Nos três anos da morte de Marielle, plataforma digital cobra respostas sobre o crime


15/03/2021 - Luciana Araujo
Dossiê traz a cronologia dos fatos, perguntas até hoje não respondidas e a cobrança por empenho do Estado brasileiro para chegar ao mandante; em diversas cidades do Brasil protestos visuais questionaram "Quem mandou matar Marielle?".

Neste domingo (14 de março) o país completaram-se três anos da execução a tiros da vereadora Marielle Franco e do motorista que conduzia o carro da parlamentar, Anderson Gomes. A família, por meio do instituto que carrega o nome de Marielle, lançou um dossiê digital que traz a cronologia dos fatos desde o dia do assassinato e as principais questões sobre o caso ainda sem respostas.

Em virtude da pandemia, não foi possível a realização de grandes atos de rua, mas em 15 capitais brasileiras foram realizadas projeções em prédios simbólicos cobrando justiça e que seja desvendada a motivação do feminicídio político que tirou a vida também do motorista Anderson.

No dia 10, o Coletivo de Mulheres do Sintrajud – Mara Helena dos Reis realizou uma roda de conversa (foto) com exibição do documentário “Sementes: Mulheres Pretas no Poder”, que conta como o assassinato impactou na eleição de parlamentares negras em todo o país e como a luta em defesa dos direitos humanos que foi parte da vida de Marielle segue, por meio das proposições e perfil de mandatos das mulheres negras que se sentiram convocadas a assumir a atuação política que o homicídio da vereadora carioca buscou inviabilizar.

A servidora da Justiça Federal em Bauru e diretora de base do Sindicato produziu um vídeo-manifesto em homenagem à vereadora, que pode ser assistido clicando aqui.

Mudanças e insegurança

Em entrevista à reportagem do Sintrajud no último dia 5, Marinete Franco, mãe da vereadora, falou sobre a angústia vivida pela família após mais de mil dias sem solução para o caso. “Esse processo deixa muita preocupação ainda. É um processo grande, emblemático, que traz muita insegurança, embora tenhamos confiança nas mulheres que estão assumindo novamente caso [no Ministério Público do Rio de Janeiro]”, afirmou Marinete.

Após reestruturação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, determinada pelo novo procurador-geral do Estado, Luciano Mattos, no início deste ano, as promotoras Simone Sibilio e Letícia Emile tinham deixado a coordenação do Gaeco. O jornal ‘O Globo’ chegou a noticiar que haveria redução da equipe que trabalha no caso, o que teria levado Simone não aceitar seguir na coordenação do Grupo. As promotoras reassumiram a condução das investigações no dia 4 deste mês, como coordenadoras de uma força-tarefa específica para desvendar o crime.

As mudanças de estrutura de funcionamento e equipes responsáveis pelo caso foram por diversas vezes criticadas pela família. A Delegacia de Homicídios da capital fluminense também já teve o comando alterado por três vezes desde o início do inquérito que apura as mortes de Marielle e Anderson.

Contrários à  federalização do processo, os familiares de Marielle cobram ações coordenadas em nível federal para colaborar com o trabalho da Polícia Civil e do MPRJ na elucidação do caso.

A família também critica a postura de meios de comunicação como a Google, que não prestou ainda informações pedidas pela promotoria. “A gente precisa saber quem acionou as redes da Marielle naquele período e ainda não conseguimos isso”, apontou Marinete.

Até hoje, as diversas investigações derivadas da apuração dos assassinatos de Marielle e Anderson resultaram em 65 prisões, dentre as quais as dos acusados como executores, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz. Mas ainda não se sabe quem mandou matar Marielle e porquê, quem determinou o desligamento das câmeras de segurança no trajeto percorrido pela vereadora na noite de sua morte, por quê a Google ainda não entregou os dados solicitados pelo MP e a Polícia Civil. Essas e outras questões são destacadas no dossiê do Instituto Marielle Franco, numa tentativa de retomar a mobilização por justiça para além do dia 14 de março.

Instituições no mundo inteiro já questionaram o Brasil sobre a morosidade na solução para o caso, como a Anistia Internacional, o Parlamento Europeu e o Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Mas o país segue devendo explicações para o crime político de maior repercussão desde a redemocratização.

No último dia 3, o Superior Tribunal de Justiça extinguiu a queixa-crime movida pela família de Marielle contra a desembargadora do TJRJ Marília Castro Neves. Dois dias após os assassinatos, Marília postou em redes sociais que a vereadora teria envolvimento criminal e teria sido morta por essa razão. O STJ considerou que a retratação publicada pela magistrada em sua página no Facebook às vesperas do julgamento e uma indenização no valor de R$ 30 mil seriam suficientes para extinguir  a punibilidade da acusada.

Marinete destacou que a desembargadora tem histórico de ofender pessoas. “Tive a oportunidade de estar frente a frente com a desembargadora Marília, e para mim é muito triste. Ela fez uma retratação fora do prazo, que pouca gente viu, e nunca me pediu desculpas. É uma mulher que já vem de um processo de falar mal de pessoas. Ela tem um histórico”, disse.

No Conselho Nacional de Justiça tramitam três reclamações disciplinares e um pedido de providências contra o comportamento de Marília Castro Neves nas redes. A magistrada já atacou o próprio CNJ, afirmando que o Conselho impediria o bom trabalho dos juízes e que políticos corruptos indicam membros ao colegiado para terem garantia de proteção.

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