Novembro negro: Seminário discute racismo no Brasil e no Judiciário


12/11/2018 - Shuellen Peixoto

Para marcar o Dia da Consciência Negra, a diretoria do Sintrajud promoveu o seminário‘A Situação dos Negros e Negras no Brasil’, na tarde do último sábado (10 de novembro). Com a presença de três especialistas no tema, os servidores debateram a formação do estado brasileiro e a luta histórica da população negra contra o racismo que ainda hoje impera na sociedade.

Os palestrantes destacaram que o racismo é um dos elementos estruturantes da sociedade brasileira, pela própria violência da colonização e da escravização no país. Mesmo com toda a propaganda de que não existe racismo no Brasil, ainda hoje, negros e negras seguem majoritariamente em postos de trabalho mais precarizados, com salários menores e sendo a maioria da população carcerária.

Márcio Farias

“O Estado se apóia na superexploração da população negra para se desenvolver. Quando se diz que a classe trabalhadora é negra tem um recorte, os terceirizados são negros, os concursados não são”, afirmou Márcio Farias, professor convidado do Celacc (Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação) da Escola de Comunicação e Artes da USP. Para o professor, mitos difundidos durante o período da escravidão, a exemplo da suposta força física superior, são usados ainda hoje para manter a superexploração dos negros e negras nos postos de trabalho mais precarizados, como limpeza e conservação.

William Meneses

Para William Meneses, bacharel em Direito e supervisor de publicações do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), há uma política de Estado que mantém o encarceramento em massa da população negra. Segundo dados do Sistema Integrado de Informações Penitenciárias, 64% da população no sistema penitenciário nacional são negros. “Tem uma ideologia, que foi construída historicamente, que é punitivista, e somos nós, negros das ‘quebradas’, que sentimos na pele”, afirmou William.

Jupiara Castro, fundadora do Núcleo de Consciência Negra na USP, falou sobre a experiência e a resistência do movimento negro desde a década de 1970, no combate ao racismo e em busca de políticas públicas. A palestrante também abordou os desafios que se colocam para os negros e negras diante do novo governo federal eleito. “Teremos grandes desafios, o projeto político do Bolsonaro tem endereço, e é para retirar direitos dos negros e negras, e de toda população pobre, mas nós seguiremos resistindo”, disse.

Jupiara Castro

“Em 2015 fizemos a grande Marcha das Mulheres Negras, estávamos nos enfrentando com a política gestada nos estados e exigimos do Estado Brasileiro que assumisse o papel de proteção aos nossos jovens, com o objetivo de parar o genocídio dos nossos jovens”, destacou Jupiara. “O que queremos do Judiciário é que seja dado aos jovens negros o mínimo direito de defesa, porque o Estado vê o jovem negro como bandido e a polícia atira sem perguntar. Se um jovem branco de classe média for pego com cinco papelotes de cocaína será enquadrado como usuário, se meu sobrinho for pego com um papelote será jogado na cadeia por tráfico, é disso que estamos falando”, finalizou.

Luciana Carneiro

Na opinião de Luciana Carneiro, diretora do Sintrajud e servidora do TRF, atividades como o seminário são um importante momento de interação e desenvolvimento para os servidores. “Sabemos que o governo Bolsonaro pode nos reservar surpresas muito ruins, é um momento difícil. Mas espaços como estes fazem com que tenhamos força e sensibilidade para segurar a mão de quem está ao nosso lado e luta, e que a gente não perca nunca a capacidade de se indignar”, afirmou Luciana.

O  Movimento Negro Unificado (MNU) também esteve presente no seminário e fez uma saudação, relembrando o aniversário de 40 anos da organização.

Além do debate, a atividade contou com a exposição de telas do trabalhador terceirizado Lucas Rodrigues (Maloca). As pinturas foram inspiradas em conquistas dos negros e negras na luta pela igualdade racial.

 

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