Nota de pesar às famílias e vítimas da tragédia em Suzano


18/03/2019 - Luciana Araujo

Foto disponibilizada no Facebook da escola.

Frente à tragédia que matou 10 pessoas na cidade de Suzano, na região Metropolitana de São Paulo, e feriu outras 11, no último dia 13 de março, a direção do Sindicato emitiu nota de condolências. Leia a íntegra abaixo.

A diretoria do Sintrajud manifesta profundo pesar e solidariedade às vítimas da tragédia de Suzano e, especialmente, a todas as mães – em sua maioria mulheres negras trabalhadoras e pobres – que hoje choram a morte dos seus filhos. Prestamos nossas condolências também aos 11 feridos no episódio e seus familiares. As cenas repetidas à exaustão por veículos de mídia desde pouco depois do tiroteio causam em todos nós profunda consternação.

Mas consideramos importante ressaltar também que o massacre que ganhou o mundo na manhã daquela quarta-feira (13 de março) acendeu vários alertas sociais que precisam ser debatidos.

Os dois jovens que mataram sete pessoas na escola na região do Alto Tietê, além do tio de um deles, e se mataram em seguida, vêm tendo suas histórias de vida tardiamente observadas e esmiuçadas. As informações até o momento publicadas evidenciam que os autores são produto de um esgarçamento do tecido social, para o qual se não nos atentarmos teremos que conviver com novos e mais recorrentes episódios trágicos como o da Escola Estadual Professor Raul Brasil.

Na tarde do dia seguinte (14), um jovem de 17 anos esfaqueou um colega dentro de outra escola estadual – o Ciep Brigadeiro Sergio Carvalho, no bairro de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. À noite, na mesma data, estudantes, funcionários e professores de outra escola estadual, na cidade de Nova Lima (Grande Belo Horizonte/MG), viveram momentos de terror quando um aluno de 20 anos chegou atirando para o alto na porta do estabelecimento educacional. Detido, o jovem afirmou que a intenção era “assustar” colegas que teriam “espalhado o boato” de que o autor dos disparos manteria um relacionamento homoafetivo às escondidas.

A falta de perspectivas e condições de educação formal dignas e de qualidade, a sociabilidade precarizada, laços familiares rompidos ou desestruturados como subproduto da repetição geracional das mazelas do país em meio ao avanço do neoliberalismo, o desemprego e subemprego, a vida numa sociedade de consumo espetacularizada pelas mídias sociais, são apenas alguns temas que precisam ser trazidos para a análise deste episódio.

No entanto, é necessário não desconhecer o recrudescimento de um ideário de defesa da violência como solução para os problemas, e de uma masculinidade tóxica que nutre ódio por mulheres, negros e homossexuais. Figuras públicas e lideranças políticas vêm cultivando esse “estilo” num país de histórico patriarcalismo racista na condução da Nação, e isso tem consequências gravíssimas, como temos assistido.

Junto a tudo isso é preciso não fechar os olhos ao debate do armamentismo. Nesse sentido, o Decreto 9.685/2019, que autoriza a posse de até quatro armas de fogo por pessoa no Brasil desde que não tenham antecedentes criminais e sejam residentes em áreas rurais ou com taxa anual de homicídios superior a 10/100 mil habitantes é um desastre contra o qual é imprescindível nossa manifestação. Para entendermos o problema, os autores de todos os casos relatados acima poderiam ter acesso à posse legal de armas de acordo com o decreto. Além da indústria de armas, essa política só serve à multiplicação da violência letal num país que já lidera o ranking de mortes por arma de fogo no mundo.

As mulheres estarão também ainda mais expostas à violência ora patrocinada pelo Estado brasileiro. Somente neste ano já foram registrados mais de 130 casos de feminicídio no Brasil. Em 2016, de acordo com dados do DataSUS divulgados pelo Instituto Sou da Paz, metade (2.339) dos homicídios de mulheres foram cometidos com arma de fogo. Desse total, 560 vítimas foram mortas dentro de casa.

A liberação de mais armas numa sociedade como esta é o caminho mais curto para o retorno à Lei de Talião. Em pouco tempo estaremos todos cegos e banguelas caso não reflitamos de maneira adulta e desapaixonada.

Obviamente é compreensível a sensação de medo com a qual se convive nas cidades hoje. No entanto, é preciso refletir que ela também é cultivada por uma mídia sensacionalista, sobre o terreno fértil da violência em proporções alarmantes e inaceitáveis e políticas de segurança inócuas que só promovem mais violências e violações de direitos.

A grande heroína da escola Raul Brasil, a merendeira Silmara Morais, salvou 50 alunos com uma “barricada” utilizando um freezer e uma porta. Como a professora Helley de Abreu Batista, que em outubro de 2017 morreu ao entrar em luta corporal contra o vigia que havia ateado fogo em uma creche lotada de crianças no município de Janaúba, em Minas Gerais. Helley deu a própria vida para salvar 25 crianças.

O que precisamos para enfrentar a violência não é de mais violência, mas de serenidade, políticas públicas efetivas, fim das desigualdades e responsabilização governamental. Aqui cabe também um repúdio à tentativa do governador João Doria de impor às famílias vitimadas em Suzano o valor de R$ 100 mil à vida das crianças e trabalhadoras mortas – condicionando antecipar uma reparação financeira às famílias à proibição de ações judiciais. Tal postura, além de desumana, é ilegal. O Estado não pode mitigar o acesso das pessoas à justiça. Não podemos calar também diante dessa postura.

Diretoria executiva do Sintrajud

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