Servidora do TRT-2 encena espetáculo sobre a força das mulheres e do sistema


05/03/2018 - Luciana Araujo

‘Que mulher é realmente forte frente à estrutura assimétrica de poderes e regras tão bem travestidas de única alternativa?’ Esse é o questionamento que perpassa o ‘embate’ cênico desenvolvido por Savina João e Jessica Madona no espetáculo teatral ‘A mais forte’. A tem apresentação única seguida de debate nesta quinta-feira (8 de março) no Teatro Sérgio Cardoso, em homenagem ao Dia Internacional de Luta das Mulheres, e segue em cartaz na SP Escola de Teatro, na Praça Roosevelt, até este domingo (12 de março).

Savina é servidora da Coordenadoria de Gestão de Arquivo do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, atuando na Seção de Avaliação e Destinação Documental. Atriz formada pela Universidade de Brasília (UnB) e diretora pela SP Escola de Teatro, fundou a Andaime Companhia de Teatro, em 2007, quando ainda vivia na Capital Federal. Sua trajetória cênica reflete vasta experiência com a temática da condição de mulher e bagagem na personificação de figuras femininas que expressam pesados conflitos sociais, criadas por dramaturgos brasileiros e internacionais de destaque. Savina tem no currículo ‘Os sete gatinhos’, de Nelson Rodrigues, ‘O Abajur Lilás’, de Plínio Marcos, e ‘O Inspetor Geral’, de Nicolai Gogol, dentre outras peças de referência no teatro.

Feminista, considera a estréia do espetáculo ‘A mais forte’ como parte das manifestações pelos direitos das mulheres que ocorrerão no dia 8. “A gente vai marchar no palco. Todas na companhia nos identificamos como feministas e atuamos em coletivos de mulheres. Eu participo de coletivos feministas desde a época em que estudei na UnB”, afirma.

Jéssica, a parceira de palco de Savina, é atriz e professora de Teatro formada pela Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Já encenou ‘Lisbela e o Prisioneiro’, ‘A Aurora da Minha Vida’, entre outros espetáculos. O elenco conta ainda com a acordeonista Camila Borges.

E quem é a mais forte?

A peça é uma adaptação de texto homônimo do dramaturgo sueco August Strindberg (1849-1912). Escrito em 1889, originalmente o texto explora a disputa entre duas mulheres por um homem e as frustrações das personagens. A releitura traz à tona a reflexão sobre os papéis tidos como femininos na sociedade contemporânea, e sobre como a hierarquização entre homens e mulheres é ensinada e construída por meio de uma educação sexista – e não uma questão “natural”. E como essa diferenciação entre mulheres e homens é um mecanismo de perpetuação de poderes e privilégios destes últimos em relação à maioria feminina.

“O jogo de poder entre essas duas mulheres – cuja relação é antagônica e ambígua – permanece no primeiro plano da obra, e é permeado de nuances que apontam diversas possibilidades de entendimento”, ressalta o material de divulgação da peça.

“Para a gente era interessante conceitualmente discutir porque existe tanta competição silenciosa entre nós. Uma competição estimulada, porque é boa para o sistema. Então a pergunta que colocamos é ‘quem é a mais forte?’. Mas para nós não existe a mais forte. O mais forte é o sistema, que é coeso, articulado”, ressalta Savina.

O grupo

A Companhia 3 de Nós foi criada em 2016 por artistas que a vida aproximou. Primeiro surgiu o desejo de trabalhar junto, revela Savina. O batismo do coletivo só se deu durante o processo de montagem deste espetáculo. “Quinta-feira será o que chamamos de dupla estreia, do espetáculo e da companhia, uma responsabilidade e emoção muito fortes”, revela a servidora-atriz.

O nome, 3 de Nós, guarda em si uma perspectiva coletiva. “Surge porque nos compreendemos como parte de um coro maior, que é a sociedade. O que nos diferencia é o fazer artístico”, explica.

Serviço:

A mais forte – Que mulher é realmente forte frente à estrutura assimétrica de poderes e regras tão bem travestidas de única alternativa? Partindo dessa pergunta, duas atrizes apresentam sua leitura da obra homônima de August Strindberg. “A Mais Forte” apresenta duas mulheres em lados opostos, cuja discussão revela muito mais sobre o machismo ao qual elas também ajudam a perpetuar. Classificação: 12 anos.

Ficha técnica: Dramaturgia e produção: 3 de Nós; Argumento, concepção e direção: Savina João; Assistência de direção e dramaturgismo:  Juliana Caldas; Performers: Jessica Madona e Savina João; Figurino: Raquel Pavanelli; Trilha sonora original e acordeonista: Camila Borges; Iluminação e operação de luz: Elton Pinheiro.

Apresentações:

Dia 8 de março (quinta-feira), 21h, apresentação seguida de debate no Teatro Sérgio Cardoso

Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista – Sala Paschoal Carlos Magno. Meia entrada: R$ 15,00 e inteira: R$30,00.

Dias 9, 10 e 12 de março, às 21h30, e 11 de março, às 19h30, na SP Escola de Teatro, sede Roosevelt

Praça Franklin Roosevelt, 210, Consolação. Meia: R$ 10,00 e inteira: R$ 20,00 (venda na bilheteria do teatro uma hora antes da apresentação).

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