Plenária da Fenajufe discute combate ao machismo, ao racismo, à LGBTfobia e ao capacitismo


24/11/2023 - Luciana Araujo
Assédio moral e sexual, discriminações e o papel do Judiciário na legitimação de violências foram temas do debate.

Fotos: Gero Rodrigues.

O segundo dia de debates da 23ª Plenária Nacional da Fenajufe, que acontece até 26 de novembro na capital paraense, foi encerrado com um painel sobre o combate às opressões, que não deixou de apontar que no movimento sindical e na Fenajufe a reprodução das práticas discriminatórias é comum. O 10º Congresso da entidade foi palco de episódios que levantaram e uniram todas as mulheres, independente do posicionamento político (saiba mais aqui).

Mara Weber, servidora do PJU no Rio Grande do Sul, frisou que “o trabalho não remunerado das mulheres sustenta a manutenção e a reprodução do trabalho”.

Também participou da mesa Rosana Fernandes, dirigente química e militante do movimento feminista, integrante da Secretaria Nacional de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT). A título de exemplo de como o racismo diferencia o tratamento e impacto social de violações praticadas contra mulheres brancas e mulheres negras, a sindicalista lembrou os episódios de violência doméstica vividos na mesma semana pela influencer Patrícia Ramos e a apresentadora Ana Hickmann, cuja divulgação foi absolutamente desproporcional em detrimento de Patrícia.

Rosana ainda falou dos dados do último relatório do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócioeconômicos (DIEESE) sobre o mercado de trabalho e a discriminação racial. Entre outros destaques, o estudo aponta que “embora representem 56,1% da população em idade de trabalhar, os negros ocupavam apenas 33,7% dos cargos de direção e gerência” no segundo trimestre deste ano. “Um em cada 48 trabalhadores negros ocupa função de gerência, enquanto entre os homens não negros, a proporção é de um para 18 trabalhadores”. Já entre os desocupados no mesmo período, 65,1% eram negros.

Jailson da Silva Lage, dirigente do Sindjufe-BA negro e homossexual, destacou a interseção entre racismo e discriminação contra heterodivergentes. “O capitalismo não tem interesse de mudar essa realidade. As opressões, o racismo, o machismo, enquanto houver capitalismo vão continuar, porque eles lucram mais ainda”, destacou.

Deficiente visual, Ricardo de Azevedo Soares, analista judiciário do Rio de Janeiro e dirigente do Sisejufe, falou sobre a instituição do Núcleo de Pessoas Com Deficiência na entidade e a importância da organização para que o debate passasse a ser realizado com efetividade no âmbito da Fenajufe e suas entidades filiadas.

O servidor também falou sobre a necessidade de enfrentar o capacitismo — forma discriminatória de tratamento a pessoas com deficiências ou condições de vida “não típicas”, como autismo, síndrome de Down, doenças raras ou algum transtorno psíquico — que desumaniza e nega direitos. O capacitismo se dá pela desconsideração ou exotificação de habilidades, infantilização ou invisibilização. “Eu não quero ser coitado e nem quero ser super-herói”, ressaltou.

O Sintrajud tem realizado uma intensa campanha contra a prática, exigindo a responsabilização do juiz-auxiliar da presidência do TRF-3, Paulo Arena Filho, que pediu a disponibilidade de um servidor com deficiência auditiva que buscou exercer o direito ao teletrabalho sem aumento das metas de produtividade.

Gabriel Van, integrante da Liga Transmasculina Carioca João Nery e convidado à plenária, falou sobre a vivência da transgeneridade e racismo no país com a mais alta taxa de assassinatos de pessoas trans no mundo.

Ex-dirigente da Fenajufe e do Sindicato da categoria no Piauí, Maria Madalena Nunes — que integra o Coletivo Luta Fenajufe — encerrou as apresentações no debate falando sobre as violências contra mulheres cis e transgêneras. Ela destacou que “o racismo e o machismo são os principais pilares do capitalismo” e denunciou o papel do Judiciário na legitimação das violências de gênero. A servidora criticou ainda o fato de que o Conselho Nacional de Justiça vem instituindo diversas medidas declaradas como de enfrentamento ao machismo, ao assédio e às discriminações, mas não efetiva uma política que realmente traga resultados.

“O Judiciário descaracteriza feminicídios, liberta feminicidas”, frisou, lembrando também de escândalos como o do juiz trabalhista substituto do TRT-2 Marcos Scalercio, condenado pelo CNJ à aposentadoria compulsória após o arquivamento de denúncias pelo Regional ter deflagrado um movimento que levou à descoberta de mais de cem vítimas do magistrado, entre servidoras, advogadas, estudantes de cursos preparatórios para concursos onde lecionava.

O painel foi encerrado com uma intervenção promovida por mulheres denunciando experiências corriqueiras de misoginia e reafirmação da potência feminina ao som de “Triste, louca ou má”, da banda Francisco El Hombre. Elas também denunciaram o racismo ao som de “A carne”, de Elza Soares.

Assista abaixo à transmissão do painel:

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