Setembro Amarelo: grupos ajudam a prevenir suicídio e a superar o luto


25/09/2018 - helio batista

Encontro na subsede do Sintrajud, em Santos.

Depois de perder a única filha, que se suicidou no início de 2013, Maria Cristina Miguel atravessou um ano de isolamento, com sentimento de culpa. “Pensei: ou fico trancada em meu quarto, sofrendo, ou faço alguma coisa por outra pessoa”, lembra.

A segunda opção se concretizou depois que ela conheceu no Facebook outra mãe que também havia acabado de perder um filho para o suicídio. As duas montaram um grupo dedicado a denunciar páginas da rede social que induziam ao suicídio, que se manifestavam no próprio Facebook.

Hoje, Maria Cristina participa de um grupo de cerca de 40 mães, de vários estados, cujos filhos tiraram a própria vida. Na segunda-feira, 17, Maria Cristina também estava na subsede do Sintrajud em Santos, participando do encontro do Grupo de Apoio aos Sobreviventes Enlutados e Tentantes do Suicídio.

O encontro acontece uma vez por mês na subsede, promovido pelo Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, que faz reuniões semelhantes na capital paulista e no Rio de Janeiro. O encontro deste mês teve um caráter especial, em razão do Setembro Amarelo, que é o mês de prevenção ao suicídio, e do aniversário de um ano do Grupo.

Sentimento de culpa

“O grupo de enlutados é um espaço de prevenção, porque as pessoas que perderam um ente querido por causa do suicídio têm maior risco de também tentarem”, explica a psicóloga Luciana França (foto), colaboradora do Instituto Vita Alere e uma das coordenadoras do grupo que se reúne na subsede do Sintrajud.

Quem sofre a perda de alguém que se suicida se vê diante da estigmatização social, de um enorme sentimento de culpa e de um luto muito difícil de superar.

Segundo Luciana, a busca de um motivo ou de um culpado pelo suicídio de alguém revela a incompreensão de que o problema tem causa “multifatorial”, isto é, geralmente decorre de uma combinação de causas. Os fatores que levam ao suicídio incluem a depressão, o isolamento estimulado pelas redes sociais, o assédio no trabalho, o discurso em torno da “obrigação” de ser feliz, entre muitos outros.

“Nosso papel é facilitar esse encontro entre as pessoas; e vemos que elas ficam aliviadas, sentem-se compreendidas por poderem falar”, afirma Luciana. “Como passaram pelo mesmo sofrimento, os outros participantes não tentam silenciar dizendo algo do tipo ‘não fala, porque você vai chorar’”.

“Não me esqueça”

Uma das formas que o casal Terezinha e Joseval Máximo encontrou para enfrentar essa dor foi escrever sobre o assunto e publicar um blog. Criado em novembro do ano passado, o blog “No m´oblidis” (www.nomoblidis.com.br) relata a experiência de quem tenta reconstruir a própria vida depois de perder alguém para o suicídio e procura ajudar outras pessoas nessa situação.

A filha caçula do casal, Marina, suicidou-se em março de 2017 aos 19 anos, em meio a um quadro grave de depressão. “Si us plau, no m’oblidis” (“por favor, não me esqueça”, em catalão) é a frase que ela havia registrado em seu perfil no WhatsApp.

“A repercussão [do blog] tem sido maior do que eu esperava, as pessoas mandam e-mail agradecendo pela iniciativa e porque podem falar o que precisavam”, conta Terezinha. “Até psicólogos nos escrevem pedindo orientações sobre onde encontrar grupos de apoio”, acrescenta Joseval.

O casal também coordena um grupo de apoio aos sobreviventes e enlutados por suicídio em São Bernardo do Campo, onde mora. Terezinha e Joseval ainda encontraram tempo para participar da reunião deste mês na subsede do Sintrajud.

Militância

Frequentar reuniões como essa tem ajudado o oficial de justiça aposentado do TRT-2 Ivo Oliveira Farias. Ele perdeu a filha mais velha em março de 2014 e tem passado os últimos anos numa militância para chamar a atenção da sociedade para a gravidade do problema do suicídio, para a necessidade de preveni-lo e para a importância de cuidar dos que ficam.

“O caminho é buscar um sentido para prosseguir existindo e sobreviver”, diz o oficial aposentado. “Eu fiz essa escolha; a militância sindical de mais de 30 anos me preparou para essa decisão, que é um caminho sem volta”, afirma.

Recentemente, ele contou sua história em uma série produzida e exibida pela HBO voltada para jovens. Discutir o assunto ainda é uma das melhores formas de combater um mal que tira a vida de mais de 800 mil pessoas no mundo todos os anos.

 

Serviço

Instituto Vita Alere

www.vitaalere.com.br

[email protected]

(11) 5084-3568

 

Blog No m´oblidis

(Terezinha e Joseval Máximo)

www.nomoblidis.com.br

[email protected]

 

Centro de Valorização da Vida

www.cvv.org.br

Atendimento pelo telefone 188 (24h)

Materiais de divulgação distribuídos durante o encontro na subsede do Sintrajud.

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