Reajuste de 5% não repõe perdas nem inflação estimada para 2022


22/04/2022 - Hélio Batista Barboza
Governo Bolsonaro pode deixar como “legado” defasagem de mais de 25% nos salários do funcionalismo, diz assessor econômico do Sindicato.

O reajuste salarial de 5% aos servidores públicos, anunciado (mas não formalizado) pelo governo Bolsonaro, não recupera nem metade da defasagem acumulada nos 12 meses de abril do ano passado a março deste ano. Nesse período, o IPCA – índice oficial de inflação – atingiu 11,3%. O percentual também está abaixo da inflação projetada para este ano de 2022.

Washington Moura Lima (Foto: Cláudio Cammarota)

Desde o início do governo Bolsonaro, em janeiro de 2019, a inflação acumulada é de 23,82%. Segundo o economista Washington Moura Lima, assessor do Sintrajud e de outras entidades sindicais, o índice pode chegar a 28,5% em dezembro, caso se confirmem as previsões do mercado financeiro, compiladas pelo Boletim Focus do Banco Central.

O economista aponta, porém, que essas estimativas têm sido repetidamente revisadas para cima. “Como os elementos que fazem a inflação acelerar devem ser potencializados, principalmente em razão do aumento dos combustíveis, e também pelas consequências da guerra [da Ucrânia], teremos provavelmente uma inflação em 2022 próxima a de 2021, que foi de 10,06%, ou maior”, afirma Washington.

“Se a inflação for em 2022 igual a de 2021, teremos um acumulado desde 2019 de 32,06%”, acrescenta.

O IPCA de janeiro a março deste ano é de 3,2%, indicando que em abril provavelmente a inflação do ano já alcançará os 5% de reajuste ventilados pelo governo.

“Decisão política”

Caso se concretize o reajuste (não previsto no Orçamento da União), ainda faltaria uma reposição de 14,27% para recuperar o que os salários do funcionalismo perderam somente durante o governo Bolsonaro.

Se a inflação de 2022 repetir a do ano passado, Bolsonaro ainda deixará como “legado” para o sucessor uma defasagem de 25,77% nos salários dos servidores.

O economista destaca que os orçamentos dos três poderes foram reajustados pelo IPCA e que a arrecadação federal cresceu nos últimos três anos bem mais do que a reposição emergencial de 19,99% reivindicada pelo funcionalismo. “Ou seja, foi uma decisão política, e não orçamentária, a não recomposição das remunerações”, ressalta Washington.

Congrejufe

Foto: Joca Duarte

A reposição de 19,99% foi cobrada pelo Sintrajud e por outras entidades do funcionalismo nos atos públicos do último dia 9, que pediram “Fora Bolsonaro”, em São Paulo e em várias cidades do país (foto).

Funcionários do Banco Central e do INSS permanecem em greve, mesmo com a sinalização do reajuste de 5% dada pelo governo. Outras categorias, como os policiais federais, já manifestaram sua insatisfação com esse percentual.

Os servidores do Judiciário Federal devem reafirmar sua disposição de continuar a luta pelos 19,99% no Congrejufe, o congresso da federação nacional da categoria, que começa no dia 27 em Alexânia, Goiás. O Congresso será encerrado com um protesto em Brasília no dia 1º de Maio – Dia Internacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras.

A diretoria do Sindicato ressalta que vem dialogando com os tribunais superiores para que a cúpula do Poder também se mova com vistas a assegurar que qualquer recomposição salarial tem que ser estendida linearmente a todo o funcionalismo federal e garantida à categoria. O Sintrajud já teve audiências com os ministros Luiz Fux, presidente do STF, Dias Toffoli (ex-presidente da Corte) e com a assessoria de André Mendonça, indicado por Bolsonaro. No dia 27 será realizado um protesto em frente à sede do Supremo, às 14 horas, para cobrar o encaminhamento do debate à sessão administrativa do Tribunal, conforme compromisso assumido pelo ministro Fux em janeiro com o Sindicato e posteriormente com a Fenajufe.

TALVEZ VOCÊ GOSTE TAMBÉM