Convocado com pouca antecedência, nem por isso o ato pelo “Fora Bolsonaro” do último sábado, 3 de julho, deixou de reunir uma multidão na Avenida Paulista, a exemplo do que aconteceu em mais de 300 cidades pelo país e em 16 países. O pouco tempo de preparação não impediu que o protesto tomasse todas as faixas da Avenida, ao longo de sete quarteirões, com vários carros de som, bandeiras, balões, cartazes, adesivos, megafones e um sentimento comum de urgência do impeachment.
Também não faltaram máscaras, protetores de rosto (face shield) e álcool gel, como os que foram distribuídos pelo Sintrajud na tenda montada em frente ao Fórum Pedro Lessa. O Sindicato levou ainda cartazes, adesivos e panfletos, material que foi muito procurado pelos manifestantes, assim como os balões estampados com a #ForaBolsonaroeMourão. Além de membros da diretoria, que se revezavam nos discursos, compareceram servidores de todos os tribunais do Judiciário Federal em São Paulo.
As falas dos diretores enfatizaram não apenas a necessidade de afastar Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão, como também de derrotar a proposta de reforma administrativa (PEC 32/2020), conhecida como a “PEC das rachadinhas”.
“Não dá para esperar até as eleições para tirar o governo Bolsonaro”, sentenciou o servidor do TRE Marcos Pereira. “O risco de vir aqui acaba sendo menor do que o risco de suportá-lo por mais um ano e meio”, acrescentou.
“Quem está aqui, veio porque não aguenta mais a boçalidade do presidente. Eu vim me posicionar com a população contra um governo fascista”, disse Jefferson Cabral, servidor aposentado, também do TRE.
Os organizadores do ato – centrais sindicais, sindicatos, movimentos populares e estudantis, entre outros – marcaram a concentração na Paulista para as 16 horas. No início da noite, caminharam até próximo à Praça Roosevelt, no centro da cidade, como foi feito nas duas manifestações anteriores, em 29 de maio e 19 de junho.
“As pessoas estão na rua enfrentando o vírus porque esse governo é mais mortal do que o vírus”, discursou o diretor do Sintrajud Fabiano dos Santos. “Não podemos esperar 2022, a luta é agora! Não vamos aceitar que [o governo Bolsonaro] continue nos atacando e retirando nossos direitos.”
Novas manifestações estão marcadas para 24 de julho.
A servidora do TRF-3 Luciana Carneiro, também diretora do Sindicato, destacou as centenas de milhares de mortes evitáveis durante a pandemia e as denúncias de corrupção na compra de vacinas, que na Paulista valeram ao governo o título de “corrupcida”.
“Não aceitamos mais que esse governo negocie nossas vidas. Mais de meio milhão de mortos e esse genocida continua a serviço de uma política de saúde negacionista”, disse Luciana.
Para o servidor do TRF-3 Dalmo Duarte, chegou o momento de a população ir às ruas, apesar de a pandemia ainda não ter sido controlada. “Precisamos radicalizar a luta”, declarou. “É fundamental ir para a rua, tomando os cuidados necessários e se protegendo.”
Dalmo considera que a mobilização deve ir além e não depender das negociações entre os políticos. “Precisamos aproveitar toda essa movimentação para construir uma greve geral, porque é o único jeito de não ficarem negociando por cima. Não podemos confiar em CPI, deputados e senadores se articulam por cima e deixam o povo fora”, apontou.
A necessidade de construção de uma greve geral é uma deliberação de assembleias da categoria que vem sendo levada pela direção do Sintrajud nos diálogos com as entidades que integram os espaços unitários, como a Frente Sindical Classista da Baixada Santista, o Fórum dos Trabalhadores do Setor Público no Estado de São Paulo, a Frente Paulista em Defesa dos Serviços Públicos, o Fonasefe (Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos) e a Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público. Nesses espaços também vem sendo debatida a necessidade de construir paralisações nacionais do funcionalismo público.
Os servidores que compareceram ao protesto denunciaram a tentativa do governo de destruir serviços públicos e eliminar direitos da população. “É nosso papel trazer a pauta da ‘reforma’ administrativa, aos poucos a população começa a compreender o que é essa reforma”, disse o diretor do Sintrajud Henrique Sales.
Ele também destacou o papel das redes sociais na mobilização, tanto pelo impeachment como pela rejeição da “reforma”. “Nos outros atos teve muita gente na rua e o trabalho nas redes sociais também foi muito importante”, afirmou.
“Quem não pode ir para a rua, pode ajudar participando dos tuitaços, ajudando a subir as hashtags que são postadas pelas organizações e entidades contra esse governo, a PEC 32 e o desmonte do serviço público”, concordou o servidor da Receita Federal Douglas Alexandro, membro da diretoria do Sindireceita em São Paulo. Toda segunda-feira, às 19 horas, a Frente Parlamentar, que o Sintrajud integra como entidade apoiadora, tem convocado tuitaços contra a PEC 32.