Especialistas discutem violência contra mulher em live do Sindicato


11/12/2020 - Shuellen Peixoto
Transmissão organizada pelo Coletivo de Mulheres aconteceu nesta quinta-feira, 10 de dezembro; e foi parte do ciclo de atividades dos “21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres”.

“A violência contra a mulher existe pela desigualdade entre gêneros, não são crimes passionais, praticados por homens que perdem o controle e incapazes de controlar sentimentos. Esses crimes resultam de uma cultura que menospreza e desqualifica a mulher, uma cultura machista“, foi assim que a psicóloga Fe Maidel explicou o que é a violência contra as mulheres e suas causas durante a live do Sintrajud que aconteceu nesta quinta-feira, 10 de dezembro.

A transmissão foi organizada pelo Coletivo de Mulheres do Sintrajud – Mara Helena dos Reis como parte das atividades para marcar os “21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres”. O período é reconhecido pela ONU como de mobilização internacional para erradicar esse tipo de violência.

“Hoje, dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, data em que todas as pessoas reivindicam ter seus direitos respeitados, por isso queremos trazer este debate para combater todas as formas de opressão, para que nós, mulheres, não sejamos agredidas ou assassinadas só por sermos mulheres”, afirmou Luciana Carneiro, diretora do Sintrajud e membro do Coletivo de Mulheres.

Com a presença da pesquisadora Thais Dutra, que é analista do Ministério Público de Minas Gerais; da defensora pública de São Paulo Nálida Coelho; e da psicóloga Fe Maidel, mulher trans e conselheira no Conselho Municipal de Políticas para Mulheres do município de São Paulo, a live tratou do combate ao machismo e enfrentamento a violência contra mulher no Brasil. O país ocupa o 5º lugar no ranking mundial de feminicídios.

No Brasil, em 2019, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada dois minutos uma mulher é agredida e a cada oito minutos acontece um estupro. Para Fe Maidel, os números demonstram a gravidade do tema, e a preocupação é que a pandemia aprofundou os casos de violência machista em todo mundo.

Em São Paulo os casos de feminicídio aumentaram 44% nos meses de março e abril de 2020, se comparado ao mesmo período de 2019.  “Os dados apontam que a maioria das mulheres que sofrem violência têm em comum o fato do agressor ser seu conhecido. Muitas vezes a violência ocorre dentro da sua própria casa, em consequência, durante a pandemia, quando as pessoas tiveram que ficar mais em casa houve o aumento dos casos”, afirmou a psicóloga. “Ou seja, milhares de mulheres convivem com a ameaça onde elas deveriam estar em segurança, sua própria casa, e o medo e a insegurança dificultam a denúncias”, destacou Fe Maidel.

Para Nálida Coelho, a Lei Maria da Penha é um avanço no combate à violência contra a mulher e uma conquista do movimento feminista, mas é preciso garantir maiores avanços no reconhecimento de mulheres como sujeitos de direitos, com medidas no Judiciário e Legislativo, além de ações afirmativas.

“A Lei Maria da Penha é um instrumento importante e cria mecanismos de proteção às mulheres, mas precisa avançar principalmente na proteção das mulheres negras, que ainda são 60% das vítimas de feminicídio e a maioria das vítimas de violência doméstica”, afirma a defensora.  “A mulher negra, como base da pirâmide social brasileira, não tem acesso a políticas públicas e nem a serviços que lhes garantam o fim do ciclo de violência. Até os territórios que  elas ocupam são, em sua maioria, criminalizados, onde elas encontram situação de violência também por parte do estado. Levar em consideração essas especificidades também é um desafio da Lei Maria da Penha”, ressaltou Nálida.

As palestrantes também destacaram o papel do Judiciário, que não acolhe as vítimas e contribui com o ciclo de violência. A pesquisa da Thais Dutra apontou resultados positivos em uma vara do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, na qual o juiz acolhia as vítimas e abria espaço para que elas só falassem na frente do seu agressor sobre o que estava passando se quisessem. “Percebemos que a postura do juiz, que dava voz a vítima e atacava o sentimento de superioridade do agressor, fazia a vítima sentir-se acolhida e protegida pelo estado, o resultado na maioria das vezes era o rompimento do ciclo de violência”, afirmou a pesquisadora.

Para as palestrantes, é fundamental aprofundar o debate sobre o tema para combater. “Precisamos divulgar o quanto são comuns esses crimes. O número de assassinatos de mulheres apenas porque são mulheres está crescendo e é importante que a gente intervenha para modificar essa situação”, concluiu Fe Maidel.

Luciana Carneiro relembrou que o Coletivo leva o nome de Mara Helena dos Reis, em homenagem à servidora da JF/São Bernardo do Campo que foi morta pelo homem com quem vivia, na noite de Natal de 2018. “Infelizmente, nem sempre a violência contra mulher é algo distante, pode acontecer com qualquer uma de nossas colegas, precisamos estar atentos para combater e denunciar”, finalizou Luciana.

Para encerrar o ciclo de atividades dos 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres, o Coletivo de Mulheres do Sindicato fará uma roda de conversa e acolhimento sobre machismo cotidiano, no dia 16 de dezembro. A integra da 56ª live do Sintrajud está disponível nas páginas do  YouTubeFacebook.

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