Poucos dias após completar o primeiro mês de gestão, a nova diretoria do Sintrajud foi recebida nesta terça-feira, 26 de setembro, pelo presidente do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, desembargador Paulo Sérgio Galizia.
Participaram da reunião representando o Sindicato os servidores da Justiça Eleitoral e dirigentes Ciro Manzano, Lutemberg Souza e Maurício Rezzani (aposentado), e o coordenador do departamento Jurídico, advogado César Lignelli. Pela administração, além do presidente, estiveram presentes a secretária da Presidência, Denise Lira de Campos, e o diretor-geral, Cláucio Abreu Corrêa.
Os representantes do Sindicato iniciaram a reunião reapresentando a demanda pela contratação de um plano de saúde pelo Tribunal, para efetivar o direito previsto na Lei 8.112/1990, que responsabiliza o poder público pela garantia de assistência em saúde aos servidores e servidoras. “O valor que hoje é pago [a título de auxílio-saúde] não possibilita ao servidor custear um plano de saúde”, destacou o coordenador-geral do Sintrajud Lutemberg Souza ao entregar ao presidente do Regional estudo elaborado pelo assessor econômico Washington Moura Lima.
De acordo com a análise da execução orçamentária realizada pelo economista, há viabilidade para incremento ao custeio da assistência médica e odontológica em ao menos 10% do valor per capita atual. Washington também destaca que em anos anteriores sobras orçamentárias não foram utilizadas pela Justiça Eleitoral, o que implicou perda de receita por imposição da Emenda Constitucional 95/2016.
Da rubrica “Outras Despesas Correntes”, onde estão alocados os gastos com benefícios sociais, foram gastos até 31 de agosto apenas 45,11% da dotação anual. Com essa realidade, o saldo verificado até o final do ano é de R$ 423,5 milhões, o que garantiria com razoável folga o reajuste do auxílio-saúde.
O Sindicato também demanda que sejam tomadas as providências cabíveis para viabilizar junto ao Tribunal Superior Eleitoral a remessa de recursos destinados à assistência em saúde para servidores e dependentes.
“Vamos examinar esse estudo. Também como servidor [público] a gente tem o interesse em que o benefício seja melhorado”, reconheceu o presidente do Regional.
“Esse plano ser contratado pelo Tribunal é importante porque se formos contratar no mercado temos uma relação muito mais frágil”, destacou Lutemberg. O dirigente lembrou ainda que embora a licitação realizada em 2021 pelo Tribunal tenha resultado deserta, cabe à administração buscar solução para o problema.
Os dirigentes do Sindicato também reafirmaram a importância da manifestação da presidência do TRE-SP favorável à antecipação da última parcela da recomposição salarial parcial conquistada com a Lei14.253/2023. No ofício encaminhado ao Supremo Tribunal Federal a pedido do Sindicato, o desembargador destacou o ambiente orçamentário propício.
Na reunião, Paulo Galizia ressaltou que a manifestação não significa quebra de hierarquia ou ingerência nas prerrogativas da presidência do STF.
Os dirigentes do Sintrajud ainda levaram ao presidente do TRE as preocupações dos servidores e servidoras com os gargalos de pessoal e regras injustas para a garantia da realização das eleições dos Conselhos Tutelares, asseguradas pela Justiça Eleitoral no próximo dia 1° de outubro em todo o país. Maior pleito depois das eleições formais para os poderes da República, as escolha de integrantes dos Conselhos Tutelares traz ansiedade aos trabalhadores pela falta de efetivo em quantidade necessária e risco iminente de mais um episódio de não pagamento de direitos.
“Em meu cartório mesmo não temos efetivo. Estou “tranquilo” de que a Secretaria de Gestão de Pessoas vai mandar alguém para cobrir a demanda” pontuou Lutemberg, com alguma ironia. “Mas os servidores que vão estar das 7h às 18h junto à seção eleitoral vão ter que arcar com custos de transporte, muitas vezes para localidades distantes de suas lotações, e alimentação, visto que será garantido somente um kit lanche. E em relação às horas extraordinárias a previsão é de que [mais uma vez] não sejam remuneradas, o que onera a todos os servidores, mas especificamente aos requisitados traz mais prejuízos”, destacou Lutemberg.
“Está previsto que as prefeituras arquem com as despesas de transporte, previsto em contrato. A segunda hipótese é fazer uma folha suplementar e fazer o pagamento e depois cobrar às prefeituras”, afirmou o diretor-geral. O que Cláucio não detalhou é que esta realidade se aplica à capital, e não à maioria dos cartórios localizados nos outros municípios do estado.
“No interior a realidade é muito diferente da capital. Na minha região a prefeitura paga o aluguel, e até muito recentemente pagava a energia elétrica e, até mais recentemente ainda, a limpeza. Jamais eu poderia cobrar qualquer coisa da prefeitura. Há cartórios com dois funcionários e dois municípios para atender”, ressaltou Ciro.
Sobre esse tema Cláucio afirmou que nenhum cartório deixará de ser atendido, e queixou-se de que “muitas vezes há uma ansiedade, um desespero, uma falta de confiança” dos servidores.
O diretor-geral falou ainda sobre o projeto institucional de assegurar “autonomia” aos cartórios, com o Tribunal assumindo paulatinamente a responsabilidade pelos aluguéis dos espaços ocupados pelos cartórios.
O presidente também discorreu sobre o plano que o Tribunal qualifica como projeto de autonomia.
A diretoria do Sindicato alerta para o fato de que o projeto de responsabilização do TRE pelos cartórios é de longo prazo, e que a autonomia efetiva não estará assegurada enquanto os municípios continuarem responsáveis por outras despesas de manutenção e cessão de pessoal em número que descontinuado compromete o funcionamento da Justiça Eleitoral.
Os dirigentes do Sindicato ressaltaram ainda que a insegurança da categoria é fruto do ambiente organizacional, onde impera uma cultura que é preciso atacar, de gestores que têm enraizada a concepção de que a Secretaria e os cartórios seriam órgãos apartados e hierarquizados do ponto de vista da importância. É essa realidade “que acaba por estimular angústias, ansiedade, acirramento de ânimos”, frisou Lutemberg. “Há um ambiente propicio ao assédio moral”, afirmou o dirigente, destacando que ainda que haja preocupação da administração é preciso permanente ação para desfazer essa lógica.
Ciro Manzano, que está assumindo a representação do Sintrajud na Comissão de Enfrentamento ao Assédio do Regional, ressaltou ainda que é preciso que a Diretoria-Geral se disponha a dialogar sobre a realidade específica dos cartórios do interior do estado. Cláucio comprometeu-se a receber a entidade para tratar mais detidamente sobre os problemas para a garantia do atendimento à sociedade na ponta.
A diretoria demandará que essa segunda reunião aconteça o mais brevemente possível.
Embora esteja em final de gestão, o desembargador Galizia fez questão de ressaltar que até o final de seu mandato “o diálogo estará sempre aberto”.