Pesar: Servidores lamentam mortes de três colegas do TRT-2 em uma semana


01/09/2020 - Luciana Araujo
Direção do Sindicato presta condolências às famílias e amigos de Divino, Rafael e Ricardo.

Em um período que já é de muita tristeza, os servidores do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região enfrentaram uma semana ainda mais difícil no final de agosto, com a perda de três colegas num intervalo de oito dias. Nenhum dos trabalhadores que o Sintrajud homenageia nesta matéria foi vítima do novo coronavírus, mas se já é difícil lidar com a morte em períodos tidos como normais, as dificuldades impostas pela necessidade das regras de segurança sanitária tornam ainda mais penosas as perdas em meio a uma pandemia.

Por isso, a diretoria do Sindicato reafirma os pêsames e solidariedade às famílias e amigos, e publicamos este texto como forma de homenagem póstuma aos servidores que partiram. As informações sobre os óbitos chegaram à  entidade na quinta-feira passada, mas optamos por só fazer a publicação após obter autorização das famílias.

“Registramos nosso pesar e nossa solidariedade às famílias, amigos e colegas, cujo sofrimento já inestimável é acrescido dos impactos do distanciamento e dos agravos à saúde física e psíquica potencializados pelas condições de trabalho e de vida a que estamos submetidos”, afirma o servidor do TRT-2 e dirigente do Sindicato Tarcisio Ferreira.

Rafael Zorzi, presente!

Rafael e Maria Luiza (arquivo pessoal).

Com apenas 37 anos, Rafael Evandro de Lima Zorzi (foto) foi vítima de um infarto no dia 19. Servidor do TRT-2 há 10 anos, antes de sua morte estava lotado na 46ª Vara, no Fórum Trabalhista Ruy Barbosa.

A viúva, Maria Luiza de Oliveira Silveira Zorzi, também é servidora do Regional, atuando na 5ª Vara do Fórum da Zona Leste da Capital. “Nós nos conhecemos na Faculdade. Éramos da mesma turma, mas só fomos nós conhecer na aula de Latim Jurídico”, conta Maria Luiza.

“Eu já o encontrei desacordado. O SAMU veio, mas não conseguiram trazê-lo de volta. Ele tinha acabado de fazer a nossa filha dormir. Morreu no dia 19 e nossa filha, Clarice, fez um ano no dia 22”, relata.

Formado em Direito pela Universidade de São Paulo, Rafael era integrante da associação de ex-alunos das Arcadas (turma 176). Sua monografia, sobre a natureza dos direitos antidumping, integra o livro Sistema Tributário, Legalidade e Direito Comparado: entre forma e substância organizado pelo jurista e docente daquela instituição Heleno Taveira Tôrres e publicado em 2010 pela Editora Fórum.

Ricardo Soares, presente!

Ricardo (arquivo pessoal).

No dia 26, Ricardo Soares Ferreira (foto) foi vítima de atropelamento. Aos 71 anos, completados em 12 de abril, o servidor estava lotado na 38ª Vara Trabalhista, também no Fórum Ruy Barbosa.

Seu filho, Márcio, conta que o servidor, diabético e com pressão alta, sofreu uma queda quando ia à farmácia. O acidente fatal aconteceu logo em seguida.

Ricardinho, como era conhecido, deixa viúva, um casal de filhos e três netos. “Ele já era uma pessoa de bastante idade e tinha dificuldade de se adaptar especialmente a esse período de digitalização dos processos, até que ele se encontrou ao chegar à 38ª Vara. Dou muito destaque à diretora da Vara, a Adriana, que teve paciência com ele, e ao conjunto dos colegas, pessoas boas, que o aceitaram e acolheram. Ele foi muito feliz no final da vida, falava muito bem dos colegas, se sentia muito valorizado”, conta Márcio.

Ouvida pela reportagem, Adriana Rodrigues, falou do colega com o mesmo carinho. “A primeira vez que vi o senhor Ricardo foi numa das edições do Curso de Conciliadores. Ali fiquei sabendo que ele era Engenheiro da Poli[a Escola Politécnica da USP], como orgulhosamente fazia parte de sua apresentação”, conta.

O servidor chegou à 38ª Vara Trabalhista em fevereiro de 2017.

“Quando os colegas do sindicato passavam para fazer algum informe sempre demoravam um pouco mais na nossa vara, tirando as dúvidas do senhor Ricardo. Ele gostava de participar dos cafés da manhã do SINTRAJUD e das manifestações”, lembra Adriana.

“Ele acreditava em mim! Aprendi muito com o senhor Ricardo. Como essa inteligência não poderia ser aplicada no TRT? Ele não entendia isso. Quando ele passou a ter serviço, se sentiu valorizado, reconhecido. Deixou de ter o receio de uma nova movimentação. Ele era alegre! Quando chegava o horário de ir embora, se movimentava para sair mas até chegar à saída do prédio, ia parando pelo caminho para conversar com os colegas. Sempre fazia as pessoas darem risada”, afirma a chefe que soube também ser aprendiz e assim combater na prática uma cultura organizacional que ao invés de motivar as pessoas coloca-as para baixo.

José Divino, presente!

Divino com a filha Kelly e esposa (arquivo pessoal).

Vitimado por um câncer na laringe, José Divino Alves faleceu no dia 27 de agosto, deixando viúva a esposa, Edite, e uma enteada, Kelly. O servidor trabalhava na recepção da portaria do Edifício Millenium, onde funciona a Unidade Administrativa 1 do Regional.

Neste ano, Divino completaria 36 anos de serviços prestados ao TRT-2. Ele deixa a viúva, Edite, duas enteadas e um filho também adotivo, de 16 anos.

“Ele se aposentaria no ano passado, e quando houve a última reforma previdenciária teve que pagar um pedágio porque não teria idade, ele completaria agora em 25 de novembro 60 anos. Na verdade teve que trabalhar um ano a mais do que o necessário. Ele era um ser humano muito gentil. Ele estava lá na recepção desde a época da Antônia de Queiroz, conheço ele desde aquela época. Recepcionava sempre muito bem a todos os colegas, aos juízes recém-empossados, sempre levava chocolates para nós. Era um amor de pessoa”, relata a colega Fátima Joanna de Paula Neto Pizzato.

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