‘Quem mandou matar Marielle?’: Pergunta segue sem resposta 5 anos após execução da vereadora


13/03/2023 - Niara
Ato em São Paulo cobra justiça para Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes nesta terça, 14 de março, na praça Roosevelt, às 18h.

Os assassinatos da vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes completam 5 anos nesta terça-feira (14), sem julgamento dos executores presos e conclusão da investigação sobre quem seria o mandante do crime.

 

Até aqui, meia década se passa com avaliação de estagnação e morosidade do processo. Cinco delegados e dez promotores do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro passaram pelo caso. Os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz estão presos desde 2019 acusados de serem os executores. Investigações apontam que Lessa teria sido o responsável pelos disparos, e Élcio teria conduzido o veículo para que o comparsa disparasse contra as vítimas. Lessa, no entanto, só foi expulso da corporação em 2021.

 

Tentativas de obstrução, mudanças no comando do inquérito na Polícia Civil, no Ministério Público e intervenções políticas marcaram o caso. Provas colhidas durante o processo se desdobraram em investigações da relação entre milicianos, bicheiros e políticos da cidade. Promotoras chegaram a pedir afastamento do caso após não terem tido acesso ao acordo de delação premiada da viúva do miliciano Adriano da Nóbrega, morto em 9 de fevereiro de 2020, enquanto estava foragido da Justiça. Nóbrega, apontado como chefe da milícia Escritório do Crime, era aliado e amigo da família Bolsonaro.

 

As provas serviram de base para operações contra milicianos e assassinos de aluguel que atuavam em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio, chegando a gerar indícios contra o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL), no caso das “rachadinhas”.

 

A eleição do presidente Lula (PT) renovou a esperança de familiares, ativistas e amigos de Marielle e Anderson. Lula prometeu em atos de campanha e entrevistas públicas unir esforços para solucionar o crime; compromisso reafirmado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, durante sua posse, ao apontar que o novo governo trataria do tema como prioridade.

 

No último mês, o ministro determinou que a Polícia Federal apoie o MP-RJ nas investigações dos mandantes da execução. No início de março, foram definidos os novos integrantes da força-tarefa que acompanharão as investigações sobre os assassinatos.

 

O crime, que aconteceu seis meses antes da eleição de Bolsonaro, gerou grandes atos de rua no país e comoção internacional. Marielle foi a vereadora mais votada do Rio de Janeiro nas eleições de 2016, com 46.502 votos, reconhecida por ativistas e movimentos sociais do Rio de Janeiro como importante porta-voz na luta pelos direitos das mulheres negras, LGBTQIA+ e contra o racismo e a violência policial nas favelas.

 

Foto: Niara Aureliano

Um dos mais importantes movimentos organizados pela vereadora foi o encontro “Mulheres na Política”, evento que reuniu diversas lideranças femininas, sob o slogan “Uma sobe e puxa a outra”, em novembro de 2017. O encontro buscava incentivar que mais mulheres, em especial mulheres negras, faveladas, indígenas, periféricas e LBT’s pudessem acessar os espaços de decisão, com a missão de atuar em defesa dos direitos das mulheres.

 

O crime brutal a imortalizou como voz, rosto e inspiração contra a violência política de gênero e racial. A repercussão de seu legado suscitou uma ampliação no número de mulheres negras na corrida eleitoral por todo país. Companheiras da vereadora, como a então vereadora de Niterói, no Rio de Janeiro, Talíria Petrone se elegeu deputada federal com foco na luta das mulheres negras. As assessoras de Marielle, Renata Souza, Dani Monteiro e Mônica Francisco, do PSOL-RJ, elegeram-se deputadas estaduais, em 2018. Às Câmaras Municipais concorreram 84.418 mulheres negras, e 856 ao cargo de prefeitas, em 2020. Viúva de Marielle, Monica Benício foi eleita vereadora do Rio.

 

Em São Paulo neste 14 de março acontecerá o ato Justiça para Marielle e Anderson, às 18h na praça Roosevelt. Em Campinas, um protesto ocorrerá no Largo do Rosário, a partir das 17h30. No Rio, o Instituto Marielle Franco, fundado pela família da vereadora, promove o Festival Justiça por Marielle e Anderson a partir das 17h na Praça Mauá.

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