A necessidade de os trabalhadores se unirem contra o retorno precoce ao trabalho presencial e defender a vida contra o novo coronavírus foi discutida nesta quinta-feira, 16 de julho, pelos quatro servidores públicos que participaram da live transmitida pelo Sintrajud.
A diretora do Sindicato Inês Leal de Castro, servidora do TRT, apontou que a reabertura de atividades econômicas, contrariando a orientação dos especialistas e da OMS, já provocou uma explosão no número de casos de contaminação e na quantidade de óbitos. Ainda assim, disse Inês, o Poder Judiciário segue planejando a retomada do funcionamento dos fóruns e estabelecendo protocolos para que os servidores retornem às atividades presenciais. “Os protocolos seriam para o caso de haver uma queda no número de mortes, e mesmo nesse caso, os protocolos que temos visto são insuficientes e até inadequados”, afirmou.
Inês destacou o caso do TRE, que marcou para 27 de julho o início da retomada gradual das atividades presenciais, e que já vem mobilizando diversos servidores e trabalhadores terceirizados para a preparação das eleições municipais, adiadas para novembro. A Justiça Federal e o TRF também editaram portaria para a volta ao trabalho presencial nesse mesmo dia. Na quarta, 22, às 14 horas os servidores do Judiciário Federal em São Paulo fazem assembleia geral para discutir a mobilização da categoria contra essas medidas.
No Rio de Janeiro, os servidores do Tribunal de Justiça (que já iniciou uma retomada gradual do trabalho presencial) estão em greve sanitária. “Chegamos a um nível muito alto [de contaminações] e ficamos estabilizados no platô, por causa de uma política de flexibilização irresponsável”, disse a servidora do TJ-RJ Sílvia Cláudia, que participou da live do Sintrajud. Também nesta quinta, os servidores do TJ-RJ fizeram greve de 24 horas e uma nova assembleia. Antes, já haviam feito um ato com cruzes diante do fórum central do Tribunal.
Segundo Sílvia, os servidores estão preocupados com a próxima etapa da retomada, marcada também para o dia 27, quando os fóruns serão reabertos ao público. Antes de iniciar a volta do trabalho presencial, o TJ-RJ editou um ato estabelecendo várias medidas de segurança, como fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs) e medição de temperatura na entrada dos locais de trabalho. “Mas nada disso foi efetivado”, afirmou Sílvia. Os equipamentos fornecidos, por exemplo, não foram suficientes para atender os trabalhadores terceirizados e os estagiários.
Para o servidor do TRE-BA Jair Cunha, outro que participou da live, nenhum protocolo de segurança é capaz de proteger os servidores e a população enquanto a pandemia não estiver sob controle. “É preciso ter um ambiente em que a pandemia esteja em trajetória descendente; pelo menos duas semanas seguidas de queda”, afirmou.
Ele defendeu o adiamento das eleições municipais e a utilização dos recursos que seriam destinados ao pleito no combate à pandemia. “Essa ideia pode unir a classe trabalhadora”, declarou. Os servidores do TRE-BA também estão em greve sanitária.
A servidora do INSS Thaize Antunes, diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência no Estado de São Paulo (Sinsprev), conclamou os servidores públicos a se unirem contra a reabertura dos serviços. O INSS adiou três vezes a reabertura de suas agências, cujo fechamento só foi decidido após muita insistência dos servidores, disse Thaize. Com mais de 1.700 agências espalhadas pelo país, o órgão atende principalmente pessoas dos grupos de risco. Segundo Thaize, também há grande quantidade de pessoas dos grupos de risco entre os servidores.
“O presidente [do INSS] apresentou um protocolo que não foi assinado por nenhuma autoridade sanitária e não leva em conta fatores externos, como deslocamento no transporte público e número de leitos nos hospitais”, contou a servidora. “O governo tem meios para que as pessoas não sejam excluídas do acesso previdenciário, mesmo emergencialmente”, afirmou, ao defender que as agências permaneçam fechadas. “Já estamos em contato com o Congresso, para que essas pessoas não sejam excluídas”, acrescentou.
“Temos de lutar para que nenhum trabalhador volte a trabalhar [presencialmente] sem que se estabeleçam as condições seguras”, afirmou Inês. “Não é normal essa quantidade de pessoas que estão morrendo”, completou. Ela convocou os colegas do Judiciário Federal a participarem da assembleia geral do dia 22.