Sintrajud encerra Setembro Amarelo com seminário sobre prevenção e posvenção de suicídio


30/09/2019 - helio batista

Da esquerda para a direita: Jéssica Silveira, Rosmary Sá, Ana Luiza Figueiredo e Ivo Farias. (Fotos: Gero Rodrigues)

 

Um seminário no auditório do Sintrajud marcou, na última sexta-feira (27 de setembro), o encerramento das atividades do Sindicato para o Setembro Amarelo – campanha internacional que busca alertar a população para a importância da prevenção e da posvenção do suicídio.

O evento contou com palestras da psicóloga Jéssica Silveira, do Comitê Permanente de Prevenção ao Suicídio da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), de Rosmary Sá, uma das coordenadoras do Grupo de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio do Centro de Valorização da Vida (CVV) Abolição e do oficial de justiça aposentado Ivo Oliveira Farias, sobrevivente enlutado pelo suicídio e coordenador do Grupo “Luta em Luto” de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio em Santos, na subsede do Sintrajud.

Jéssica abordou o tema da prevenção e da posvenção sob a perspectiva das relações humanas, chamando a atenção para a falta de acolhimento, amor e empatia nos atuais relacionamentos, principalmente quando são mediados pela internet.

De acordo com a psicóloga, não existe um perfil que possa identificar a pessoa com tendências suicidas nem uma causa isolada para o ato fatal. “Por mais que existam sinais de alerta, é preciso ter cuidado, porque cada comportamento é único”, disse Jéssica.

Nesse sentido, a especialista também desmentiu a informação extensamente difundida de que “90% dos suicídios poderiam ser evitados”, ressaltando a diferença entre prevenível e evitável. “Não temos onipotência para evitar um suicídio”, afirmou.

Por outro lado, é possível fazer a prevenção, atuando sobre os chamados “fatores de risco” (solidão, traumas, transtornos psiquiátricos, abuso de álcool e drogas, etc) e estimulando os “fatores de proteção” (psicoterapia, diálogo, atividades físicas e culturais, etc).

A “história” dos 90% surgiu de um estudo divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo o qual a grande maioria dos casos de suicídio são de pessoas com transtornos mentais. “Mesmo pessoas em tratamento podem se matar”, esclareceu Jéssica.

Citando dados estatísticos, a psicóloga informou que as mulheres cometem a maior parte das tentativas de suicídio, mas que os homens formam a maioria dos suicídios consumados. Segundo Jéssica, isso se deve à imagem de masculinidade transmitida em nossa cultura, segundo a qual os homens têm de ser fortes, não podem chorar nem demonstrar vulnerabilidade.

“Viver bem”

O servidor aposentado Ivo Farias, por sua vez, observou que o número de suicídios no Brasil é muito maior do que o registrado nos dados oficiais. Cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio no mundo a cada ano e o total no Brasil já chega a cerca de 13 mil, segundo as estatísticas mais recentes.

A enorme subnotificação, segundo Ivo, deve-se ao fato de que muitos atestados de óbito não trazem o suicídio como causa da morte: sua filha Ariele Farias, por exemplo, cometeu suicídio em 2014 e teve a morte registrada como sendo causada por sufocamento. “Muitos acidentes de trânsito na verdade são suicídios”, disse Ivo.

Rosmary.

“Vivemos no país uma crise de suicídios que ninguém estava preparado para enfrentar”, acrescentou Rosmary Sá. A coordenadora do CVV Abolição informou que a organização não-governamental tem cerca de 3.200 voluntários, espalhados em 115 postos pelo país. “Parece muito, mas é muito pouco”, declarou. Ela apontou ainda que os sobreviventes de suicídio são maltratados nos hospitais, sofrem rejeição da sociedade e enfrentam muito preconceito.

Ivo Farias destacou a importância dos grupos de apoio para os sobreviventes e enlutados, como os que ele passou a frequentar logo após a morte da filha e o que coordena na subsede do Sintrajud. “Procuramos ajudar as pessoas a lidar com a dor existencial da perda de equilíbrio”, afirmou.

Essa perda deriva da busca por uma felicidade que é ilusória, disse Ivo. “Não temos de buscar a felicidade, mas buscar viver bem. A vida é uma dualidade: tem alegrias, prazeres, mas também sofrimentos e tristezas”, lembrou o servidor.

“Nossa sociedade tem muitos padrões – de beleza, de riqueza, de felicidade, etc. – que são inatingíveis; ninguém cabe nesses padrões”, afirmou a servidora aposentada Ana Luiza Figueiredo, diretora do Sintrajud que coordenou a mesa do seminário.

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