Lançamento e aula do professor Ricardo Antunes lotam ciclo sobre teletrabalho no Sindicato


02/09/2022 - Shuellen Peixoto
Primeiro encontro aconteceu nesta quinta-feira, dia 1º; Ainda é possível se inscrever no ciclo que terá com palestras todas as quintas-feiras de setembro.

Foto: Gero Rodrigues

As mudanças no mundo do trabalho, efeitos e consequências do avanço do home office foram temas debatidos no primeiro encontro do Ciclo de Debates Teletrabalho, metas e direitos: os impactos no serviço público, que aconteceu na noite desta quinta-feira, 1º de setembro, no auditório do Sintrajud. O primeiro palestrante foi o sociólogo Ricardo Antunes, professor titular de Sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, autor de mais de 30 livros sobre as relações laborais no Brasil e no mundo, e coordenador do projeto iniciado pelo Sindicato.

Ante do início da atividade, aconteceu uma sessão de autógrafos e lançamento do novo livro de Antunes, “Capitalismo pandêmico”, editado em 2022 pela Boitempo Editorial.

Durante a palestra, o professor da Unicamp fez um histórico sobre o desenvolvimento das relações de trabalho, desde o início da crise estrutural do sistema capitalista, nos anos 70, e o avanço do mundo digital em um contexto de aumento de desemprego e expansão do exército de reserva no mundo.  “Essa explosão digital, junto com uma crise profunda do capitalismo que foi comandada pela forma ideológica mais regressiva desde o fascismo, o neoliberalismo, faz surgir o capitalismo de plataforma e empresas como a Uber, com trabalhadores sem qualquer vínculo ou direito”, afirmou Antunes.

Este processo também atinge o serviço público, segundo o professor. “O neoliberalismo supõe que o serviço público tem que ser mercadoria, tudo que for possível de gerar lucro tem que ser privatizado, o que não gera lucro ou não é relevante para o aparato do Estado é extinto”, destaca o sociólogo.

Antunes destacou ainda que a pandemia aprofundou o processo de ‘uberização’ no mundo do trabalho, tornando mais precarizadas as relações de trabalho e abrindo espaço para retirada de direitos. “Não foi a pandemia que criou este horror que estamos vivendo hoje, a pandemia nos mostrou, desnudou e exasperou, fez com que os capitalistas tivessem a oportunidade de aplicar o ‘agora vale tudo’. A pandemia criou laboratórios de experimentação de formas alternativas de trabalho e uma delas é o chamado teletrabalho e/ou home office”, disse o professor.

Foto: Gero Rodrigues

Ainda durante a atividade, o diretor do Sintrajud Fabiano dos Santos, lembrou que este processo também vem acontecendo no Judiciário Federal há alguns anos, mesmo antes da pandemia de coronavírus. “É importante perceber como isso tende a chegar no serviço público, no Judiciário Federal observamos a criação dos Centros de Processamento Eletrônico e as e-varas, que são as varas eletrônicas, a CPE — onde é produzido processamento de feitos para qualquer vara. Para aplicar isso, eles pegaram uma parte das estruturas que eram das varas e colocaram neste sistema eletrônico, e já alertávamos quando ainda estava em discussão como este processo, da forma como foi feito, era uma preparação para ter extinção de cargos e precarização para a categoria”, relembrou o dirigente.

Teletrabalho

Sobre home office e teletrabalho, o professor destacou que é necessário que os servidores do Judiciário aprofundem os debates, tendo conhecimento do que é essa nova forma de trabalho e pensando maneiras de manter a organização sindical e dos trabalhadores. “Muitas pessoas que entrevistei falaram sobre as vantagens do teletrabalho, mas há aspectos desvantajosos como a invisibilização, porque trabalhando de casa o trabalho coletivo e a sociabilização desaparecem”, afirmou Antunes. “Se não temos mais uma vida coletiva, o patrão ou Estado, no setor público, tem mais facilidade para retirar direitos. Além disso, no caso das mulheres, o trabalho triplicou, porque o trabalho de fora, da produção, foi trazido para a esfera da reprodução”, destacou o professor.

Fabiano dos Santos, um dos mediadores da palestra, ressaltou que um dos objetivos da construção do Ciclo de Debates Teletrabalho, metas e direitos: os impactos no serviço público foi a avaliação da necessidade de debater de forma mais aprofundada os impactos do teletrabalho e das novas tecnologias no dia-a-dia do serviço público. “A ideia deste seminário surgiu por conta do avanço do teletrabalho em nossa categoria e a necessária resposta à insensibilidade das administrações, que ignoraram as adequações que muitos trabalhadores fizeram nas suas vidas e a determinaram de forma intransigente de retorno presencial”, afirmou Fabiano. “O Sintrajud defendeu o retorno mais respeitoso, mas nos vimos diante da necessidade de fazer a discussão mais profunda do que representa essa mudança no mundo do trabalho”, destacou o dirigente.

Durante a atividade foi aberto espaço para os colegas que estavam participando presencialmente e de forma remota  fazerem algumas perguntas ao professor, respeitando o limite do tempo da palestra.

Veja a íntegra do primeiro dia do ciclo de debates aqui:

Próximos encontros do Ciclo

O Ciclo de Debates Teletrabalho, metas e direitos: os impactos no serviço público, será realizado presencialmente todas as quintas-feiras de setembro, das 19h30 às 22h, havendo também a possibilidade de participar pela internet. Na próxima quinta, 8 de setembro, acontecerá a mesa “Funcionalismo público, direitos do trabalho e teletrabalho”, com a participação das professoras Luci Praun, da UFAC, e Graça Druck, da UFBA.

Ainda é possível fazer inscrição para participar do ciclo (clicando aqui) e quem tiver participação em 75% das aulas receberá certificado que, no caso dos servidores e servidoras de todos os ramos do Judiciário Federal, poderá ser adicionado aos pedidos de adicional de qualificação.

O Sintrajud colocará à disposição transporte até a estação Luz do metrô para quem acompanhar as aulas no auditório do Sindicato, além de estacionamento para os que utilizarem carro próprio, na Av. Cásper Líbero, 101.

A atividade será realizada em parceria com diversas entidades. São elas: Fenajufe – Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da União; Fenasps – Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social; Andes – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior; Sindjufe/BA – Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal na Bahia; Sindjus/AL – Sindicato dos Servidores do Judiciário Federal em Alagoas; Sintrajufe/MA – Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal e MPU no Maranhão; Sitraemg – Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal no estado de Minas Gerais; Fórum dos Trabalhadores do Setor Público no Estado de São Paulo; Sindjesp – Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Estadual das Cidades de Caieiras e São Paulo; Sintrajus – Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos do Judiciário Estadual na Baixada Santista, Litoral e Vale do Ribeira do Estado de São Paulo; Assojubs – Associação de Base dos Trabalhadores do Judiciário do Estado de São Paulo; ExejeAoj – Associação dos Oficiais de Justiça do Oficio das Execuções Fiscais Estaduais; Sinsprev – Sindicato dos Servidores e Trabalhadores Públicos em Saúde, Previdência e Assistência Social no Estado de São Paulo; Sindsef/SP – Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal no Estado de São Paulo; Assibge/SP – Sindicato dos Trabalhadores em Fundações Públicas Federais de Geografia e Estatística (núcleo São Paulo); Sinasefe/SP – Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (núcleo São Paulo); Sindireceita – Sindicato Nacional dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil (regional São Paulo); SintUFABC – Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais do ABC; e Sintusp – Sindicato dos Trabalhadores da USP.

 

TALVEZ VOCÊ GOSTE TAMBÉM