Seminário avalia ameaças do governo Bolsonaro e desafio de unir trabalhadores


26/11/2018 - helio batista

Superar a divisão da classe trabalhadora e prepará-la para uma luta unificada em torno de interesses comuns é a tarefa mais urgente das lideranças sindicais e populares diante do futuro governo Bolsonaro, cujo projeto ameaça direitos trabalhistas e até as liberdades democráticas.

A avaliação foi compartilhada por José Maria de Almeida (Zé Maria), metalúrgico e presidente do PSTU, e pelo economista e professor da Unicamp Plínio de Arruda Sampaio Jr., na abertura do Seminário Jurídico Nacional da CSP-Conlutas, central a que o Sintrajud é filiado.

O evento começou nesta quinta-feira (22) no Hotel Jaraguá, centro de São Paulo, e terminou na sexta (24), com a presença de advogados trabalhistas, professores de Direito do Trabalho, líderes de movimentos sociais e dirigentes das entidades filiadas à central. Foram discutidos a reforma trabalhista, a lei da terceirização irrestrita, as ameaças ao funcionalismo e os desafios para os sindicatos, entre outros temas.

 “Estelionato eleitoral”

Zé Maria e Plínio consideram que, a rigor, Bolsonaro não pode ser classificado como líder “fascista”, adjetivo usado por grande parte de seus opositores ao longo de toda a campanha eleitoral. Ambos concordaram que o capitão do Exército soube encarnar os anseios e a revolta da população, mas que o novo governo deve piorar as condições de vida dos trabalhadores e colocar em risco a democracia.

Plínio de Arruda Sampaio Jr.

“Bolsonaro é uma espécie de Temer com uma borduna na mão”, definiu Plínio, para quem a vitória do candidato do PSL significou a “falência definitiva da Nova República”.

“É um governo que vai rapidamente provocar muita reação e muito conflito, porque praticou estelionato eleitoral”, acrescentou. Ele resumiu o projeto bolsonarista como uma combinação de liberalismo econômico exacerbado e violência política, traduzida como “negação da cidadania do trabalhador”. Segundo Plínio, a perspectiva é de “acirramento da luta de classes”.

Para Zé Maria, a eleição de Bolsonaro é consequência dos problemas sociais que vêm se agravando desde a crise econômica mundial de 2008, do rechaço ao sistema político do país e da revolta da classe trabalhadora contra a “imensa traição” feita pelos governos petistas (Lula e Dilma). “Mas a classe trabalhadora não está derrotada, não houve mudança na correlação de forças”, avaliou.

Alternativa de esquerda

Zé Maria

O presidente do PSTU defendeu uma campanha para “desfazer a confusão na cabeça das pessoas” e para estimular a luta dos trabalhadores e movimentos sociais. Ele propôs também a construção de uma unidade em torno dos interesses da classe e de uma alternativa de esquerda, socialista, para o país.

“O maior risco é não se viabilizar uma reação da classe aos ataques que virão, seja pela ausência de uma direção, seja por um papel nefasto [exercido] pelas direções do PT ou das centrais sindicais”, apontou.

“Não adianta só resistir, temos de propor algum horizonte”, alertou Plínio. “Como vamos mobilizar os trabalhadores para defender as liberdades democráticas, se essas liberdades são inócuas para eles?”, indagou. “Precisaremos de unidade e de capacidade de conversar com a classe [trabalhadora]”.

O economista advertiu que, enquanto preparam os trabalhadores para reagir aos ataques do novo governo, as lideranças terão de agir com cautela, para evitar sacrifícios inúteis. “É uma espécie de judô: deixa o Bolsonaro se enrolar nas próprias pernas, porque ele não tem o que apresentar”, concluiu.

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