Retaliações às lutas por reforma agrária, afirmam entidades sobre prisões de Zé Rainha e Luciano


21/03/2023 - Helcio Duarte Filho
Campanha pela liberdade dos militantes: agro se escandaliza e reage em fúria às ocupações de terras improdutivas enquanto se cala para a fome e o trabalho escravo.

Ao prender dois militantes da luta pela reforma agrária, José Rainha e Luciano de Lima, a Polícia Civil de São Paulo divulgou um comunicado de que a ação buscava assegurar “a paz no campo”.

 

A questão é que eles são pessoas reconhecidas pela participação na luta pela reforma agrária em São Paulo e no Brasil. Os movimentos sociais e sindicais que atuam no setor afirmam que a ‘paz no campo’ que ações como essa pretendem é o silêncio dos que não têm terra para trabalhar e vivem de insegurança alimentar.

 

Essa ‘paz no campo’ significa, na verdade, trabalhadores em situação análoga à escravidão, como os 207 resgatados na Serra Gaúcha e que trabalhavam como terceirizados para as vinícolas Salton, Aurora e Garibaldi. O caso, como tantos outros recentemente divulgados, não escandalizou o mundo do agronegócio nem abalou o chamado mercado.

 

Os dois militantes estão presos sob a acusação de tentativa de extorsão a fazendeiros – para que não tivessem as suas terras ocupadas. A defesa de José Rainha e Luciano não havia tido acesso ao processo. Ambos negam as acusações: trata-se de uma prisão nitidamente com viés político, afirmam.

 

Nenhuma prova veio a público neste processo – como poderia acontecer em casos como esse. O que afirma a Frente Nacional de Lutas Campo e Cidade (FNL), organização política da qual participam, é que tudo indica que as prisões seriam retaliações às ocupações de terras improdutivas realizadas no chamado ‘Carnaval Vermelho’.

 

Notas defendem liberdade

 

“O objetivo do Carnaval Vermelho é trazer para a discussão a contradição de sermos um dos países que mais produz alimentos no mundo, porém temos mais de 125 milhões de brasileiros com alguma insegurança alimentar, sendo 58% dos brasileiros e brasileiras, e o mais grave, são mais de 33 milhões com insegurança alimentar severa”, diz trecho de nota divulgada pelo movimento.

 

O texto menciona a fúria do agronegócio com movimentos de trabalhadores rurais pelo direito à terra: “Afinal, pode ter um exército de famintos no país, mas terras sendo divididas entre os mais pobres é um crime ao qual o agronegócio e o capital não toleram”.

 

A Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), a qual o Sintrajud é filiado, também divulgou nota condenando “as prisões arbitrárias” e defendendo a liberdade dos dois militantes rurais. O texto afirma que a falta de terra, moradia e comida segue sendo a realidade de milhões de brasileiros, o que faz da reforma agrária uma necessidade cada vez mais urgente.

 

“No entanto, os interesses do latifúndio e do agronegócio seguem ditando as regras no país, o que foi agravado ainda mais durante o governo de Bolsonaro, quando foram estimuladas a violência e repressão contra os lutadores sociais, principalmente no campo. Denunciamos essa prisão política por parte do governador bolsonarista de São Paulo Tarcísio de Freitas”, conclui a nota de solidariedade.

 

A Diretoria do Sintrajud também se solidariza com os militantes da luta pela reforma agrária e justiça no campo e compartilha da defesa de que as prisões sejam revogadas e possam responder às acusações em liberdade.

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