou. “Temos de unificar a esquerda e construir ferramentas de luta.”
 
Já Chico de Oliveira mostrou seu ceticismo quanto à possibilidade de reproduzir as manifestações de junho passado com a mesma intensidade. “Elas são um ponto de partida, e não de chegada”, afirmou o professor.




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