As referências autoritárias e preventivas feitas pelo filho do clã Bolsonaro e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em retaliação a possíveis mobilizações, não vieram ao acaso. Primeiro, o filho do presidente da República, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), afirmou que se a “esquerda radicalizar” uma das respostas do governo poderia ser um novo AI-5, o ato institucional que, em 1968, iniciou o período mais sangrento da ditadura comandada pelos generais. Depois, foram na mesma toada Guedes e o próprio presidente.
As ameaças vieram em meio a rebeliões populares contra os ‘ajustes’ neoliberais na América Latina, em especial no Chile, após a aprovação da ‘reforma’ da Previdência e a apresentação de novos projetos e ‘reformas’ que eliminam mais direitos trabalhistas.
“Esse conjunto de reformas tem como objetivo o desmonte do Estado, a desorganização administrativa, a própria fragilização do serviço público, quebra de isonomia, priorização da dívida pública e das despesas financeiras, aprofundamento da rigidez do gasto público e uma forma de cooptação dos entes subnacionais em troca de migalhas”, disse o assessor parlamentar Antonio Augusto de Queiroz em debate na reunião da Fenajufe com os sindicatos, ocorrida em dezembro.
O ministro Paulo Guedes também reconheceu que o receio de mobilizações tomarem as ruas no Brasil contribuiu para que a tramitação dos projetos do chamado Plano ‘Mais Brasil’ e da ‘reforma administrativa’ ficasse para 2020.
Para enfrentar o pacote de medidas, servidores e servidoras do Judiciário Federal e do Ministério Público da União aprovaram um calendário nacional de mobilizações que aponta uma greve nacional em 18 de março. “Temos muitos desafios para a construção dessa mobilização, mas também avaliamos que a indicação da Fenajufe ajuda a criar um clima nacional”, avalia Fabiano dos Santos, diretor da Fenajufe e do Sintrajud.
As ameaças de uso da força para deter a possível reação revelam mais do que o perfil autoritário do governo: mostram que Bolsonaro e sua equipe sabem o quanto são impopulares as medidas. Sabem também que a mobilização pode barrá-las.